A esquerda perdeu o rumo. Por um lado, isso é bom, pois o rumo que tinha sempre foi terrível, em direção ao abismo. Mas o fato é que nossa esquerda está desnorteada, sem saber o que defender, horrorizada diante do avanço “conservador”. A fadiga de poder, após mais de 12 longos e infindáveis anos de PT no governo, toda a corrupção que já veio à tona (e ainda falta muita coisa, como no BNDES), a visível incompetência na gestão da economia, a criminalidade em alta enquanto os “intelectuais” viram as costas para o povo vítima dos marginais, tudo isso contribuiu para a decadência da esquerda.
Por ser quase hegemônica há décadas, nossa esquerda se acomodou, e hoje seus principais “pensadores” são figuras caricatas, repetidores de slogans marxistas ultrapassados, defensores do indefensável: um governo corrupto e autoritário que, para ser apenas medíocre, ainda teria que melhorar muito. Os “intelectuais” de esquerda não conseguem mais debater de forma séria, precisam apelar para ataques pessoais, tentar monopolizar as virtudes. Nunca leram Mises, Hayek, Burke, Scruton, Dalrymple, Oakeshott, Berlin, etc. Perderam, uma vez mais, o bonde da história e não conseguem encantar nem mesmo as massas mais ignorantes.
Diante desse quadro, em que os liberais e conservadores viram até objeto de estudo acadêmico para se compreender seu sucesso e avanço, o que fazem os velhos ícones da esquerda? Algum tipo de mea culpa? Alguma reflexão séria sobre os motivos que trouxeram a esquerda até esse abismo? Nada disso. Se assim agissem não seriam mais esquerda. Insistem nos mesmos erros, repetem que o problema ainda é o “neoliberalismo”, demandam mais esquerdismo como solução para o fracasso esquerdista!
Como exemplo, podemos ver o artigo de Cid Benjamin publicado hoje no GLOBO. Benjamin tornou-se um crítico voraz do PT, de Lula em especial. Mas o que ele quer é mais esquerda! Essa gente condena o PT e passa a aplaudir o PSOL, o PT de ontem (e ainda sua linha auxiliar). Não aprenderam absolutamente nada com os próprios erros! Acham que o PSDB é conservador (que piada). Abaixo, alguns trechos do artigo (volto depois):
Na economia, é preciso substituir as medidas que trazem mais sacrifícios aos trabalhadores por outras, que apresentem a conta da crise aos ricos: a queda da taxa de juros; a cobrança do imposto sobre grandes fortunas; o aumento da taxação de grandes heranças; mudanças na área tributária para que, por exemplo, assalariados que ganham R$ 4.700 por mês não acabem pagando um percentual maior do que os bancos; o fim da isenção de impostos sobre a distribuição de lucros e dividendos, que representa a maior parte da remuneração dos grandes executivos etc.
Por isso, é urgente a conformação de uma ampla frente que incorpore partidos, segmentos de partidos, entidades democráticas e populares e personalidades, mas que, sobretudo, se abra para a sociedade e para aqueles setores e cidadãos interessados em mudar o quadro político.
Disso depende a possibilidade de uma saída progressista para a atual crise. Sem ela, o reacionarismo que vivemos continuará a crescer. O resultado será mais retrocesso e mais sacrifícios para os trabalhadores.
Ou seja: vamos migrar mais rápido na direção da Venezuela! É o que propõe o esquerdista decepcionado com o PT. É um espanto! Essa turma é incapaz de evoluir. Continua presa nos tempos da Guerra Fria, ou antes, em 1917! Acha que é preciso atacar os mais ricos para ajudar os mais pobres. Acha que precisa condenar o lucro para favorecer o trabalhador. Acha que financiamento público de campanha é a solução. Esses “progressistas” querem um “progresso” que nos levaria de volta ao fracassado socialismo!
Abaixo, um texto antigo meu, mostrando por onde deve ser a verdadeira saída:
A saída pela direita
“Se a incoordenação social da liberdade econômica é um defeito, maior, socialmente, é o defeito que nasce de essa liberdade se coordenar.” (Fernando Pessoa)
No pós-guerra, a Europa encontrava-se devastada. O desemprego era de dois dígitos, a economia estava estagnada e a auto-estima estava em baixa. Com este quadro, o governo assumiu um papel relevante para o desenvolvimento da região e retomada de investimentos. As teorias de Keynes pareciam ser leis divinas. O Estado, em todos os países da região, cresceu demasiadamente. Durante alguns anos, sentiu-se o efeito positivo dessa intervenção, tida como necessária na época. Mas com o tempo vieram as conseqüências inevitáveis.
A Inglaterra vivia com uma taxa de juros de 16%, a inflação chegando a 24% e um déficit governamental explosivo. As greves eram regra, não exceção. Os sindicatos eram grandes monopólios de empregos, tornando o mercado de trabalho completamente inflexível. A Inglaterra estava em decadência, criada por um estatismo descabido e exagerado, similar ao francês. Para tornar as coisas ainda piores, veio a crise do petróleo em 1973, levando ao decreto de estado de emergência em Londres.
Nesta época, ganhava maior expressão no meio acadêmico o Institute of Economic Affairs, escola liberal que serviu como plataforma para dois grandes nomes que alteraram o rumo da história econômica: Hayek e Milton Friedman. O instituto, através de panfletos, livros e seminários, divulgou as idéias liberais pela Inglaterra, propiciando maior esclarecimento quanto aos fundamentos econômicos. Plantou, no campo das idéias, as sementes necessárias para alterar o rumo da nação.
Em 1979, Margaret Thatcher se tornou Primeira Ministra, a única mulher a ocupar este cargo. Junto com Keith Joseph, seu mentor e braço direito, Thatcher deu tudo de si para divulgar suas idéias liberais e alterar os paradigmas pré-concebidos de Estado super protetor. Eles falaram o inimaginável. Declararam que a Inglaterra precisava de um setor privado forte, criador de riqueza, espírito empreendedor, pessoas que tomassem riscos. Falaram que a Inglaterra precisava de mais milionários e mais bancarrotas. De mais mercado e de menos governo. O grande influenciador desta guinada era Hayek, que Thatcher citava sempre, além de carregar seu excelente livro The Constitution of Liberty na bolsa.
Os desafios pareciam insuperáveis. Margaret era minoria dentro de seu próprio partido. Suas idéias liberais iam contra o consenso da época, calcado num nanny estate estilo keynesiano. Além disso, o poder dos sindicatos era tremendo, e as greves ficavam cada vez mais violentas. Thatcher chegou a afirmar que os dois maiores problemas da economia inglesa eram os monopólios de indústrias nacionalizadas e o monopólio dos sindicatos. Guerra a ambos foi declarada.
Em conjunto com estes esforços, os gastos do governo foram duramente cortados, revertendo uma tendência de quase quatro décadas. Mesmo com essas duras medidas, a situação não estava melhorando rapidamente, e a segunda crise do petróleo, em 1979, fazia suas vítimas. A popularidade de Thatcher estava em baixa, quando a Argentina declarou guerra em 1982 ao invadir as Falkland Islands, ou Ilhas Malvinas. A dura resposta de Thatcher, seguida da vitória relativamente rápida, transformaram a posição de Thatcher em casa. Este poder maior ajudou enormemente a revolução de mercado promovida por Thatcher.
O grande passo rumo à mudança se deu com as privatizações de setores estratégicos. Estas empresas haviam provado serem ineficientes, inflexíveis, pressionadas politicamente e com grande excesso de quadro de pessoal. Planejamento central e nacionalização haviam falhado. Havia chegado a hora de testar o novo. Os commanding heighs da economia seriam passados para mãos privadas, após perderem rios de dinheiro em mãos públicas. Ocorreu uma guinada no foco em produção para o foco no consumidor. Este era quem mandava, e suas demandas deveriam ser atendidas pela competição entre produtores diferentes. Em 1984, este movimento teve seu pico com a venda da British Telecom. A forte melhoria nos serviços pôde ser imediatamente sentida, além de aumentar a arrecadação de impostos do governo, graças a rentabilidade melhor da empresa. O desemprego não caiu no começo, mas em 1990 a Inglaterra já possuía a menor taxa da Europa.
A revolução estava feita, e a Inglaterra assumiu uma posição de destaque na região e no mundo. Provava para todos que um novo modelo econômico fazia mais sentido. Um modelo direcionado à economia de mercado, com menos governo, que passou a assumir mais uma posição reguladora. Um modelo com imperfeições, como qualquer outro, mas infinitamente mais eficiente que os demais. A receita estava definida, e os países que sabiamente souberam segui-la coletaram os benefícios, enquanto tantos outros optaram por manter as utopias socialistas e um Estado paternalista. Estes foram ficando cada vez mais sem competitividade internacional, verdadeiros dinossauros num mundo globalizado, culpando sempre o capitalismo por seus próprios erros.
O leitor é livre para escolher o caminho que lhe parece mais adequado: esquerda ou direita. De um lado, há os exemplos da Venezuela, Cuba, Argentina. Do outro, os países ricos e desenvolvidos. Ele pode escolher qual caminho seguir; só não pode fugir das consequências da má escolha.
Rodrigo Constantino
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