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Uma vez tucano, sempre tucano: para fechar com o “centrão”, Dr. Bumbum vende alma ao diabo

Após longo tempo de indefinição, a cúpula do Centrão finalmente decidiu nesta quinta-feira (19) que vai apoiar Geraldo Alckmin (PSDB), impondo uma derrota a Ciro Gomes (PDT) na disputa pela Presidência da República. O anúncio oficial do acordo só deve ocorrer daqui uma semana, na próxima quinta-feira (26). Até lá, os comandos de DEM, PP, PR, SD e PRB vão informar as instâncias inferiores de seus partidos e resolver questões de alianças nos estados. Apesar do poder que têm sobre suas legendas, os líderes têm que contornar divergências internas provocadas, principalmente, por acordos regionais.

Com o apoio do Centrão, Alckmin, que tinha sozinho 1 minuto e 18 segundos na propaganda eleitoral na TV (em cada bloco de 12 minutos e 30 segundos), somará 4 minutos e meio, quase 40% de toda a fatia da disputa. Adversário histórico do PSDB, o PT, que ainda não fechou nenhuma aliança, tem 1 minuto e 34 segundos.

Logo após se reunirem na residência oficial da presidência da Câmara, em Brasília, representantes do bloco viajaram a São Paulo para encontrar Alckmin. Participaram do encontro ACM Neto, Rodrigo Maia (ambos do DEM), Marcos Pereira (PRB), Paulinho da Força (SD), Agnaldo Ribeiro (PP) e Luis Tibé (Avante). O PR não mandou representante, mas avalizou o acordo.

Segundo a reportagem apurou com participantes da reunião, o presidenciável se comprometeu, se eleito, a avaliar com o Congresso uma alternativa de financiamento para os sindicatos, que ficaram sem dinheiro após o fim do imposto sindical. Outro compromisso do tucano foi apoiar a candidatura de Eduardo Paes (DEM) ao governo do Rio de Janeiro.

Alckmin, com seu jeito de tucano, vem costurando sem alarde as alianças com o establishment, paciente, correndo e comendo pelas beiradas, e hoje cresceu no mercado de apostas, tornando-se mais competitivo do ponto de vista eleitoral. Se será suficiente para estar no segundo turno ainda não sabemos.

É de esquerda seu partido, claro, e representaria “mais do mesmo”. Melhor do que PT, sem dúvida, mas isso é pouco, muito pouco. Se for para desbancar o Ciro Gomes, menos mal. Não sou daqueles que repete que todos à esquerda são exatamente iguais, pois isso é bobagem. Cansamos e muito do PSDB, com toda razão. Mas sempre defendi que o PSDB não é igual ao PT ou ao Ciro. E não é.

Mas é pusilânime e esquerdista. E para atrair o “centrão” fisiológico, o chuchu vendeu a alma ao diabo. Eis o trecho mais relevante da notícia:

Um dos itens apresentados na reunião foi uma condição de Paulinho da Força (SD-SP): o compromisso de um novo modelo de financiamento de sindicatos. Com o fim do imposto sindical, que obrigava os trabalhadores a contribuir com as associações, a fonte de dinheiro de seus colegas começou a secar. Paulinho, o principal dirigente da legenda, é oriundo da Força Sindical e defende o interesses dos grupos organizados. Segundo um dos participantes, Alckmin aceitou discutir o assunto.

Eis aí parte do preço da aliança: a volta do imposto sindical disfarçado, proposta de Paulinho da Força. Alckmin seria “mais do mesmo”, esse esquerdismo podre, esse establishment corrupto e essa postura acovardada diante dos inimigos dos trabalhadores do Brasil. É dureza…

Em 2006, quando Alckmin disputou o cargo contra Lula, ele conseguiu a façanha de ter menos votos no segundo turno do que no primeiro. Entre as causas está aquela patética decisão de virar um outdoor ambulante de estatais, ao ser “acusado” de privatista. Eis a típica postura tucana.

O PSDB gostaria de ser reconhecido pelo PT como um partido de esquerda, pois é isso que ele é e sempre foi. Uma esquerda mais moderada, que seja, que aprendeu um pouco de aritmética e não despreza totalmente o mercado. Mas ainda assim esquerda, “progressista”, defensor de cotas raciais, de “welfare state”, de MST, da marcha das “minorias oprimidas” etc.

Como o espaço à direita, que sempre ficara desocupado e garantia vasto eleitorado como refém dos tucanos, foi ocupado dessa vez por Bolsonaro, Alckmin resolveu flertar ainda mais com a esquerda. E o resultado está aí: o Dr. Bumbum se aproximou, em troca de máquina partidária e tempo de TV, do que há de pior na política, aceitando “conversar” sobre questões que deveriam ser inegociáveis.

A reforma trabalhista foi a maior conquista do governo Temer, asfixiando as máfias sindicais. A turma reagiu, pois óbvio que não largaria facilmente o osso. Mas a Justiça deu ganho de causa para os reformistas, e os recursos sindicais, obtidos na marra, despencaram. Sindicalistas, desesperados, já começavam a ter pesadelos com a ideia de que teriam de trabalhar mesmo para se sustentar.

Aí vem o chuchu e acena para eles com uma possibilidade de retorno do imposto sindical, dá uma piscadela para os parasitas. É um tiro no pé análogo ao momento das jaquetas: vai crescer um pouco nas pesquisas, por conta da força da máquina, mas não vai alçar voo. Esse jogo covarde de morde e assopra já cansou. Todos aqueles moderados e mais à direita estão revoltados, e com razão. Preferem uma aventura incerta com o capitão do que a volta dos pelegos.

Alguns do mercado financeiro alegam que se esse for o custo para se aprovar uma reforma previdenciária, paciência. Foco economicista demais. O clima é de revolta contra políticos tradicionais sem convicções, sem força para bater de frente com essa camarilha que destruiu nosso país. Alckmin seria frouxo ou mesmo camarada de invasores de terra, de sindicalistas exploradores, de “progressistas” indecentes. Ninguém aguenta mais!

Posso estar enganado, mas acho que, em troca de alguns pontos extras nas próximas pesquisas, Alckmin deu um tiro no pé: não vai seduzir a extrema-esquerda, que considera o PSDB de “direita”; e não vai seduzir a direita, que está saturada dessa pusilanimidade tucana. Pode atrair alguns sem ideologia e dispostos a vender voto para cabos eleitorais. Mas é só.

Entendo até o desespero: ele não saía do um dígito nas pesquisas, deixando seus companheiros impacientes, a ponto de FHC lançar vários balões de ensaio como alternativa. Precisa se mostrar viável, avançar um pouco nas pesquisas, e o que restou foi o acordo com o “centrão” em troca da máquina. Mas ainda tenho para mim que o Dr. Bumbum fez uma cagada.

Para votar na esquerda mesmo, haverá Ciro e provavelmente Haddad, além da Marina Silva. E quem quer mudança, uma guinada à direita, certamente saberá que Alckmin está muito longe de representar isso. E dessa vez há alternativa…

Rodrigo Constantino

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