Já me manifestei sobre o absurdo de divulgarem conversas particulares sem teor ligado às investigações criminais, que levaram à saída de Reinaldo Azevedo da Veja. É verdade que, ao me apressar, atribuí o vazamento à Procuradoria-Geral da República, de Rodrigo Janot, que era alvo constante de ataques do articulista. Parece que foi o próprio STF que liberou mais de duas mil gravações não ligadas às investigações criminais.
Isso fez com que muita gente séria saísse em defesa da divulgação dessas conversas. Mas não compro essa tese. Alguém acha que o Buzzfeed “tropeçou” por acaso na conversa entre Reinaldo e Andrea Neves, entre mais de duas mil? Alguém acredita que não houve a informação de cima para prejudicar o crítico da Lava Jato e, assim, intimidar qualquer um que ouse seguir na mesma linha? O simples fato de tais conversas particulares e desimportantes para as investigações se tornarem públicas já é por demais preocupante!
Confesso que fico até constrangido de ver, ainda que pelos motivos errados, gente como Sakamoto e Maria do Rosário condenando a atitude de vazarem tais conversas e defendendo não Reinaldo Azevedo em si, mas o princípio do sigilo entre jornalista e fonte (ainda que o jornalista seja mais um marqueteiro de um partido e a fonte seja uma querida amiga).
Enquanto parte da “direita” comemora porque o alvo em questão é Reinaldo, sem se importar muito com o aspecto mais ético da coisa ou mesmo com a liberdade de todos nós (e dando até razão à alcunha de “direita xucra” criada pelo blogueiro), a esquerda, inclusive aquela radical, colhe os frutos com a imagem de “defensora de valores e princípios”, mesmo quando envolve um suposto adversário. É péssima estratégia dessa direita, e é preocupante pelo pouco apreço às liberdades individuais e ao jornalismo.
Mas o estrago está feito. E Reinaldo também está fora da Jovem Pan, segundo ele por motivos que antecedem o preocupante episódio. De quê Reinaldo vai viver agora, ele que tinha tantos empregos e se gabava disso? Sem maldade, eu tenho uma sugestão que me parece adequada, e José Aníbal que me perdoe: ele poderia assumir a presidência do Instituto Teotônio Vilela, “think tank” do PSDB.
Estaria assim em casa, e poderia continuar a defender os tucanos com unhas e dentes sem fazê-lo sob o verniz de jornalista independente, de ultralegalista defensor do Estado de Direito (e onde ele está mesmo, Reinaldo?), ou pior, de defensor do liberalismo. Tudo ficaria mais às claras. Aquilo que todos já perceberam – que Reinaldo seguia uma pauta de interesses dos caciques tucanos – seria finalmente oficializado, sem a necessidade de perda de credibilidade jornalística.
Repórteres investigativos têm fontes. Colunistas de opinião deveriam explicitar quando estão seguindo orientações de partidos. O que foi feito com Reinaldo, da forma que foi feito, não é aceitável. Mas que compromete sua reputação, isso está evidente. A única forma de ele sair dessa com emprego e com alinhamento de interesses é assumir o instituto tucano.
Tem capacidade intelectual para isso. Já fazia um bom trabalho em defesa do PSDB. Agora simplesmente faria o mesmo de forma mais transparente, e talvez menos eficaz por isso mesmo. E, oficialmente no PSDB, deixaria mais claro que não fala em nome de nós, liberais, mas sim dos social-democratas de centro-esquerda, que costumam ficar felizes, em vez de horrorizados, com elogios de petistas. Penso ter encontrado a solução ideal nessa confusão toda.
Rodrigo Constantino