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Comentando o estado atual do experimento europeu, George Soros advertiu que a União Europeia mergulhou em uma crise existencial como resultado de instituições “disfuncionais” e mandatos de austeridade, e será exigido que o bloco se reinvente para sobreviver.

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Falando no Fórum Econômico de Bruxelas, o especulador bilionário disse que a UE “perdeu o seu momentum“, enquanto exortou os políticos a abandonarem as esperanças de “uma união cada vez mais próxima”, impulsionada por uma abordagem de cima para baixo de Bruxelas, uma declaração que provavelmente desagradará a Alemanha.

“A União Europeia está agora em uma crise existencial”, disse Soros a uma audiência de Bruxelas. “A maioria dos europeus da minha geração era adepta de uma maior integração. As gerações subseqüentes vieram a considerar a UE como um inimigo que os priva de um futuro seguro e promissor”.

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Apenas um dia depois de Bruxelas publicar um documento que mostra a visão da integração da zona do euro, Soros advertiu que a área da moeda única se tornou “exatamente o oposto do que era originalmente previsto”, de acordo com o Telegraph.

Citado pela CNBC, Soros disse que a “reinvenção da Europa teria que reviver o apoio que a União Europeia costumava ter”. A reinvenção teria que rever os erros do passado e explicar o que deu errado, e fazer propostas para endireitar as coisas.

Soros aplaudiu a ideia alemã de cortar fundos europeus destinados a reduzir as desigualdades de renda a nível regional para os países que não respeitam o estado de direito. Tanto a Hungria como a Polônia, que são receptores líquidos dos chamados “fundos de coesão”, foram criticados pela instituição europeia por seus padrões fracos no que se refere ao estado de direito.

O bilionário também lembrou aos anfitriões que “a União Europeia deveria ser uma associação voluntária de estados afins que estivessem dispostos a entregar uma parte da sua soberania pelo bem comum. Após a crise financeira de 2008, a eurozona foi transformada em um relacionamento credor/devedor onde os países devedores não puderam cumprir suas obrigações e os países credores ditaram os termos que os devedores tiveram que atender”.

“Ao impor uma política de austeridade, eles tornaram praticamente impossível que os países devedores cresçam e se livrem de suas dívidas. O resultado líquido não era nem voluntário nem igual”.

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“Agora, precisamos de um esforço colaborativo que combine a abordagem de cima para baixo das instituições da UE com os movimentos de baixo para cima que são necessários para envolver o eleitorado”, disse Soros e acrescentou que em vez de uma Europa com várias velocidades, deveriam ter uma Europa com várias pistas, que permita aos Estados membros uma maior variedade de opções. Isso teria um efeito benéfico de grande alcance, disse.

Ele exortou o bloco a se concentrar em três áreas-chaves: lidar com a crise dos refugiados, o Brexit e “a falta de uma estratégia de crescimento econômico”. Previsivelmente, como o homem que alguns alegaram estar por trás do grande movimento migratório que enviou um milhão de refugiados principalmente da Síria para a Alemanha nos últimos 2 anos, Soros disse que a Europa precisa superar a atual “crise existencial” lutando contra a ascensão do sentimento anti-europeu, sentimentos xenófobos e “poderes hostis” circundantes.

“Externamente, a UE está agora cercada de poderes hostis: a Rússia de Putin, a Turquia de Erdogan, o Egito de Sisi e a América que Trump gostaria de criar, mas não pode”, disse Soros. Ou seja, depois de todo esse palavrório meio vago, Soros chegou ao ponto-central de sua fala, na qual Trump foi colocado como uma ameaça tão grande quanto Putin, Erdogan e Sisi.

Esses “globalistas” dão nó em pingo d’água mesmo! Soros, o maior financiador das esquerdas “progressistas” mundiais, faz aparentes concessões aos “erros” e “falhas” do projeto socialista europeu, advertindo que é preciso ter um pouco mais de peso no aspecto local, de “baixo para cima”, só para tentar salvar o que a UE efetivamente representa: a concentração absurda de poder nos “burocratas sem rosto” de Bruxelas.

O especulador bilionário parece disposto a dar alguns anéis para não perder os dedos. Assustados com o Brexit e a vitória de Trump, assim como o avanço de uma direita nacionalista na Europa, os defensores de um modelo socialista para o Continente – para o mundo todo, na verdade, por meio de um “governo mundial” – já entenderam que precisam mudar a estratégia, fazer alguma coisa para evitar o pior: no caso, a volta da soberania para os países, o resgate do conceito de Pátria.

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Sim, Soros está certo no diagnóstico: a Europa vive mesmo uma “crise existencial”. Mas ele nada diz sobre as causas estruturais dessa crise, que podem ser encontradas nas próprias bandeiras “progressistas” que ele defende. O multiculturalismo, o “welfare state”, a ideia igualitária que serve para transferir renda de quem trabalha para quem tem privilégios, esses são os verdadeiros fatores por trás da crise existencial.

É uma crise de essência, não de momento. Uma crise estrutural, não conjuntural. O projeto em si de um Estados Unidos da Europa, imposto de cima para baixo e usurpando a soberania nacional dos países, e o ainda mais ambicioso projeto de um governo mundial possuem graves falhas de origem. Vários países já tentaram esse experimento dentro de suas fronteiras, e foi uma catástrofe. O socialismo simplesmente não funciona. Nem mesmo quando um especulador bilionário capitalista está por trás dele.

Rodrigo Constantino