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Trump escorrega novamente na visão mercantilista, mesmo erro de Bolsonaro

Donald Trump tem feito, em minha opinião, uma boa gestão. So far, so good, como dizem. Até aqui, nota 8. Mas ele tem seu calcanhar de Aquiles, como já apontei antes. E é justamente sua visão mercantilista de mundo, que encara o comércio internacional como um jogo de soma zero, onde para uma nação ganhar, a outra deve perder. Por essa ótica, importar é ruim, e o protecionismo é a solução.

Usando sua “arma” tradicional, o Twitter, o presidente defendeu hoje suas medidas propostas de sobretaxa a produtos importados, numa fala que Ciro Gomes e Benjamin Steinbruch assinariam embaixo, assim como Jair Bolsonaro. Eis o que ele disse:

A menos que faça parte de uma brilhante estratégia de negociação, o fato é que essa declaração está simplesmente equivocada. Se um país taxa em 50% nossos produtos, a melhor resposta não é taxar de volta seus produtos, o que apenas prejudica nossa população. Bastiat já demonstrou isso no século XIX. Taxas recíprocas não beneficiam o povo, e sim os produtores. Responder a protecionismo com protecionismo, numa guerra comercial, é uma furada.

O déficit comercial em si não é o grande problema, menos ainda se for analisado país a país. Ora, eu tenho déficit comercial com o Publix, o supermercado aqui ao lado, pois eu compro tudo nele, e ele não compra nada meu. E daí? Se cada um focar em suas vantagens comparativas, todos ganham. Assim como o livre mercado funciona melhor dentro de um país, o livre comércio (globalização) funciona melhor entre os países. Elementar.

Proteger os trabalhadores da indústria de aço à custa de quem?, deveria ser perguntado. Se os americanos tiverem que comprar aço mais caro por conta disso, a quem isso estará de fato beneficiando? Aos demais setores que usam aço como insumo? Aos consumidores que compram produtos feitos com aço? Certamente não! Mas aos poucos produtores, sem dúvida. Nós brasileiros somos especialistas nisso, não é mesmo?

Eduardo Bolsonaro, filho de Jair, fez recentemente um comentário na mesma linha, que foi muito criticado pelos liberais, com toda razão. O mais grave é que Eduardo fez o curso sobre a Escola Austríaca, mas não parece ter absorvido muito. Terá nova chance em breve, pois lançarei pelo Instituto Liberal um curso exatamente sobre esse tema em questão de semanas. Evitaria esse tipo de comentário:

Claro que a questão do avanço chinês no mundo, uma nação gigantesca sob um regime comunista opressor, é algo preocupante, que todo liberal sério deveria levar em conta. Uma estratégia para lidar com isso a longo prazo pode fazer sentido, sem dúvida, e não devemos ser ingênuos e tratar a China como um parceiro comercial qualquer.

Mas isso não justifica comentários simplesmente absurdos como os de Trump e Eduardo Bolsonaro, e nem quer dizer que a reação protecionista seja a melhor. Até porque estão falando em termos gerais, de todos os países, defendendo abertamente a política protecionista e a mentalidade mercantilista, de que cabe ao governo “proteger a indústria local”. Para isso não precisamos da direita: já temos Ciro Gomes ou Lula.

Sei que um texto que critica de uma só vez Trump e Bolsonaro será atacado por muitos seguidores meus, mas paciência. Não estou aqui para ser líder de torcida num jogo de futebol, do tipo que precisa sempre dar um jeito de defender seu “guru” não importa o que ele diga ou faça, e sim um analista independente e um defensor do que considero certo e melhor, no caso o liberalismo com pitadas de conservadorismo. Mas conservadorismo não deve ser sinônimo de protecionismo comercial, tampouco de mercantilismo.

Bola fora do “homem laranja” e também do Eduardo Bolsonaro, que certamente fala em nome do pai nesse caso, pois sabemos que Jair compartilha dessa mesma visão militar quando o assunto é comércio internacional.

Rodrigo Constantino

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