O presidente Trump tem um calcanhar de Aquiles, como já disse faz tempo: é sua visão mercantilista da economia. Ele deixa isso bem claro no livro que li e em vários discursos. Infelizmente não é apenas retórica: ele deixa claro em medidas também.
Sua guerra tarifária, especialmente contra a China, esconde-se atrás de um slogan bonito, mas não necessariamente verdadeiro: ele é a favor de “fair trade”, e hoje não temos um “free trade” justamente pelas manipulações chinesas e de outros países.
A solução de Trump? Ele mesmo manipular o mercado americano! Impor tarifas que afetam as empresas americanas também, não só as estrangeiras. Afinal, no complexo mundo industrial moderno, há uma cadeia de insumos e divisão de trabalho totalmente globais.
Quando as tarifas são impostas, a GM americana também sofre. A gigante está com problemas financeiros e pretende tomar decisões econômicas racionais, como fechar algumas fábricas mais caras e transferir produção para países mais baratos. Trump não gostou nada!
Entende-se o aspecto político: seus votos dependem bastante do trabalhador industrial, e ele quer ser visto como aquele que “protege empregos nacionais”. Mas a qual custo?
Eis como funciona esse tipo de protecionismo: cada emprego “salvo” custa alguns dólares extras a milhões de consumidores. Como é relativamente pouco para cada um, ninguém se une para protestar. Já os trabalhadores agraciados com o privilégio lembram muito bem de quem os ajudou.
Mas do ponto de vista econômico isso é ineficiente. Há parcela crescente de americanos acreditando que cabe ao governo impedir a “destruição de empregos” causada por avanço tecnológico ou globalização, e isso é alarmante. A América é o que é graças à liberdade de inovação, que pode machucar alguns empregos no primeiro momento, mas que garante a constante produtividade maior que melhora a vida de todos.
Trump quer como solução que a GM faça “carros melhores”. Ora, além de o presidente não ter nada que se meter nas decisões empresariais, é simplesmente superficial ignorar os motivos da perda de competitividade da GM. E eles têm ligação em parte com as políticas nacionalistas e protecionistas do presidente.
Ameaçar a empresa com o corte dos subsídios dados no governo Obama, para salvar a companhia, expõe absurdo duplo: quando tais subsídios foram dados, em vez de deixar o mercado resolver o problema, e quando um governante usa tais mecanismos para pressionar decisões estratégicas de uma empresa, refém do estado.
Está tudo errado nisso, ao menos pela ótica econômica. Pela ótica política, sei que muitos neoconservadores dirão que é preciso jogar o jogo sujo da política, e que sem essas medidas populistas os republicanos podem ser derrotados nas próximas eleições. Mas fica parecendo que a resposta para evitar tal derrota é se tornar mais e mais parecido com os adversários populistas e intervencionistas. Uma pena…
Rodrigo Constantino
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