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Um memorial na contramão da história

Por Percival Puggina

Os jovens que, em esfuziante demonstração de felicidade, dançavam sobre o Muro de Berlim no dia 9 de novembro de 1989 foram os primeiros a festejar a derrubada em cascata dos símbolos do comunismo. Importante lembrar aos brasileiros sequer nascidos naquela época o regime que os moços e moças de então refugaram e a liberdade que, em festa, conheceram pela primeira vez em seu próprio país. Afinal, não falta entre nós quem assedie a juventude com ideologias fracassadas e histórias mal contadas.

Nos anos seguintes, extinguiu-se a União Soviética, caíram os regimes comunistas, e os respectivos partidos no Leste Europeu se extinguiram ou mudaram a razão social. Junto com eles sumiram, também, foices e martelos e estrelas vermelhas de bandeiras nacionais.

Na Rússia, Leningrado voltou a chamar-se São Petersburgo; na Alemanha, Karl Marx Stadt recuperou o nome Chemnitz; no Montenegro (parte da antiga Iugoslávia) a capital Podgorica sacudiu de si a triste lembrança que lhe advinha do nome Titogrado. Em Berlim Oriental, bairros inteiros como Prenzlauer Berg e Friedrichshain, se livraram do abandono cinzento que lhes deixara o comunismo para ganhar novas cores e nova vida. A história tem símbolos assim.

Quem viveu sob o comunismo, sabe bem do que se libertou. Em virtude disso, em todo o Leste Europeu, incluída a super stalinista Albânia, foram tombando as estátuas e as indesejadas lembranças do totalitarismo que pesou sobre aquelas nações. Em muitos casos, o comunismo ficou fora da lei. São povos que sabem do que não sentir saudade. Foi o caso da Polônia, que tantas vidas entregou à repressão soviética. Lá, desde 8 de junho de 2010, está em vigor uma lei que proíbe a exibição de símbolos comunistas.

A Lituânia, em 2008, criminalizou a exibição pública de símbolos comunistas e nazistas. Também pudera! O pacto Molotov-Ribbentrop levou-a à ocupação pela URSS e a pequena nação perdeu 780 mil compatriotas. Aliás, em virtude desse pacto, firmado entre os dois totalitarismos – o comunismo e o nazismo – a data de sua assinatura se transformou em Dia Europeu de Memória das Vítimas dos Regimes Totalitários.

A Geórgia, em 2011, baniu os símbolos comunistas. O domínio soviético levou milhares de georgianos à morte nos gulags e destruiu 1,5 mil igrejas. Por motivos em tudo semelhantes, a Moldávia criou legislação igualmente proibitiva em 2012. Interdições também foram estabelecidas na Hungria e na Ucrânia. Esta última nação perdeu para o comunismo 5 a 6 milhões de pessoas entre a criminosa inanição causada pelo holodomor, a repressão e as mortes em combate. Há estimativas que elevam esse número para 14 milhões. Em Odessa, no sul do país, um majestoso Lênin de bronze foi transformado em Darth Vader (personagem de Guerra nas Estrelas).

Os países que conheceram os horrores do comunismo o repelem e removem suas lembranças. Tal regime não pode citar um único exemplo que não cause repulsa. Seus raros defensores não têm como mencionar, sem constrangimento, um líder sequer. Não dispõem de um solitário caso de sucesso a relatar.

Porto Alegre, não obstante, entrará para o noticiário como uma capital na contramão dos fatos, jogando pela janela da mais clamorosa ignorância o testemunho de dezenas de sofridas nações. Danem-se os fatos, as vítimas e a História! Em 1991, nossa Câmara Municipal cedeu o terreno, autorizou a finalidade da obra e será inaugurado, nestes dias, com foices e martelos, um Memorial para honra e glória do mais conhecido comunista brasileiro, desertor homicida, traidor da pátria e servo de Stálin.

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