Li todos os livros de Eduardo Giannetti da Fonseca menos um, que tenho na estante, mas não consegui ainda concluir. Admiro o pensador, respeito o economista, encontro mais convergência do que divergência entre nós. Mas a cada novo livro ou entrevista, principalmente desde que aceitou ser uma espécie de guru econômico de Marina Silva, sinto que se afasta do liberalismo clássico e se aproxima do esquerdismo utópico. Infelizmente, Marina parece ter lhe influenciado mais do que o contrário.
Não li seu novo livro ainda, Trópicos Utópicos, o que pretendo fazer em breve. Portanto, comento apenas com base na entrevista às páginas amarelas da VEJA desta semana. Parece que Giannetti da Fonseca quer criar um modelo todo original e especial com base em nossa cultura, que não seria exatamente a ocidental, mas uma diferente, “tropicalista”. Quem assinou o texto de contracapa? Sim, Caetano Veloso, ou apenas “Caetano”. Creio que isso já diz muito da guinada que o autor vem dando. Diz ele:
Descobri-me um “mimético”, mas admiro muitos insights de Gilberto Freire, por exemplo, um leitor que a própria esquerda deveria ler mais. Acho, com Eugênio Gudin e tantos outros, que essa mania do brasileiro de querer reinventar a roda tem nos custado caro demais. Até porque queremos inventar uma roda quadrada! O que existe de melhor em termos culturais, sociais e econômicos nós podemos observar por aí e copiar. É melhor do que insistir na “originalidade” quando ela leva a resultados lamentáveis.
Giannetti parece concordar com o italiano Domenico Di Masi, autor de O ócio criativo, que tem tecido inúmeros elogios ao modelo brasileiro de ser. Claro, ele não vive numa favela carioca, e sim na Itália. Será que o Brasil tem tanto assim mesmo para ensinar ao mundo? Será que são os americanos “consumistas” e os europeus que deveriam olhar para nós para aprender alguma coisa sobre como viver?
Os antiliberais sempre tentaram atacar o liberalismo ocidental que, para eles, não funcionavam abaixo da linha do Equador. É como se a natureza humana fosse tão diferente assim com base na geografia. Giannetti reconhece se afastar do liberalismo, e até o coloca em pé de igualdade com o marxismo, ambos ocidentalizados demais e desprezando as demais culturas:
Essa coisa de “admiro muita coisa no liberalismo, assim como no marxismo” é típica do “isentão”. É como alguém dizer que “gosta muito de sorvete, mas também não despreza um bolo de fezes”. O que o marxismo tem de interessante, cara pálida? Em que o marxismo foi útil, acertou? O que ele trouxe de positivo para a humanidade? Essa postura “equidistante” entre liberalismo e marxismo é simplesmente absurda, coisa de esquerdista que pretende salvar, de alguma forma, o marxismo. Mas Giannetti não é de direita nem de esquerda, muito pelo contrário:
Eu até concordo em parte com ele, mas o que minha experiência diz é que quando alguém começa com esse papo de “nem esquerda, nem direita”, ou “vamos fugir dos rótulos”, o que ele quer é defender o esquerdismo. E o fato de Giannetti estar tão próximo de Marina Silva, ex-petista até “ontem”, com suas bandeiras ambientalistas que mais parecem ecoterrorismo de “melancia” (verde por fora, vermelho por dentro), demonstra que se trata de uma conversão ao esquerdismo dele mesmo. Marina e sua Rede, não vamos esquecer, representam o PT embalado a clorofila, e são extremamente perigosos.
Uma pena. Era um pensador liberal parrudo, com bagagem cultural, um economista que não focava apenas em números, mas falava de filosofia. Seu livro O valor do amanhã é excelente, e tem claro viés “austríaco” ao tratar do fenômeno juro com uma visão natural, inclusive com analogias ao mundo animal. Alguns de seus livros entraram como resenhas em minha coletânea Uma luz na escuridão, que, de 75 autores analisados, teve apenas 5 brasileiros.
Mas Giannetti, pelo visto, se deixou levar por uma visão de mundo mais romântica, “tropicalista”, “caetaneando” demais da conta. Confesso que fico decepcionado. Minha verdadeira resposta vem também em forma de livro, pois meu Brasileiro é Otário? – O alto custo da nossa malandragem, que será lançado agora em julho, é justamente um contraponto, uma análise alternativa, mostrando como essa “originalidade” toda tupiniquim, na terra de Macunaíma, o herói sem caráter, do Zé Carioca malandro, do jeitinho, foi um tiro que saiu pela culatra.
Tropicalismo utópico? Estou fora! Prefiro o liberalismo ocidental, aquele que tem sólidos resultados para mostrar.
Rodrigo Constantino
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