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Um século para a igualdade de gênero nos salários: onde está a falácia?

Tem sido amplamente divulgada a pesquisa do Fórum Econômico Mundial sobre a discrepância nos salários de homens e mulheres, que levaria até um século para desaparecer por completo. Eis um trecho:

Para que homens e mulheres de todo o mundo alcancem a igualdade plena de gênero estima-se que serão necessários mais 170 anos, anunciou, ontem, o Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), em Genebra. No Brasil, este número cai para 95 anos, como mostra o relatório anual da organização suíça, sem fins lucrativos, sobre o tema. O país ficou na 79ª posição no ranking global deste ano. Em 2015, havia ficado na 85ª. Mas sua pontuação subiu apenas 0.687, sendo que 1 seria o desempenho ideal.

Esforços dos países para fechar as lacunas sobre os salários e sobre a participação da força de trabalho teriam diminuído drasticamente no ano passado. As últimas estatísticas previam que o fosso econômico entre os gêneros poderia fechar em 118 anos, mas o progresso vem “desacelerando, parando ou revertendo” em nações ao redor do mundo, de acordo com o índice divulgado. Na lista geral, a Islândia e a Finlândia ficaram em primeiro lugar por seu progresso de igualdade na educação, na saúde e sobrevivência, na oportunidade econômica e no poder político. Os seguintes foram Noruega e Suécia, seguidos de Ruanda, que melhorou na participação econômica e na igualdade de renda, além de ter a maior proporção de parlamentares do sexo feminino no mundo, disse o WEF.

Ninguém pode ser a favor do preconceito no mercado de trabalho. Mas será que é isso mesmo que está por trás dos salários médios menores para as mulheres? Em Esquerda Caviar, dediquei um trecho de um capítulo a essa falácia:

Outra grande bandeira das feministas é alegar que há discriminação de sexo e, como evidência, mostrar o salário médio mais baixo das mulheres. Essa análise simplista é mais um exemplo de uso indevido de estatísticas espúrias. Afinal, a média pura e simples ignora que elas tendem, ao longo da vida, a se afastar mais do trabalho por questões de família (da última vez que verifiquei ainda eram as mulheres que engravidavam), ou a escolher trabalhos mais flexíveis por conta disso. Óbvio que isso afeta a remuneração, reduz as chances de promoções no decorrer da carreira etc.

Além disso, os salários mais altos costumam estar ligados à engenharia ou a campos similares, que possuem presença masculina desproporcional. Empregos arriscados ou que demandam força também atraem mais os homens, e o salário de um bombeiro tende a ser maior que o de uma secretária.

Portanto, quando são levados em conta fatores como qualificação, carga horária, risco de afastamento do empregado por gravidez e coisas do tipo, o hiato salarial desaparece! O que faz todo sentido econômico: se mulheres realmente ganhassem menos que os homens para o mesmo valor produzido, naturalmente os empresários mais gananciosos contratariam somente mulheres e levariam à bancarrota seus concorrentes machistas, com mão de obra mais cara e menos competitiva.

Essa mesma lógica é válida para o racismo. Walter Williams, em Race and Economics, defende a tese de que o livre mercado expõe e ataca a ineficiência do racismo. Vale para raça, gênero, qualquer forma de discriminação. A teoria econômica não pode responder a questões éticas; mas pode exibir as consequências de medidas tomadas em seu nome.

O que o autor mostra é que diversos problemas que os negros americanos enfrentam não têm ligação com a discriminação racial. Ele, que é negro, não nega que tal discriminação existe; apenas demonstra que as principais causas dos problemas estão em outro lugar. E quais seriam estas causas, então? O que fica evidente ao longo do livro é que as regulamentações impostas pelo governo representam o grande vilão dos negros, especialmente os mais pobres.

Uma das formas básicas de alguém com menor produtividade competir no mercado de trabalho é justamente aceitar um salário mais baixo. A demanda por remunerações equivalentes para trabalhos equivalentes vem de quem já está empregado e deseja reduzir a concorrência. O autor mostra inclusive que esta lógica não escapou aos principais proponentes das leis trabalhistas. Os sindicatos se uniram para impedir a entrada maciça dos negros no mercado de trabalho.

Estas leis tornam o custo da discriminação racial nulo. No livre mercado, se o empregador se recusar a contratar alguém por causa da “raça”, pagará um preço por isso, seja por limitar a quantidade de candidatos às vagas, seja por deixar de empregar gente mais produtiva pelo mesmo salário. Neste caso, basta o concorrente ignorar o racismo para ser mais eficiente. Com o tempo, a tendência é o empregador racista ir à bancarrota.

Em suma, Williams defende o fim das restrições legais ao mercado de trabalho como melhor medida para ajudar as minorias, incluindo os negros. O livre mercado é impessoal e foca nos resultados. Esta é a mais poderosa arma contra qualquer tipo de discriminação.

Mas os coletivistas não querem saber dessa lógica, pois estraga a “marcha das vítimas oprimidas”. Em vez disso, ajudam a criar várias leis que acabarão prejudicando as próprias mulheres, negros, gays. Criam-se várias regalias para “proteger” o sexo feminino, por exemplo, e o patrão, desesperado com os custos dessa benesse toda, opta pela contratação de um homem mesmo. Consequências indesejadas das boas intenções.

Quando a mulher realmente mergulha no trabalho, desfruta das mesmas chances de sucesso que os homens. É uma questão de escolha, de abrir mão de outro estilo de vida. Cada vez mais mulheres conquistam posições de destaque, e isso não se deve a nenhum tipo de privilégio estatal.

Em maio de 2013, por exemplo, Claudia Sander se tornou presidente da TAM aos 38 anos. Para desespero das feministas, Claudia chegou lá por meritocracia, é bonita, formada em engenharia com MBA em Harvard, e não precisou apelar para vitimização alguma. Alguém consegue ver uma pobre oprimida nisso?

A presidente mundial do site Yahoo!, Marissa Mayer, segue o mesmo perfil. É uma cientista da computação, foi vice-presidente de serviços geográficos e locais do Google e, em julho de 2012, nomeada presidente e diretora-executiva do Yahoo!, por reconhecimento a seu mérito. Vítima? De quem?

[…]

Obama posa, como todo grande esquerdista caviar, como protetor das minorias, incluindo a maioria feminina. Sua retórica é toda voltada para o combate ao machismo, que supostamente reduz o salário das mulheres (falso, como já vimos). Curiosamente, quando Obama era senador, as suas funcionárias recebiam um salário médio de quase US$ 45 mil por ano, contra mais de US$ 57 mil da média masculina.

Para acrescentar insulto à injúria, o concorrente das primeiras eleições presidenciais de Obama, John McCain, pagava não só 24% de salário médio feminino a mais que Obama, como suas funcionárias  recebiam mais que os homens da equipe. McCain, o Republicano, fechara o gap e invertera a equação, tudo sem a necessidade de leis estatais como as defendidas por Obama.

Pergunte se a grande imprensa explorou esse abismo entre discurso e prática nas eleições. Claro que não! E Obama colheria os frutos de seu sensacionalismo em prol das “minorias”, recebendo uma quantidade desproporcional de votos dessas categorias de eleitores. O populismo vende bem.

Vamos tomar mais cuidado com as conclusões precipitadas com base em certas estatísticas por aqueles ávidos demais em encaixar os fatos dentro de suas teorias. Dominados pela “ideologia de gênero”, em meio a uma “marcha das minorias oprimidas” e uma verdadeira “revolução das vítimas”, os pesquisadores, jornalistas e mesmo economistas parecem torturar os dados até que eles confessem aquilo que se deseja provar.

Os americanos estão prestes a eleger a primeira presidente mulher, o Brasil já o fez (e que desgraça foi) e a Alemanha tem uma premier mulher, mas o discurso de vitimismo de gênero ainda cola, pois rende bons frutos, como poder e dinheiro. O machismo, o preconceito, a discriminação com base no sexo, tudo isso pode e deve ser condenado. Mas tomando-se o devido cuidado de não cair em falácias, de não forçar a barra para fazer o ponto, de não confundir diferenças naturais e complementares com conflito de classes ou guerra dos sexos.

Quem enxerga conflito em tudo é a esquerda. Dividir para conquistar, eis sua máxima. Os demais deveriam lutar por uma visão de mundo em que indivíduos cooperam, independentemente do sexo ou da classe. É perfeitamente possível que mulheres tenham um salário médio abaixo dos homens sem qualquer preconceito como causa dessa discrepância. Quem busca a igualdade plena odeia as diferenças, e deveria ter nascido um inseto gregário, não um ser humano.

Rodrigo Constantino

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