Não me levem a mal, caros leitores. Sei que o momento pede união de todos por pressão aos ministros do STF, prestes a garantir a impunidade geral só para salvar a pele de Lula. Sei que ontem foi Páscoa, e muitos entraram no clima de orações. Sei que há alguns que resolveram endeusar os procuradores mais famosos, imbuídos de um espírito salvacionista quase jacobino. Mas eu não posso perder a piada. Prefiro perder os amigos.
Falo, claro, do tom messiânico que algumas figuras-chave da Lava Jato têm utilizado em suas narrativas. O primeiro deles foi o jovem Deltan Dallagnol, talvez o que tenha a pegada mais jacobina ali, um mosqueteiro do bem contra “tudo e todos” que fazem parte do “mecanismo”. Ele foi o primeiro a falar em orar pela decisão acertada do STF, seguido pelo juiz Marcelo Bretas, como podemos ver:
A causa é boa, repito. Mas o tom passa um pouquinho do esperado pelas funções que ocupam. Claro, ambos falam pelas redes sociais como cidadãos, não como juiz e procurador. Mas o fervor religioso salta aos olhos, e posso imaginar o desejo de constar algo assim numa decisão oficial da Lava-Jato. Estão numa cruzada para purificar o país do câncer do “mecanismo”, e toda ajuda é necessária e bem-vinda nessa hora.
Houve quem criticasse, porém. O jornalista Guilherme Macalossi disse que Dallagnol deveria fazer jejum é das redes sociais e acusou aquilo que chamou de “religião jurídica”:
Já outro jornalista Guilherme, o Fiuza, satírico incurável, preferiu o caminho da ironia:
São os pastores da Lava-Jato. Mas sei que brinco com coisa séria. Volto ao começo para repetir que o momento é de união para pressionar os ministros do STF. Vários magistrados fizeram exatamente isso. Mais de 2,5 mil juízes, procuradores e promotores mandaram carta ao STF defendendo a prisão em segunda instância, o que é natural em qualquer país civilizado. O desembargador Ivan Sartori escreveu um texto duro em sua página do Facebook:
Aplaudo todas as iniciativas! Queremos Lula na cadeia! E não só Lula, como todo aquele que for condenado em segunda instância. Quem quer o contrário flerta com a impunidade. Dito isso, é questão de estilo. Fico com o de Sartori. Já quanto ao de Bretas e Dallagnol, confesso não conseguir mais tirar da cabeça a nova concepção que “Testemunhas da Lava-Jato” ganhou para mim.
Mas talvez seja o caso de apelar para a fé e a oração mesmo. No Brasil, a lei e o bom senso nunca bastaram. Vamos embarcar na cruzada moralizante dos jovens jacobinos contra o “mecanismo”. José Padilha vai gostar, já que não faz distinção entre esquerda e direita e não consegue enxergar o projeto totalitário bem diferente da turma do PT, o mesmo da turma do PSOL, que defende o regime de Maduro na Venezuela. Só santo para limpar o “sistema” todo. Aleluia, irmãos!
Rodrigo Constantino
Moraes derruba sigilo da delação de Cid e notifica citados em denúncia da PGR
Bolsonaro será preso? Acompanhe o Entrelinhas e entenda o que pode acontecer após denúncia da PGR
Em denúncia, PGR afirma que Bolsonaro era do “núcleo crucial” de organização criminosa em suposto golpe
Múcio diz que denúncia da PGR serve para livrar militares de “suspeições equivocadas”
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS