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Um dia de cão para Jair Bolsonaro

Por Luan Sperandio, publicado pelo Instituto Liberal

As últimas horas da primeira semana de governo de Jair Bolsonaro foram marcadas por uma série de declarações equivocadas e erros políticos. Tratou-se de seu primeiro dia ruim à frente do Palácio do Planalto.

Inicialmente, em entrevista ao SBT, declarou que, apesar de não ter envolvimento com a questão, tinha conhecimento sobre “os rolos de Fabrício Queiroz”, o ex-assessor de Flávio Bolsonaro e amigo da família há mais de três décadas. Assim, transmitiu certa tolerância com algo ilícito: um assessor parlamentar utilizando o expediente de trabalho para desempenhar outras atividades econômicas. Na ocasião, ainda criticou a “quebra de sigilo” de Queiroz. Ocorre que não foi isso que aconteceu, mas sim um vazamento de investigação do COAF, tal como ocorre com o Ministério Público — e que bolsonaristas costumeiramente comemoram quando se trata de adversários políticos do PT, MDB E PSDB.

Em sequência, o presidente defendeu uma reforma da previdência mais tímida que a já desidratada de Michel Temer, que tramita no Congresso e está pronta para ser votada, com uma idade mínima de apenas 57 anos para mulheres e de 62 anos para homens. O resultado foi um atrito com o Ministro da Fazenda Paulo Guedes, já na primeira reunião Ministerial.

Segundo apurou o Antagonista, o líder do Palácio do Planalto disse que espera uma proposta “mais realista”, com chances de aprovação na Câmara. Guedes rebateu e defendeu uma “reforma de verdade ou reforma nenhuma”.

Ignorando o descontentamento do “posto Ipiranga”, Bolsonaro fez sua própria exposição, aduzindo números que não fazem sentido para a equipe econômica. A queda de braço entre ambos será determinante nos próximos dias. Além do desalinhamento demonstrado, a assertiva do presidente é problemática, haja vista que é natural que o projeto a ser apresentado pelo governo se sujeite a negociações políticas, com a proposta original sendo modificada — e desidratada pelo Congresso. Destarte, é essencial que o projeto governista possua uma ‘gordura’, mas Bolsonaro já indicou um ponto de negociação aquém do ambicionado pelo mercado e do desejado por Paulo Guedes.

Em outra infeliz declaração, embora tenha admitido tratar-se de uma pauta bomba conduzida pelo então senador Eunício Oliveira, acabou por sancionar o projeto de lei que prorrogou até 2023 incentivos fiscais para as regiões da Sudene e Sudan. Para custear isso, o presidente afirmou que aumentaria a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras — medida que afirmou já ter assinado. Embora a medida seja bastante criticada, há sentido político em não vetá-la: evitar desgaste com o legislativo a fim de guardar energias para a reforma da previdência.

Contudo, poucas horas depois, foi desmentido pelo secretário da receita, Marcos Cintra, e posteriormente pelo Ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Este reafirmou o compromisso do governo com a redução da carga tributária, hoje superior a um terço do PIB, para menos de 30%. Para tanto, será necessária uma radical reforma do estado, o que, vale ressaltar, envolve principalmente uma reforma da previdência mais robusta.

Por fim, Bolsonaro ainda mostrou ressalvas à fusão Boeing-Embraer, em um discurso nacionalista, resultando em queda nas ações superior a 5% no dia devido a temores de acionistas de que isso poderia indicar riscos à operação por parte do Governo Federal.

Logo, o quarto e quinto dias de governo foram tumultuados, dignos de um filme protagonizado por Al Pacino. A despeito de, nos dias que se seguiram, ter havido declarações no sentido de alinhamento completo entre a equipe ministerial, o episódio alimenta desnecessárias incertezas.

Há um fácil aprendizado: todas essas declarações de Bolsonaro poderiam ter sido evitadas. A campanha já acabou há mais de 2 meses e o mandato se iniciou. É hora de abaixar o tom, maneirar o discurso e trabalhar para o país — e isso requer um pouco mais de cautela e melhor estratégia que o demonstrado na primeira semana.

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