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Tragédia ambiental? Não! Tragédia humana

Por João Luiz Mauad, publicado no Instituto Liberal

Em discurso na Conferência do Clima, em Paris, a presidente Dilma Rousseff, bem ao estilo petista, tentou faturar em cima do trágico acidente de Mariana.  Segundo ela, aquela teria sido a maior tragédia ambiental do país, resultado da irresponsabilidade de algumas empresas privadas, que deverão pagar caro por isso.  Nem uma só palavra sobre eventuais responsabilidades do governo, que, afinal, é o ente encarregado tanto das concessões quanto da fiscalização de minas e depósitos de rejeitos.  Mas, tudo bem.  Os petistas nunca sabem de nada mesmo…

No mais, ainda bem que a realidade e os fatos começam a aparecer e vão colocando o episódio dentro das suas reais dimensões.  Não, Mariana não foi a maior tragédia ambiental do Brasil. Aliás, a grande tragédia ali não foi ambiental, mas principalmente humana.   Centenas de famílias perderam seus entes queridos, suas casas, seus bens, suas lavouras e seus sonhos.  São esses os principais danos que precisam ser indenizados pela empresa proprietária da barragem.

Quando escrevi meu último artigo a respeito, alguns entenderam, equivocadamente, que eu estaria defendendo a empresa, ainda que eu dissesse explicitamente que os eventuais responsáveis deveriam ser punidos, de acordo com a lei vigente e resguardado o devido processo legal.  Os liberais são os primeiros a defender que os danos causados a terceiros e suas propriedades devem ser exemplarmente indenizados pelos responsáveis.  Digo mais: de preferência, a justiça deveria mandar a Samarco indenizar diretamente as famílias, pois se o dinheiro passar pelas mãos do governo, corre o risco de se perder pelo meio do caminho, nas mãos de uma burocracia ineficiente e, muitas vezes, desonesta.

Dito isso, voltemos à questão do meio ambiente.  Discordo da presidente Dilma e daqueles mais apressados e impressionados com as imagens, segundo os quais, estaríamos diante de uma catástrofe ecológica.  Vamos a algumas informações relevantes, divulgadas pela imprensa recentemente, malgrado muito pouco expostas:

Amostras de água e sedimentos coletadas no Rio Doce pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM – empresa pública vinculada ao Ministério das Minas e Energia), entre os dias 14 e 18 de novembro, apontam que não houve aumento da presença de metais pesados na água e nos sedimentos do rio, em relação aos dados de 2010, também coletados pela CPRM. De acordo com a estatal, não há indicações de que a lama de rejeitos da Samarco seja tóxica em relação à metais pesados.

Com isso, dissipa-se uma das principais preocupações dos ambientalistas e dos catastrofistas de plantão, quanto a um possível impedimento futuro da captação de água pelos municípios ribeirinhos.

A outra (boa) notícia vem de Paulo Rosman, professor da COPPE/UFRJ e autor de um estudo encomendado pelo Ministério do Meio Ambiente para avaliar os impactos e a extensão do acidente.  Para aquele especialista, a recuperação total do Rio Doce deverá levar cerca de cinco meses, e que a própria natureza cuidará de “ressuscitá-lo”.

Segundo ele, “na maior parte do percurso do Rio Doce, as próprias chuvas devem limpar os estragos e os peixes devem voltar no período de cinco meses, e, no mar, a diluição dos sedimentos deve ocorrer de forma mais rápida – até janeiro do próximo ano.”

“Digo isso baseado em quantidades de sedimentos, em conhecimentos de processos sedimentológicos, na dinâmica de transporte desses sedimentos pelas correntes dos rios, dos estuários, das zonas costeiras. Então essas coisas são relativamente rápidas, a natureza se adapta, se reconstrói, se modifica.”

O professor lembra também que “Há muitos exemplos de acidentes muito mais graves e mais sérios do que este da barragem de Mariana. Veja a erupção vulcânica do monte Santa Helena, nos Estados Unidos (em 1980). Foi tudo devastado e destruído, numa área imensamente maior. Você vai lá hoje e vê que os animais voltaram e a mata voltou.”

Agora, comparem com o que disse esse escriba, alguns dias antes:

Já a situação do Rio Doce, apesar dos alarmistas de plantão, é muito menos grave.  Eu sei que isso é politicamente incorreto de se dizer numa hora dessas, mas é a verdade.  A lama pode ter uma aparência e uma cor muito feias, mas sem dúvida é muito menos danosa à vida do rio do que muitos outros poluentes presentes no Tietê, por exemplo.

A natureza é teimosa e, deixada em paz, é capaz de recuperar-se em tempo muito mais curto do que se imagina. O rio é um organismo dinâmico.  A cada minuto, são despejados nele quantidades enormes de água limpa, seja através da nascente ou dos seus diversos afluentes, os quais foram pouco ou quase nada atingidos pela lama.

O pior que se pode fazer nos momentos mais agudos de qualquer tragédia é deixar que nossas impressões e sentimentos de revolta se sobreponham à razão.  O Rio Doce não morreu, nem vai morrer.  Muito mais rápido do que se imagina, suas águas voltarão a abastecer os municípios por ele banhados e seus peixes voltarão a alimentar a população ribeirinha.

Como dito antes e como se pode constatar pelas informações acima, em Mariana a dimensão da tragédia humana foi muitas vezes maior que a ambiental, embora, infelizmente, para muitos a vida e os percalços das pessoas não tenha o mesmo valor que a dos peixes ou tartarugas.

Ao contrário do que disse Dilma, há tragédias ambientais bem piores ocorrendo no país que a de Mariana.  Na sua maior parte, são desastres ecológicos crônicos, sem a agudeza da de Mariana, e, por isso, muitas vezes desconsiderados.  A poluição do Rio Tietê, em São Paulo, da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, e o próprio desmatamento da Floresta Amazônica, para ficarmos nos exemplos mais visíveis, são desastres ambientais muito mais graves e difíceis de reverter do que o do Rio Doce.

Em nenhum desses casos, entretanto, é possível apontar o dedo para “determinadas empresas privadas”, pois o principal culpado é o próprio governo.

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