A mídia tradicional está em crise. Não apenas os modelos de negócio se tornaram complexos com o advento da internet e a cultura do “conteúdo grátis”, mas a própria credibilidade do jornalismo independente está em xeque, especialmente após o crescimento das redes sociais como alternativa para a informação. Milhões de leitores se deram conta de que boa parte dos jornalistas tem um viés ideológico “progressista”, e que aquilo que deveria ser mais imparcial acaba parecendo propaganda partidária muitas vezes.
Os fenômenos Trump, Brexit e Bolsonaro atestam essa perda de influência da grande imprensa. Nos três casos, a maioria dos veículos de comunicação fez campanha contra os vencedores. A torcida era tão escancarada que muitos aderiram a teorias conspiratórias, de uma ocupação consciente por socialistas dentro da estratégia de tomada de poder articulada por Gramsci. Mas não é preciso acreditar que essa seja a principal razão por trás do fenômeno para percebê-lo. Os jornalistas, na maioria dos casos, são mesmo alinhados ao pensamento de esquerda, e isso influencia seus escritos, as chamadas, a escolha das pautas.
É nesse contexto que o principal jornal de Curitiba merece destaque. A Gazeta do Povo tem tradição, e o fato de completar agora seu centenário comprova isso. Mas se tratava de um jornal regional, e que era percebido pelo grande público – quando o acompanhava – como mais um entre tantos com predominância “progressista”. É verdade que a linha editorial já falava uma língua diferente, e que os proprietários sustentam crenças mais conservadoras. Mas como havia muitos jornalistas formados pela mesma escola que dos demais, era inevitável o viés comum na imprensa nacional.
Uma decisão estratégica, tomada há poucos anos, reposicionou a Gazeta no mercado. Não só pela corajosa decisão de acabar com a versão impressa diária, mas também – e principalmente – pela ousadia de dar mais espaço para vozes da direita. Vários colunistas associados ao pensamento liberal-conservador foram contratados, e tenho orgulho de ter sido um deles. Em pouco tempo o certo da decisão ficou evidente: a Gazeta cresceu muito em assinaturas e em visualizações, chegando a ser o jornal mais lido no mês das eleições.
Mas não “só” isso: a percepção do público em geral de que a Gazeta é o veículo com mais independência e forte presença de conservadores a transformou no jornal mais respeitado por inúmeras pessoas.A esquerda gosta muito de falar em tolerância e pluralismo, mas quase não pratica aquilo que prega. A Gazeta efetivamente deu voz ao contraditório, publicou conteúdo com visões que confrontavam o establishment e a hegemonia “progressista”. E isso foi reconhecido pelos leitores.
Há uma demanda reprimida por isenção ou mesmo por pontos de vista alternativos, mais à direita. Costumo questionar onde está a Fox News do Brasil, lembrando que o canal de TV mais conservador americano é um case de sucesso de audiência, enquanto no Brasil predomina a visão única mais à esquerda. Basta citar que as fontes de nossos jornalistas para assuntos internacionais são sempre as mesmas: CNN, NYT, Washington Post. Quem, além da Gazeta, publica material produzido por National Review, FEE ou Daily Wire? Quem, além da Gazeta, traduz textos de pensadores como Roger Scruton, Victor Davis Hanson, Ben Shapiro?
A Gazeta está, portanto, no caminho certo, e merece apoio – e assinantes – por isso. Suas diretrizes e valores são públicos, e representam uma visão moderna de respeito ao legado da civilização ocidental. Sem extremismos, defende aquilo que deve ser defendido, e busca sempre a verdade. Se isso não é aceito pelo público esquerdista radical, acostumado a permanecer em sua zona de conforto, tampouco tem sido totalmente compreendido pelos mais fanáticos da direita, que querem bajulação aos seus líderes políticos em vez de análise séria e críticas construtivas.
Mas é nessa independência, nessa coragem de defender aquilo que acredita e de efetivamente praticar o pluralismo, que está a maior força da Gazeta. Ao continuar nessa trajetória, o próximo centenário estará garantido, e o papel crucial de “poder moderador” na construção de um país melhor e mais livre estará cumprido. Uma missão nobre, sem dúvida.
Artigo originalmente publicado na Gazeta impressa
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