O aumento da tensão comercial entre Estados Unidos e China ganhou novos contornos no começo da semana, depois que a China deixou o dólar romper a marca psicológica dos 7 yuans pela primeira vez desde 2008 e o presidente norte-americano, Donald Trump, acusou a potência asiática de “manipulação cambial”.
Como resultado desse cenário, que já traz temores de que as disputas comerciais extrapolem para uma guerra cambial, houve um movimento generalizado de aversão ao risco. A reação do presidente americano no Twitter, com mais de quatro comentários sobre o tema, gerou calafrios nos investidores. Trump acusou a manipulação chinesa, disse que essa é uma tática para “roubar” negócios e empregos americanos, que historicamente sempre foi assim, mas que não vai mais permitir isso.
O clima de tensão aumentou muito, e uma guerra cambial ou comercial seria desastrosa para a economia global. Trump mira no poder geopolítico chinês, mas não está claro se ele realmente acredita que tarifas americanas contra produtos chineses seriam algo positivo do ponto de vista econômico. Há um ranço mercantilista em sua filosofia política, o que fica claro em seus livros. Se um país concede subsídios ou desvaloriza artificialmente sua moeda para aumentar suas exportações, isso é como um “presente” aos consumidores dos outros países.
Claro que se o efeito disso for a desindustrialização estrutural no país concorrente, a vantagem imediata pode não compensar o custo a longo prazo. Trump foca nos empregos perdidos no “rusty belt”, mas não menciona os preços mais baixos que todos os consumidores encontram na Wal-Mart. É um jogo delicado, mas como a perda é mais concentrada e o ganho mais pulverizado e diluído, Trump aproveita para seduzir o eleitorado de classe média mais afetado por essa destruição de empregos.
O risco, claro, é a retórica e as medidas protecionistas passarem do limite aceitável e desencadearem de fato uma disputa descontrolada para ver quem é mais firme nessa guerra. Se for esse o cenário, sem qualquer contemporização ou bom senso, todos sairão perdendo. Principalmente os países emergentes, que serão punidos pelo aumento da aversão ao risco no mundo todo.
Do ponto de vista eleitoral, tudo que Trump precisa fazer para ser reeleito é evitar muitas polêmicas internas – os pré-candidatos democratas são quase todos uns radicais extremistas – e preservar a boa situação econômica, o que pode ficar mais difícil num ambiente de guerra cambial. Se o crescimento der lugar a uma recessão, e se Trump falar demais da conta, poderá perder parte do eleitorado de classe média e, com isso, sua reeleição.
Mas Trump consegue se segurar até 2020?!
Rodrigo Constantino