Por Jefferson Viana, publicado pelo Instituto Liberal
Na semana passada, alguns comemoram enquanto outros lamentavam o golpe ou a revolução de 1964, uma intervenção militar que derrubou o presidente João Goulart, que instituiu o governo militar no Brasil e que durou vinte e um anos. Nesse período, principalmente entre os anos de 1973 a 1985, deixou um pequeno legado na nossa forma de enxergar a economia do país. Infelizmente, esse legado não trouxe bons resultados.
João Goulart enfrentava uma superinflação: no ano de 1962, a inflação era de 50% e no ano seguinte a inflação subira para 75%. A economia brasileira registrava uma contração da renda da população pela primeira vez após a Segunda Grande Guerra. No ano de 1964, a inflação anual prevista pelo governo federal era de 140%, a maior do século. As greves duplicaram: em 1962, aconteceram 154 greves, enquanto em 1963, foram 302. O governo irresponsável tinha acumulado um déficit equivalente a um terço do total das despesas públicas. E enquanto isso, Jango apelava para medidas populistas, como o tabelamento dos aluguéis, a expropriação as terras que estavam a um raio de dez quilômetros dos eixos rodoviários e ferroviários nacionais para dar início à sua infame reforma agrária, e a estatização das refinarias de petróleo privadas, com isso ganhando o apoio do PCB (Partido Comunista Brasileiro), que à época era um partido bastante influente.
Naquele momento, um golpe, seja ele da direita ou da esquerda parecia inevitável, como diziam os próprios apoiadores de Goulart, como Miguel Arraes, governador de Pernambuco e seu cunhado e governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola. O contexto político mundial era o do auge da Guerra Fria e Cuba (sempre ela e seu Fidelzinho) tinha sido o primeiro caso de sucesso dos comunistas. O perigo do socialismo na América era real para todos os países. Diversos países caíram em mãos vermelhas e outros caíram em ditaduras de direita para tentar travar o avanço socialista.
Assim se deu, em termos gerais, a queda de Goulart e a tomada do poder pelos militares. O general Humberto de Alencar Castello Branco era um chefe militar respeitado, um herói de guerra e fora um chefe admirado da seção de operações da Força Expedicionária Brasileira. Assumiu o controle da nação, fazendo um bom governo e preparou as bases para o “milagre econômico”. E é sobre este suposto “milagre econômico” que trataremos a seguir e como este legado tem sido aplicado até os dias atuais.
Durante o início da década de 1970, o presidente General Emílio Garrastazú Médici, tinha com uma equipe econômica composta por bons nomes tais como Roberto Campos, mas também tinha um nome maldito na área – e que está na estrutura governamental até os dias de hoje – o keynesiano Delfim Netto como Ministro da Economia. A política econômica deste período baseou-se em algumas medidas bem conhecidas até hoje: emissão de moeda; aumento do endividamento interno com os empréstimos que o país fez com o Banco Mundial e com o governo inglês, a fim de realizar obras de infraestrutura importantes até hoje, como a usina hidroelétrica de Itaipu, a usina nuclear em Angra dos Reis e a ponte Rio-Niterói; um imenso arrocho salarial combinado com a inflação; e a crise dos produtores de petróleo em 1973.
Nesse contexto, assume a presidência o general Ernesto Geisel, que é onde a história da herança maldita começa a aparecer. A farra e a propaganda uma hora teriam que acabar e Geisel podia ter perdido a conta dessa festa. O problema é que a farra não podia acabar justamente naquele momento, pois Geisel precisava manter o ritmo de crescimento econômico para continuar dando respaldo aos militares. A crise dos produtores de petróleo foi uma imenso infortunio e tentando contornar isso, Geisel criou o PROÁLCOOL para incentivar o uso do álcool combustível nos carros, substituindo a gasolina.
Todavia, o Brasil era muito dependente do dinheiro gerado pelo petróleo e, com os preços dos derivados de petróleo elevados, freou-se os investimentos do Brasil com a diminuição do crescimento dos países da Europa e dos EUA, nossos principais parceiros. Havia combustível para abastecer os carros, mas não havia mais o dinheiro que gerou o “milagre”. O PIB cresceu; não tão vigorosamente como nos anos do “milagre”, porém. Os salários encolheram e a inflação começou a subir com força, corroendo o poder de compra das pessoas. Além disso, o endividamento externo também aumentou substancialmente, o que se tornaria um problema posterior. Deste modo, aumentou-se a máquina pública, criando mais e mais empresas estatais e, por consequência, aumentou o número de funcionários públicos no governo federal. Para sustentar esta estrutura a saída foi aumentar os impostos, o que reduziu ainda mais o poder de compra da população brasileira no período.
A “solução” de Geisel não é diferente realizada nos dias de hoje. Ao que parece, o PT aprendeu como (não) governar com Ernesto Geisel, já que se pode estabelecer um paralelo entre os dois governos, uma vez que os dois governos ocorreram em períodos de crise. O PT está em uma corda bamba, na famosa “síndrome do cobertor curto” e valendo-se de negociatas para se manter no poder. Geisel, no entanto, não teve a mesma sorte.
O funcionalismo público, a maldição brasileira, teve seu início mesmo em 1973. Em alguns momentos nos governos Collor, Itamar e FHC essa herança se ofuscou um pouco. Mas, infelizmente, essa herança da época militar voltou à nossa economia, causando grandes danos sob a gestão da presidente Dilma Rousseff, com uma péssima gestão da área econômica. E como sempre, quem tem que pagar essa conta é a população brasileira, seja ela a dos anos 1970 ou a da nossa geração.
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