![Temer até deveria sair, mas não dá para fazer coro no “Fora Temer” com essa turma! Temer até deveria sair, mas não dá para fazer coro no “Fora Temer” com essa turma!](https://media.gazetadopovo.com.br/rodrigo-constantino/2017/06/0-590-9d202922.jpg)
Fui um dos que defenderam que era melhor o presidente Temer sair quando as gravações da conversa nada republicana com Joesley Batista vieram à tona. Argumentei tanto pela ótica dos princípios como pelo pragmatismo, alegando que sua permanência iria provavelmente travar a pauta das reformas (e até agora tem sido assim).
Entendo e já entendia a preocupação daqueles que apontavam para o mau cheiro na coisa toda, com pinta de armação, com o acordo absurdo concedido ao açougueiro criminoso, ao protagonismo de Rodrigo Janot, que viu seu senso patriótico despertar apenas após o impeachment de Dilma.
Também estranhei a postura de parte da grande imprensa, obcecada em derrubar Temer por motivos que claramente não pareciam tão nobres, enquanto o verdadeiro chefe da quadrilha era esquecido. Nunca acreditei na conversa antagonista de que Lula também teria a cabeça entregue pelo parceiro, e não teve mesmo.
Dito isso, e lembrando que não temos “bandido preferido”, ao contrário dos petistas, não precisamos ser trouxas também. Bancar o idiota útil de comunista não é minha praia. Se o PSOL e o PT estão berrando uma coisa, eu berro o contrário sem medo de errar. No máximo, posso me calar. Mas berrar em coro com essa turma, que nunca deu um pio sobre os escândalos do PT, isso já é demais da conta.
E basta ver pela coluna de Ancelmo “Ivan” Gois hoje no GLOBO que tipo de gente está fazendo musiquinha pelo “Fora Temer”, para entender que a alternativa é ou gritar “Fica Temer”, ou então fechar a boca, mas jamais entoar versinhos ao lado desse pessoal:
Xô, ‘Vampirão’
No encontro de artistas, sexta, na casa de Paula Lavigne, em Ipanema, no Rio, para debater o “Fora, Temer”, Xande de Pilares e Mosquito, os bambas, fizeram uns versos de improviso. Na música, Temer é chamado de… “Vampirão”. Artistas como Lucio Mauro Filho, Janaína Diniz Guerra e Letícia Sabatella entraram na roda com uns versos.
Segue…
O verso de Lucio Mauro Filho é assim: “Vampirão foi lá pra Rússia/ Mas ninguém deu atenção/Vladimir ficou ‘Putin’/e gritou: ‘Xô, vampirão!’”.
Já Leticia Sabatella engatou: “Eu queria entender se existe uma razão/ Que sustente a hipocrisia amedrontando a nação./Se existe um argumento que impeça os cidadãos/ de dizer com toda a força: ‘Fora daí, Vampirão!’”.
Aliás…
Veja, abaixo, dois vídeos. Um com a “Xô, Vampirão” e outro com com “513, ‘Fora, Temer’ é o assunto”, em referência ao total de deputados — um incentivo para que eles aceitem a denúncia de Janot.
Se Letícia Sabatella quer uma coisa, procure sempre ficar do lado oposto. Esses artistas engajados sempre defenderam o que há de pior na história. No mínimo podemos condicionar o apoio ao coro à inclusão de Lula na lista dos que devem ser punidos, presos, afastados para sempre da política. Bancar o inocente não dá, né?
Carlos Andreazza, editor e escritor, rebateu a crítica de um leitor hoje em sua coluna, justamente sobre não aderir a esse coro do “Fora Temer”, e como ficaria, então, a questão dos princípios. Andreazza escreveu um texto brilhante, apresentando o ponto de vista liberal-conservador, e justificando porque devemos tomar muito cuidado com os jacobinos, aqueles que querem detonar “tudo” (mas sempre de forma um tanto seletiva). Eis um trecho:
Segundo compreendo o estudo do tabuleiro político, dedicar-se exclusivamente a acusar a corrupção generalizada — sem lhe entender e explicitar origens, nuances e propósitos diversos — é jogar para a galera tanto quanto enxugar gelo. Em suma: histeria e esterilidade. Ocorre que o mundo não é feito apenas de inocentes e estúpidos. Há também aqueles a quem esses são úteis.
O jacobinismo em curso, que ceifa cabeças justiceira e indistintamente, engrossa com sangue a lama do interesse daqueles cuja sobrevivência depende de chafurdar a atividade política, igualando crimes como se da mesma extensão e intensidade. Eu prefiro o mundo real. Nesse, é provável que o PMDB de Temer seja uma organização criminosa, como afirma o açougueiro da delação seletiva. Nesse, contudo, jamais o presidente e seu partido, sócios minoritários na empresa de ascensão petista, terão sido protagonistas da apoderação do Estado — como nos querem fazer crer Janot e seu cavalo Batista.
[…]
Nisso, no exercício desse plano, está o cerne da distinção — o assalto ao Estado como meio para tomar progressivamente o Estado, e alargar o Estado, rendido a serviço do partido — e o motivo pelo qual não é aceitável tratar a organização em que se estrutura o PT como pareada a qualquer outra.
O projeto de poder petista não tem precedentes na história deste país porque desdobra o autoritarismo moderno, que subjuga o capitalismo em campeões nacionais e dilapida as instituições desde dentro da República, valendo-se dos instrumentos da democracia representativa, em que não acredita, para miná-la. Ou o leitor não se lembrará de Lula jactando-se de uma eleição em que não havia concorrentes à direita? Ou de quando se comprometeu — com sucesso — em extirpar o PFL do cenário político?
Construir é difícil, leva muito tempo, gerações, enquanto destruir é muito fácil. Quem está se empolgando com o clima incendiário precisa levar em conta esse alerta conservador. Prudência!, diria Burke. Essa narrativa de que são todos iguais serve apenas aos piores. Se o PMDB é e sempre foi fisiológico e corrupto, o PT é isso e muito mais: é totalitário, golpista, comunista!
E a narrativa importa. Os que têm endossado o coro dos artistas e “intelectuais” estão colaborando involuntariamente para essa narrativa de que o problema é o “sistema”, e que Temer é ainda pior do que Lula, aquele que criou a JBS como é hoje. Estão esquecendo do DNA totalitário e revolucionário do PT, que queria e quer transformar o Brasil numa Venezuela, o que foi impedido justamente pelos bandidos pragmáticos do PMDB. E estão ignorando que essa algazarra toda também desviou o assunto das reformas necessárias, que uma vez mais eram propostas pelos bandidos do PMDB, e são rejeitadas pelos petistas.
É preciso ser minimamente pragmático e conhecer o inimigo antes de sair por aí cantando versos. Essa gente não brinca em serviço. Se Chico e Caetano querem algo, peça o contrário. Se Letícia Sabatella demanda uma coisa, defenda seu oposto. Você vai acertar 99,99% das vezes…
Rodrigo Constantino
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