Diante dos atentados terroristas islâmicos que chocam o mundo civilizado, muitos acabam sucumbindo à tentação de se fechar, de defender medidas drásticas que poderiam minar a própria liberdade individual, grande conquista do mundo ocidental. Mas será que o caminho para combater esse mal é mesmo este? Ou será que a própria democracia liberal pode enfrentar o problema sem abrir mão de suas conquistas?
O professor português João Carlos Espada acredita que é a própria Sociedade Aberta que tem condições de derrotar o terrorismo. Mas, para tanto, será preciso colocá-la em prática efetivamente, o que não acontece hoje, muito por conta da praga do multiculturalismo.
Em vez de promover a liberdade e concorrência entre culturas, para que vença a melhor, o multiculturalismo, tomado pela esquerda, tem fomentado o tribalismo, os guetos, o que serve como combustível para os fanáticos do Islã. Diz o professor:
Aqui enfrentamos um problema mais fundo, a chamada ortodoxia politicamente correcta, também conhecida por “multiculturalismo”. A expressão é, aliás, enganadora. À primeira vista, multiculturalismo deveria querer dizer livre concorrência entre múltiplas tradições culturais e religiosas. Este é um princípio da sociedade aberta, fundada na igual liberdade das pessoas perante a lei. O seu alicerce fundamental reside na liberdade de expressão, o que inclui obviamente a liberdade de crítica mútua e pacífica entre as várias tradições culturais e religiosas.
Mas o “multiculturalismo” realmente existente não é defensor da liberdade e da sociedade aberta. É defensor da tribalização das sociedades em grupos colectivistas nos quais as pessoas são definidas pela pertença de origem. Em torno desses grupos colectivistas, o “multiculturalismo” ergue muros para impedir o diálogo e a crítica, alegando que está a fornecer-lhes igual protecção e igual direito a “identidades diferentes”. Na verdade, está a impedir a conversação entre pontos de vista diferentes e, nos casos limite, está a criar “guetos” onde o primado da lei não pode entrar.
Acresce que a protecção das diferentes identidades não é igual para todas. Há umas identidades que são mais iguais do que outras. O “multiculturalismo” é uma nova versão das velhas doutrinas anti-ocidentais que descrevem o Ocidente como sede de opressão, imperialismo e expansionismo cristão. Na prática, o “multiculturalismo” quer silenciar as vozes ocidentais e quer promover as chamadas identidades não ocidentais. O resultado são “guetos” anti-ocidentais no interior dos quais germina sem entrave o ódio contra as sociedades abertas que os acolhem. É aí que crescem as redes terroristas.
Concordo com o professor Espada. Acredito que não é essencialmente um problema monetário, como apontam as esquerdas, muito menos uma reação a alguma agressão anterior do próprio Ocidente, e sim um mal cultural, alimentado pela própria esquerda ao incentivar essa narrativa anti-ocidental. Vários desses terroristas islâmicos têm surgido no quintal do Ocidente, em guetos de muçulmanos que se recusam a assimilar a cultura que os recebem. Essa situação absurda tem sido propagada pelos “progressistas”.
Se a esquerda não quer ter suas mãos sujas de ainda mais sangue inocente, ou se não pretende ver as conquistas liberais se esvaindo num fechamento xenófobo, então é hora de abraçar a verdadeira liberdade. Muçulmanos que querem viver na Europa, mas enclausurados em suas próprias culturas, cuspindo naquela mais avançada e liberal que os recebe, não podem contar com o apoio de “intelectuais” do próprio Ocidente. São esses “bárbaros dentro dos portões” que mais preocupam. Ao fornecerem aos alienados e ressentidos um discurso que justifica sua violência, agem como cúmplices do terror.
Rodrigo Constantino
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