Hoje é dia de treta na direita! Lucas Berlanza, que trabalhou para o Instituto Liberal, cujo Conselho eu presido, vai lançar hoje no Rio seu primeiro livro, cujo prefácio eu escrevi. No evento de lançamento, um vídeo meu de 5 minutos será divulgado também. Lucas é um jovem liberal com viés conservador, bastante maduro para a idade, e sempre respeitoso nos debates.
Mas Lucas foi alvo de Eduardo Bolsonaro. Não só Lucas, mas Alexandre Borges também. Borges, cujas credenciais conservadoras são inquestionáveis. O mesmo Borges que trabalhou para a campanha de Flavio Bolsonaro ano passado, para a Prefeitura do Rio. Borges é amigo da família Bolsonaro. E Eduardo é um dos mais lúcidos ali, estudioso que é da Escola Austríaca. Como, então, os tiros dados por ele foram resvalar em Lucas e Borges?!
Simples: o alvo era João Dória, cuja eventual candidatura incomoda bastante Jair Bolsonaro. E como política é jogo sujo mesmo, vale quase tudo. Eduardo, então, aproveitou uma foto postada na página pessoal de Borges ao lado de Dória, tirada num evento no Gávea Golfe Clube, para atacar a “nova direita”, que seria a “direita permitida”, ou seja, uma esquerda melhorada. Diz Eduardo:
Não se trata de uma foto protocolar, um aperto de mãos civilizado por educação. Recentemente Alexandre Borges (foto) divulgou o lançamento do livro “Guia bibliográfico da Nova Direita”. Será mesmo que a nova direita é: desarmamentista; a favor de um Brasil globalista sem fronteiras; contra a redução da maioridade penal; que nomeia secretários de extrema esquerda/maconheiros; financiadora de paradas LGBTs promíscuas que até mesmo muitos gays também não apoiam; que passa a mão na cabeça de corrupto pelo simples fato dele ser do mesmo partido que o seu; contra o Estado mínimo e a favor de um moderno “Estado gestor”? Se isso é a “nova direita” então lamento, mas a “nova direita” é de esquerda.
No afã de nos atacar sem argumentos alguns dirão “olha lá, foi só apoiar alguém que não o papai dele que ele se revolta, é um bolsominion” e vão camuflar isso chamando de CRÍTICA. É óbvio que um ataque sem argumentos é merecedor de uma resposta revoltada, sincera, genuína, mas quando isso ocorrer estará montado o cenário perfeito para nos acusarem de bolsominions, reacionários sem cérebro, que reagem a qualquer “CRÍTICA” aos Bolsonaros. Falsos intelectuais, falsos moralistas, pedem união da direita mas são exatamente mais do mesmo se aproveitando da audiência cativa dos eleitores conservadores entre 18 e 70 anos. Prefiro as lágrimas da derrota do que a vergonha de não ter lutado.
Ouch! Sugiro que Eduardo pare um pouco para pensar antes de escrever. Gosto dele, repito, e acho que tem um ótimo potencial como político. Mas agora uma foto ao lado do Dória é motivo para condenar toda a “nova direita”, acusando-a de esquerda? Seria o próprio Dória um “socialista fabiano” disfarçado para salvar o PSDB de Bolsonaro, como alguns alegam? Menos, gente, menos…
Bene Barbosa, que também respeita os Bolsonaros, saiu em defesa de Borges, e olha que Bene recentemente disse ter desistido do prefeito de São Paulo justamente por conta de sua postura sobre o desarmamento:
Então o Guia Bibliográfico aborda Edmund Burke, Friedrich Hayek, Ludwig von Mises, Olavo de Carvalho, José Guilherme Merquior, J. O. de Meira Penna, Raymond Aron, Roger Scruton, Russell Kirk, João Pereira Coutinho, Joaquim Nabuco, Carlos Lacerda, Bruno Garschagen, João Camilo de Oliveira Torres, Roberto Campos e Winston Churchill, mas tem gente achando que a capa é vermelha, portanto é de esquerda… Honestamente? O fato de Doria estar no lançamento deveria ser comemorado. Tentar dizer que Alexandre Borges é de esquerda por aparecer em uma foto com o prefeito de São Paulo por quem tenho ENORMES críticas feitas – bastam ver em meu blog – é uma injustiça inominável.
E bota injustiça nisso! Aliás, é impossível que Eduardo Bolsonaro tenha sequer lido o livro, não é mesmo? Se tivesse, saberia que Lucas é da ala mais conservadora dentro do liberalismo, a mesma em que me coloco. E Borges, então, não dá nem para colocar como liberal, pois é conservador assumido mesmo. Nem forçando muito a barra daria para jogá-lo para a esquerda. E Eduardo sabe disso, no fundo.
Mas para detonar Dória, que tem se mostrado um gestor eficiente, alguém com coragem de bater em Lula e no PT, um empresário de sucesso que não parece possuir tanta ideologia assim, e que por isso mesmo deveria ser atraído pela direita, para detonar Dória parece valer tudo, e isso é muito feio. Bernardo Santoro, que foi presidente do Instituto Liberal enquanto Lucas era nosso colaborador, também criticou duramente a postagem:
Cara, você realmente acha que o Alexandre Borges não apoia seu pai? O cara é amigo pessoal do seu irmão, um dos mais importantes analistas políticos da direita brasileira e te elogia em todos os posts dele. Tem alguma coisa muito errada com quem te envenena contra ele. Espero que vocês resolvam isso logo.
Helio Beltrão, do Instituto Mises Brasil, onde Eduardo foi aprender sobre a Escola Austríaca, também fez críticas ao post:
Acho importante colocar o outro lado aqui. 1) Criticar o Dória é uma coisa; colocar o Alexandre no balaio só porque ele tirou uma foto com o Doria (que não está no facebook dele, inclusive) é outra coisa completamente diferente. 2) Condenar por associação fotográfica é muito raso; aliás, é típica tática que a esquerda adota. 3) As credenciais de ‘Direita genuína’ do Alexandre são indiscutíveis: ele não defende nenhuma das coisas listadas no post.
De fato, será que uma foto pode dizer tanto assim? Talvez Eduardo devesse reconsiderar:
E não é ele mesmo, o Eduardo, sorrindo ali atrás? Rodrigo Gurgel e Tom Martins também saíram em defesa de Borges:
Crítica infundada, apressada e injusta. Uma foto insignificante não prova nada. O que vale, para quem conhece Alexandre Borges, é a sua postura sempre correta. E sempre — sempre! — falando bem da família Bolsonaro. Comentários lamentáveis. (Gurgel)
Que loucura, um ataque totalmente desnecessário e sem o menor fundamento. Lamentável fazer isso justo com o Alexandre, que é um cara sério que sempre apoiou tanto você quanto seu pai e seus irmãos. (Martins)
Enfim, Eduardo Bolsonaro deu um tiro no pé, pelo visto. Lucas e principalmente Borges merecem um pedido formal de desculpas. Podemos dar um desconto pelo jogo político em curso, pelo receio que Bolsonaro tem de que Dória possa ocupar espaços à direita e tirar votos de seu pai. Mas é preciso um mínimo de respeito aos fatos, e também aos indivíduos envolvidos.
No mais, recomendo o livro do Lucas, que contém resenhas críticas muito boas e poderá introduzir os leitores no pensamento liberal-conservador genuíno, não necessariamente aquele que condena privatizações como crime de lesa-pátria ou que deposita na exploração do nióbio tanta esperança para salvar nossa economia. Eis o convite para o lançamento de hoje:
Eduardo, tome uma atitude digna e peça desculpas. A disputa política não vale isso. Sabemos que Dória não é exatamente de direita, estamos atentos a isso, e tentando inclusive trazê-lo mais para o “lado bom da força”. Vencer não pode ser a qualquer custo. Menos ainda ao custo de sacrificar a verdade e queimar legítimos defensores da direita no Brasil, já que somos tão poucos…
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
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