Sou de uma geração que não transferia suas responsabilidades para terceiros, para entes abstratos como “sociedade”, “sistema” ou “geração”.
Sou de uma geração que batia no peito e erguia a cabeça quando cometia algum erro, assumindo a culpa e prometendo mudar o comportamento, mas sem se esquivar das consequências de seus erros.
Sou de uma geração que não sabia o que é esse mimimi moderno, que não ficava bancando a vítima o tempo todo, que não achava que basta chorar para ficar blindado, impune ou gozar de um salvo-conduto para “malfeitos”.
Sou de uma geração em que “cantar” uma mulher bonita era algo extremamente natural, mas pegar em suas partes íntimas à força sempre foi considerado um crime, além de uma tremenda grosseria.
Sou de uma geração que tinha no gentleman britânico um exemplo e uma inspiração, que olhava para a atitude daqueles bravos homens do Titanic, que cederam seus lugares nos botes salva-vidas para crianças e mulheres, com admiração e respeito.
Sou de uma geração que interpretava feminismo como a luta por direitos básicos da mulher, não como uma guerra contra os homens e as mulheres conservadoras, que se negam a aderir ao radicalismo igualitário e valorizam a maternidade.
Sou de uma geração que prezava as diferenças entre homens e mulheres, que considerava o casamento uma união complementar e saudável, mas que jamais tolerou “machões” desrespeitosos como símbolos de toda a masculinidade.
Sou de uma geração que fazia piadas, que brincava com o sexo oposto, mas sem ultrapassar limites do bom senso, da civilidade ou da lei.
Sou de uma geração que lutou pela igualdade de todos perante as leis, e que não engolia o duplo padrão daqueles que protegem os ricos e famosos, julgando-os como se estivessem acima dos reles mortais.
Sou de uma geração que tinha que colocar um Mertholate na ferida que ardia pra cacete, e isso servia para preparar a garotada para o mundo real lá fora, hostil e indiferente aos nossos anseios e desejos.
Sou de uma geração que não considerava tudo bullying, e em que o bullying era combatido pela própria vítima, não uma questão de estado.
Sou de uma geração que não tinha “espaços seguros” em universidades para proteger todos de “ofensas”.
Sou de uma geração que não precisava de uma Lei Maria da Penha, pois agredir ou matar já era crime, independentemente de a vítima ser mulher ou homem.
Sou de uma geração que encarava o cigarro como normal, mas que não achava cool ou descolado “sentar no quiabo” ou “engatar a ré”, tampouco motivo de orgulho pessoal.
Sou de uma geração que não pensava que a prova da masculinidade estava em se derreter em público de forma afetada feito uma libélula no cio.
Sou de uma geração que não sabia o que é glitter na barba ou hipster, termos completamente desconhecidos.
Sou de uma geração em que bandido era tratado como bandido, não como “vítima da sociedade”, e em que todos eram incentivados a reagir, não a ficar submissos feito cordeirinhos diante de marginais.
Sou de uma geração que ainda colocava o ovo humano acima do ovo da tartaruga na hierarquia de valores.
Sou de uma geração que sempre teve canalhas, pois estes sempre existiram, mas que não fingia que a canalhice foi imposta ao “bom selvagem” pela sociedade, pois sabia que ela deve ser domada, controlada, superada pelo esforço pessoal e a constante busca pela integridade, já que o hábito faz o monge.
Sou de uma geração que ainda sabia que existe o certo e o errado.
Sou de uma geração considerada chata, careta, ultrapassada, machista, intolerante, conservadora, pois não achava que “meninx” é um termo adequado para descrever meninos e meninas, que ensinar putaria para crianças de 6 anos é legal, que liberdade significa libertinagem e que o hedonismo deve ser fomentado na mais tenra idade.
Sou de uma geração que aprendia a ter limites desde cedo, compreendendo que não se pode dar vazão a todos os apetites, o que seria destrutivo.
Sou de uma geração em que a função de educar cabia aos pais, não ao estado.
Sou de uma geração que, se escrevesse a palavra “responsabilidade” no Google (e se existisse Google, claro), não encontraria inúmeras menções de “responsabilidade social” ou de “salvar o planeta”.
Sou de uma geração que não tinha a desculpa esfarrapada de viver errando e se eximindo de culpa, mas que quando efetivamente errava, tinha a dignidade de olhar nos olhos do outro e dizer: “Fiz merda, assumo!”. E ponto final.
Rodrigo Constantino
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