Trump tem defeitos e qualidades, como qualquer um, e seus defeitos parecem mais voltados para questões pessoais de caráter, enquanto suas qualidades, verdade seja dita, são bastante úteis para um estadista. Entrar num ringue político com alguém como Trump é coisa para gente corajosa, ou sem alternativa. Ao convidar Nancy Pelosi e Schumer, lideranças democratas, para discutir a questão do orçamento, da construção do muro na fronteira com o México e o risco de “shut down” do governo bem diante das câmeras no Salão Oval, o presidente marcou um golaço.
Era óbvio que ele iria massacrar seus oponentes. Não por acaso Pelosi insistiu para que o debate não ocorresse diante dos jornalistas. O presidente, mantendo a calma e demonstrando cordialidade (no começo), voou na jugular dos seus adversários no momento oportuno. Sua estratégia se mostrou válida: ele conseguiu expor o fato de que a construção do muro, um instrumento que muitos julgam importante para garantir a segurança na fronteira, só não sai do papel porque os democratas não querem. Pelosi não teve como negar essa realidade.
O risco de mais um “shut down” do governo parece real, e aqui é importante um breve parêntese: os democratas, hipócritas, sempre dão um jeito de acusar os republicanos pelos “fechamentos”, mesmo quando são eles que controlam o Congresso e o Senado, ou então a presidência. Também gostam de vender a ideia de que o “shut down” é uma espécie de apocalipse, de tragédia enorme, enquanto na prática os cidadãos quase não percebem esse “fechamento”. As funções básicas continuam normalmente, e só aquilo que não é essencial é dispensado. O que não é essencial, aliás, sequer deveria contar com servidores públicos…
Mas voltando à negociação: Trump foi taxativo, afirmando que só haveria acordo com uma proposta que fosse boa o suficiente para a segurança da fronteira, ou seja, que incluísse o muro. Os democratas, sempre ávidos por aprovar aumento de gastos públicos, recusam-se a liberar um orçamento de apenas $5 bilhões, que o governo federal gasta por minuto ou segundo, para tirar o muro da teoria. Agindo assim, eles demonstram não se importar tanto com as fronteiras escancaradas, e a população percebe isso. Um tema sensível para a maioria dos americanos acaba sendo negligenciado pelos líderes democratas. Má política.
E era justamente o que Trump desejava expor. Pelosi ficou tão desnorteada que, ao dar uma coletiva depois, fez o que democratas desesperados sempre fazem e arrotou arrogância. Disse que não queria dar lições ao presidente ali, na frente de todos, sendo que foi dizer isso depois, na frente de todos, só que sem a presença de Trump. Patético? Sem dúvida. O que ela realmente temia era uma resposta do presidente que a deixasse muda, de queixo no chão. Diante de Trump, os pitbulls democratas viram poodles medrosos.
O único erro de Trump nesse encontro foi ter assumido, de forma totalmente desnecessária, que o eventual “shut down” poderia ser colocado em sua conta, caso os democratas não aceitassem incluir o muro no orçamento. Por que Trump faria isso é algo difícil de imaginar, pois só há ônus, sem bônus. Talvez seja seu perfil combativo de soldado que se joga em cima de uma granada quando a vê, ainda que nenhum companheiro corra perigo.
Ao fazer isso, Trump deu a senha para os democratas: todos passaram a falar, em seguida, do “shut down de Trump”. E para muitos é apenas isso que vai ficar. Se houver mesmo o “fechamento” e algum transtorno extra para a população, vão colocar na conta de Trump, como ele mesmo aceitou, sendo que a culpa verdadeira terá sido dos democratas, que se recusam a permitir a construção do muro, uma promessa de campanha endossada pelos eleitores.
Rodrigo Constantino
Inconsistências, julgamento em plenário, Tarcísio como testemunha: o que diz a defesa de Bolsonaro
Mauro Cid reforça que não foi coagido em delação e pede absolvição ao STF
Em busca da popularidade perdida, governo anuncia alíquota zero de importação para baratear alimentos
Resultado da Petrobras justifica preocupação
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS