Carlos Alberto Sardenberg, em sua coluna de hoje, define bem as duas possibilidades do destino de Michel Temer, que assumiu oficialmente a presidência nesta quarta: ou será como Sarney, medíocre, ou como Itamar Franco, que deixou como legado o Plano Real e um Brasil melhor. Diz ele:
Os últimos dois dias na votação do impeachment coincidiram com uma impressionante sequência de indicadores econômicos que descrevem no detalhe a história atual. De um lado, explicam por que Dilma Rousseff foi condenada. Seu governo produziu e deixou de herança um enorme desastre, de longe a pior recessão do país. De outro, deixaram muito clara a pauta do governo Temer e os critérios para avaliar seu sucesso ou fracasso. Não tem meio-termo: ou Temer encaminha a solução para o reequilíbrio das contas públicas ou cai numa administração medíocre, com inflação e sem crescimento. Destino Itamar ou Sarney.
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Se o pessoal perceber que o governo Temer vacila nas mudanças, aceita aumentos de despesa com reajustes do funcionalismo, por exemplo, topa uma aguada reforma da Previdência, a expectativa piora rapidamente. E o governo se arrastará na mediocridade.
Há uma outra parte crucial da agenda: as privatizações e concessões. Se o governo está quebrado, só haverá investimento novo com dinheiro privado. E este só entrará na jogo se houver um ambiente favorável. Isso exige remover um entulho ideológico e burocrático que quase criminaliza os negócios privados honestos.
Aliás, caímos num incrível ambiente: liberdade para a corrupção e entraves para quem ganhar dinheiro honestamente. O que nos lembra que a Lava-Jato é parte necessária das reformas.
Sarney, o primeiro vice do PMDB a assumir, fez tudo errado. Itamar deu sorte quando chamou Fernando Henrique Cardoso, e este operou o milagre do Plano Real. Temer começou com uma boa equipe econômica e com alguns maus hábitos políticos, como o de ceder às corporações do funcionalismo. O jogo está em andamento.
E bem por aí mesmo. Ou Temer vai conseguir emplacar as reformas, que não são suficientes, mas são necessárias para não afundarmos de vez, ou teremos uma década perdida à frente, e o presidente vai entrar para a História como um líder medíocre. A julgar pelas declarações já feitas até agora, Temer tem a compreensão do que precisa ser feito, mas não sabemos se tem a determinação e a capacidade de concretizá-las.
Em entrevista ao GLOBO, seu ministro Eliseu Padilha acerta nos pontos, e reforça a ideia de que Temer deseja entrar para a História como aquele que resgatou o país do atoleiro:
Temos que ter aqui o Estado necessário. Não adianta eu ter um estado gigante sem capacidade de prestação de serviços. A palavra privatização é um vezo ideológico que o tempo já derrogou. Vamos parar com o discurso e trabalhar com a realidade, e a realidade é que o Estado brasileiro não tem condições de fazer a infraestrutura necessária.
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Teremos que dar mais firmeza a essas posições adotadas pelo presidente e pelo ministro (da Fazenda) Henrique Meirelles. Nós teremos que, no Congresso, defender e comprovar que as reformas são absolutamente indispensáveis.
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A questão da reforma da Previdência se sobrepõe a partidos, à luta política. É questão da sobrevivência dos idosos. O sistema está causando sérios déficits no orçamento da União. Esse é um tema que vem se arrastando no governo federal há anos. E nunca se teve, como se tem agora, a consciência de que, se não forem tomadas as providências que têm que ser tomadas, haverá a aquisição do direito sob o ponto de vista formal e não terá o recurso correspondente para fazer o pagamento.
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Nós todos estamos no mesmo barco; o barco que tem que levar o Brasil à retomada do desenvolvimento, à geração de emprego, à geração de renda. Ninguém vai se salvar se não conseguirmos chegar a esse porto, e aí todos são indispensáveis. É natural que se queira marcar uma posição política diferenciada, mas, quando chegar o momento de estarmos juntos para este objetivo maior, tenho certeza de que estaremos.
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Com 35 partidos e a dois anos e meio, não faço absolutamente nenhuma previsão. O quadro é muito indefinido, mas o presidente tem um objetivo: “eu”, disse Michel, “encerrarei minha vida pública agradecendo a Deus por ter me dado mais do que eu esperava, se eu conseguir fazer o Brasil voltar aos trilhos do desenvolvimento”. Esta é a frase que ele usa. E encerrará a vida pública no dia 31 de dezembro de 2018.
Ou seja, um programa de privatizações na área de infraestrutura, reforma previdenciária, firmeza da equipe econômica para segurar os gastos, e unidade política para aprovar as reformas, lembrando que todos desejam a mesma coisa: salvar a economia brasileira. O diagnóstico é correto. Resta agora executá-lo. Não basta ficar nas palavras. Se Temer conseguir isso, será um novo Itamar. Se fracassar, será um novo Sarney.
Rodrigo Constantino
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