“Os adversários da penalidade máxima argúem que é sagrado o direito de todos à vida. Exceto, naturalmente, o direito das vítimas à vida. O direito à vida não pode ser incondicional. Só devem merecê-lo os que não tiram a vida dos outros.” (Roberto Campos)
O Brasil é o país da piada pronta. É, na verdade, a grande piada. Você jura que acabou de ler uma manchete do Sensacionalista ou do Joselito Muller, apenas para descobrir depois que a coisa é séria. Muito séria. Vejam essa notícia:
Condenada a 39 anos de prisão por matar os pais, Suzane von Richthofen deixou a Penitenciária Santa Maria Eufrásia Pelletier, a P1 feminina de Tremembé (SP), na manhã desta quarta-feira (4), para a saída temporária de Dia das Mães.
Ela deixou a unidade um dia antes das demais presas, que terão direito ao benefício a partir das 8h desta quinta (5).
Desde que foi condenada, em 2006, essa é a segunda vez que Suzane tem direito à saída temporária – sendo a primeira no Dia das Mães. Ela deve retornar na próxima terça-feira (10) até 18h, junto com as outras presas.
Antecipação de saída
De acordo com o defensor de Suzane, Rui Freire, apesar de não ter havido um pedido formal para antecipação da saída da presa, essa era um medida esperada.
“É uma questão de segurança que normalmente a direção do presídio adota. Suzane é um presa que sofre muito assédio, então isso deve ter sido considerado”, afirmou Freire. Ele não informou onde Suzane ficará no período em que estiver fora do presídio.
Em qualquer país sério, alguém que participou do assassinato dos próprios pais teria prisão perpétua decretada. Em alguns lugares, seria caso de pena de morte, punição controversa, mas sem dúvida mais defensável do que a soltura precoce de quem cometeu crime hediondo. E nada pode ser mais hediondo do que tirar deliberadamente a vida de quem a deu.
Já no Brasil, eis o que acontece: a moça assassina recebe indulto. De Dia das Mães! Ela, que matou a própria mãe! No começo, você acha quase graça. Depois, quando você se dá conta de tudo que isso representa, de como esse caso ilustra tão bem toda a desgraça que é o Brasil, um projeto fracassado de nação, você troca o sorriso pelo choro de desespero.
Foi meu amigo Alexandre Borges quem melhor resumiu o que isso tudo quer dizer: “Suzane von Richthofen livre para o Dia das Mães. Depois vocês estranham petista defendendo democracia”. É isso aí. Brasil, o país da piada (seu graça) pronta. O país em que assassina da própria mãe recebe indulto de Dia das Mães, e que defensores da ditadura cubana posam de democratas. O que deu errado com nosso país? Ou seria melhor perguntar: o que deu certo?
Rodrigo Constantino