O que leva alguém rico a pagar para ter uma “experiência de pobre”? Sentimento de culpa? Curiosidade mórbida? Sensação de superioridade moral? As causas podem ser várias, como retrato na primeira parte de Esquerda Caviar. O fenômeno é complexo. Mas sempre ridículo.
Já comentei sobre o assunto aqui. Volto a ele hoje, pois saiu uma grande matéria no GLOBO indicando os destinos preferidos da elite que gosta de se fingir de pobre por alguns dias, preservando alguns confortos básicos da riqueza, só para depois retornar ao velho estilo opulento de vida. Como diz a reportagem:
Por um preço propício, os turistas mais exigentes podem conhecer em primeira mão como os mais pobres dos pobres vivem – e sem ter que sacrificar as conveniências do primeiro mundo, como wi-fi, aquecedores e banheiras de hidromassagem.
Há algo muito estranho quando a pessoa precisa encontrar regozijo na simulação da miséria alheia. É, acima de tudo, uma ofensa para com os pobres, que adorariam trocar de lugar com os visitantes de forma permanente. Sempre que ricos se fazem de pobres, no estilo de se vestir, de falar ou até no destino de suas viagens, isso é ofensivo para aqueles que, de fato, vivem naquelas situações por falta de alternativa melhor.
Alguns tentam argumentar que, ao menos, esse turismo de miséria ajuda essas comunidades carentes. Sinceramente, não é disso que essa gente precisa! Não de alguns trocados que alguns líderes das comunidades ganham para abrir as portas aos turistas curiosos. Precisam de saneamento básico, segurança, asfalto e menos impostos com mais dinamismo econômico, possíveis com o liberalismo, para que possam melhorar de vida.
Mas tais soluções levam tempo e exigem trabalho, coisas que a esquerda caviar, em busca da sensação imediata de “nobreza”, não quer saber. Para essa elite, o que importa é sair bem na foto, voltar das férias com as fotos mostrando aos amigos como são “sensíveis”, pois se colocaram na pele dos mais pobres (nem tanto, nem tanto). A própria reportagem fecha com uma visão mais racional da coisa:
O turismo da pobreza moderno, por outro lado, geralmente é caracterizado desde o começo como um esforço de responsabilidade social — muitas vezes com o objetivo de beneficiar comunidades carentes. Mesmo assim, ainda parece um pouco assustador pagar pela experiência de visitar os mais pobres como se fossem animais no zoológico.
Mas o que seria do urubu sem a carniça? O que seria da esquerda caviar sem seus mascotes, não é mesmo?