O Rio viveu (mais um) dia de pânico nesta segunda, com intenso tiroteio na zona sul da cidade, com um dos metros quadrados mais caros do país, resultando em três mortos e cinco feridos. É a peculiaridade da situação carioca: as favelas, verdadeiras fortalezas do crime, estão dentro dos bairros nobres, não apenas na periferia, como em outras cidades grandes. Isso faz não só o morador de classe média e alta sentir mais o impacto do crime, como dificulta a ação policial.
O secretário estadual de segurança do Rio José Mariano Beltrame já entregou carta de demissão ao governador. É um ato digno de quem vem tentando combater o crime, mas sem o sucesso esperado (e alardeado). De certa forma, sua saída simboliza a derrota das UPPs, ao menos como uma espécie de panaceia, de bala de prata contra a criminalidade nas favelas.
Foi Bene Barbosa, do Movimento Viva Brasil, quem resumiu bem a coisa: “O tiroteio na zona sul do Rio de Janeiro expõe as duas maiores farsas da Política de Segurança Pública: desarmamento e pacificação”. Não há como negar. A imprensa toda e os “intelectuais” apostaram todas as fichas na política do desarmamento. Uma piada de mau gosto.
Está aí o resultado: bandidos com armamento pesado dominando territórios inteiros, enquanto a população permanece refém e sem ter como exercer seu direito inalienável de legítima-defesa. E a “pacificação” tampouco funcionou: se os marginais não forem presos, de nada adianta simular a retomada do território, já que ele continuará dominado pelo crime.
Como venho dizendo, não há solução mágica para o enorme problema de segurança do Rio. Deixaram a situação chegar a um patamar assustador. Alguns apostam no fim da “guerra contra as drogas”, na legalização, mas também se iludem. Primeiro, pois vários países também proíbem as drogas e nem por isso vivem como o Rio. Segundo, porque seria preciso legalizar todas as drogas, algo que só os mais libertários defenderiam. Terceiro, porque essas comunidades são dominadas pelo crime também em setores legais, como venda de gás e TV a cabo. Os bandidos, fortemente armados, não vão abandonar o crime da noite para o dia só porque as drogas foram liberadas.
Há tantas coisas que precisam mudar que é difícil pensar por onde começar. A impunidade da própria Justiça, por exemplo. Preso nesta segunda-feira num trecho de mata no alto do morro Pavão-Pavãozinho, após comandar o ataque às UPPs da região, o traficante Samuel de Freitas e Silva, o Samuca, foi beneficiado por um indulto no Dia das Mães, no dia 14 de maio. Desde então, ele era procurado pela polícia. Ele é apontado como um dos chefes do morro.
A polícia, que ganha mal e arrisca sua vida, acaba enxugando gelo, pois os bandidos que porventura são presos acabam liberados pelo sistema judicial. Isso sem falar dos menores de idade, protegidos pelo ECA. É desesperador para um policial colocar sua vida em risco o tempo todo para ver esse resultado depois. São 2.500 policiais mortos no Rio de 1998 a 2016: são números de uma guerra civil! E eles ainda precisam ver os “intelectuais” de esquerda e a turma dos “direitos humanos” defendendo apenas bandidos depois, e ignorando essas baixas daqueles que têm a missão de preservar a lei e a ordem.
É tudo muito triste, de difícil solução, e ainda por cima vai na direção contrária àquela necessária. Temos um Marcelo Freixo, por exemplo, como segundo colocado numa eleição municipal e disputando, felizmente com poucas chances, o segundo turno para a prefeitura. Um sujeito socialista que defende os criminosos dos black blocs enquanto ataca justamente a polícia! É tudo aquilo que o Rio não precisa…
Mas o carioca médio adora fugir dos problemas, endossar uma magia, acreditar em ilusões. “Vamos desarmar os cidadãos ordeiros e isso vai reduzir o crime!”; “Vamos colocar algumas cabines de polícia nas favelas e elas estarão pacificadas!”; “Vamos legalizar as drogas e os bandidos serão trabalhadores de respeito amanhã!”; e assim seguimos, de fantasia em fantasia, tapando o sol com a peneira e ignorando o cerne da questão: a impunidade.
Fico triste pela minha “cidade maravilhosa”, apesar de compreender que ela merece tal destino de certa forma. Uma cidade que tem em um Chico Buarque uma espécie de Deus, que idolatra os atores famosos defensores de ditadores e terroristas, como Wagner Moura, que é a capital nacional da esquerda caviar, que é dominada por militantes disfarçados de professores e vagabundos maconheiros disfarçados de estudantes, uma cidade dessas não pode dar certo mesmo. Não antes de mudar tudo, a começar por sua mentalidade, pela cultura do “jeitinho” e da “malandragem”.
Lamentei ver as cenas de ontem, à exceção daquela imagem em que um dos marginais é baleado e cai do morro (um eleitor a menos do Freixo). Fiquei preocupado com meus familiares e amigos, apreensivo, e também revoltado com o que o povo trabalhador precisa enfrentar para sobreviver naquela selva urbana. E agradeci aliviado por não morar mais ali. É muito triste admitir isso, mas é a verdade.
Enquanto o carioca não abandonar o bairrismo e preferir odiar aquele que aponta a dura realidade de sua “cidade maravilhosa”, não haverá chance de melhora mesmo. Enquanto os ícones da cidade forem os “descolados” que cospem em São Paulo, nos Estados Unidos ou em qualquer lugar mais civilizado, no “capitalismo”, a cidade continuará entregue aos bandidos mesmo. Enquanto as novelas globais e Regina Casé forem os padrões de “moralidade”, invertendo todos os valores, a luz no fim do túnel estará distante, ou pior: será um trem vindo na direção dos cariocas.
O Rio é um projeto social, um estilo de vida fracassado. Os “malandros” acharam que eram espertos demais, mas conseguiram criar apenas um ambiente de otários. Enquanto essa dura verdade não for esfregada na cara dos cariocas, não haverá o menor risco de sucesso…
Rodrigo Constantino