Por Luan Sperandio, publicado pelo Instituto Liberal
Há um famigerado sentimento de desinteresse no tocante às eleições, ocasionado por diversos fatores.
O voto é uma tomada de decisão, mesmo que no sistema eleitoral brasileiro este seja compulsório, posição que discordo veementemente: a ideia de uma democracia obrigar a votar é um contrassenso. Seria útil, inclusive, que os candidatos tivessem de convencer o eleitorado que “vale a pena” exercer um direito para votar nele.
Outro desestimulante fator é a repetição: quando estamos doentes e ao tomamos um remédio a dor não passa, significa que o diagnóstico está errado. Logo, buscamos outro remédio. No Brasil a lógica se inverte: mesmo havendo reiterados erros, os candidatos insistem no mesmo diagnóstico, talvez por conveniência deles e inércia do eleitorado, prometendo somente aumentar a dose do remédio, o que obviamente não resolverá o problema.
Ademais, há como panorama de um lado uma maioria de candidatos que prometem coisas pelas quais não tem competência legal para fazer, mesmo se eleitos. Do outro, uma maioria de eleitores que sequer sabem a função de cada cargo pelo qual ajudarão a escolher quem ocupará.
Casos assim, bem como disputas de candidaturas pelo poder e não debates ideológicos, aliados a recorrentes escândalos de corrupção, levam a descrença e o sentimento de que “político é tudo igual”, promovendo o referido desinteresse. É perceptível a necessidade de uma mudança cultural, mas o que fazer enquanto isso não ocorre?
No que se refere à Teoria da Tomada de Decisão, o matemático americano John von Neumann formulou a “regra minimax”, segundo a qual em qualquer situação a melhor estratégia é minimizar a perda máxima.
Na prática, eleição é votar no menos pior, não existe um messiânico salvador da pátria. Mormente no Brasil, em que estadistas são escassos, preteridos por uma classe política com viés populista, que compromete o futuro das próximas gerações pensando unicamente em sua manutenção no poder, confrontante aos ensinamentos de James Freeman Clarke. Logo, não há fórmula mágica. É escolher entre o péssimo e o ruim. É inglório, todavia, abster-se do debate não será melhor.
Vejamos: você está machucado, andando com dificuldades. Não há como alternativa a cirurgia, que resolveria o problema na perna. Como soluções propostas há tão somente duas alternativas: um tiro no pé ou um tiro no estômago. Qual você escolheria?
Percebam que ambas as escolhas são ruins. Você já está com dificuldades de locomoção e um tiro no pé fará ter mais dificuldades, entretanto, a segunda alternativa, um tiro no estômago, apresenta-se bem pior, haja vista que impedirá até mesmo andar.
Entrementes, não escolher uma deles gerará uma terceira consequência: levar um tiro às cegas. Fechar os olhos ao deparar-se entre o candidato ruim e o péssimo, provavelmente significará a vitória do péssimo.
Por conseguinte, configurado esse panorama, participar das eleições votando estrategicamente para minimizar a perda máxima (a eleição do péssimo) não é condenável: é questão de sobrevivência.
Comentário do blog: nenhum caso ilustra tão bem o ponto do artigo como o carioca. Eis o resultado dessa eleição de ontem:
1 – Abstenção – 1,2 milhões
2 – Crivella – 820.000
3 – Brancos e Nulos – 670.000
4 – Freixo – 550.000
5 – Pedro Paulo – 480.000
6 – Bolsonaro – 420.000
Entendeu porque o seu voto era importante? Se você está cansado, é contra a corrupção e “tudo isso que está aí”, o voto era a sua arma. Quem decidiu abrir mão dela é de certa forma cúmplice do resultado sombrio das urnas.
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