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Por Rafael Hollanda, publicado pelo Instituto Liberal

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Daqui a exatos dois dias, os britânicos irão às urnas decidir a mais importante matéria posta em questão em toda a história moderna do País: se permanecem ou retiram-se da União Europeia. A questão é extremamente polêmica e se tem visto defesas pertinentes de ambos os lados da moeda. Mas, diante do nefasto rumo que as políticas da União Europeia tomaram, cada vez mais intervencionista e se mostrando uma grave ameaça às liberdades individuais dos britânicos, a saída seria a melhor alternativa para o País, iria restaurar sua soberania nacional e passaria, novamente, a desfrutar de algo que a Europa não conhece há tempo: o poder de decidir sobre o próprio rumo.

A União Europeia surgiu em 1957, com o nome de Comunidade Econômica Europeia, em um cenário bastante peculiar, logo após o fim da Segunda Grande Guerra que devastou o continente politica e economicamente. Profundamente traumatizados, os idealizadores da comunidade, tais como o premiê alemão, Konrad Adenauer, e o presidente da Itália, Alcide de Gasperi, reuniram-se e chegaram à conclusão de que as manifestações de caráter nacionalistas haviam sido a causa da ruína do continente. A partir daí, os líderes europeus trataram de construir uma verdadeira onda de repúdio a ideia de sentimento nacional e advogar pela ideia de um governo transnacional que unisse os povos da Europa em torno de interesses comuns e conseguisse, com isso, uma paz duradoura. O problema é que este ceticismo com o nacionalismo e o patriotismo se transformou em uma repulsa generalizada e oficial.

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O repúdio a qualquer demonstração de identidade nacional não só se fortaleceu desde aquela época como se converteu em um imperativo categórico dentro da União Europeia. O Partido Socialista Francês tem em suas diretrizes que seu objetivo é a integração total da França na “Europa unificada e nas suas instituições”, o Rei emérito da Espanha, Juan Carlos I, disse em sua carta de abdicação que um dos objetivos de seu dever real que ele mais se orgulhava de ter cumprido era o da integração da Espanha na União Europeia, as crianças na Suécia, são ensinadas desde a mais tenra idade a olhar seu País como uma pátria de brancos opressores, preconceituosos e imperialistas. Em um caso mais extremo, o recém-eleito presidente da Áustria, Alexander van der Bellen, disse certa vez que quem ama a Áustria é um merda. Ele não só disse isto, mas como também tal expressão foi veiculada em uma propaganda do seu partido.

A União Europeia penetrou a fundo na ideia de que as nações são as culpadas por todos os males que passou a desconfiar até mesmo daquilo que a forma: os seus povos. Ela tornou-se uma ameaça a democracia na Europa, agindo via tribunais continentais europeus e criando uma legislação transnacional que passa por cima das legislaturas nacionais e das soberanias populares, criando uma classe política não eleita que exerce domínio sobre todos os países da região e que cria leis em discussões a portas fechadas e de caráter legalmente irrevogável e sem nenhuma transparência. Em suma, se a União Europeia fosse submetida a cláusula democrática que ela exige dos Países que desejam tornar-se membros dela, ela mesma não seria aceita.

Tratando-se do protagonista deste artigo, não é necessário aprofundar-se no estudo da história do Reino Unido para perceber que os britânicos tem um grande orgulho daquilo que seu país significa para o mundo e das suas tradições que, por si só, ressaltam e colocam em primeiro plano a ideia de “nação”: sua monarquia milenar e o poder que seu simbolismo exerce, seu modelo jurídico, sua industrialização pioneira e seu profundo enraizamento judaico-cristão. No campo jurídico, o Reino Unido teve um pioneirismo admirável, através da Magna Carta, ao estabelecer que todos eram iguais perante a lei e que o Rei só poderia julgar um cidadão de acordo com os ditames previstos nela, reduzindo drasticamente o poder nas mãos do monarca e sedimentando o caminho para o advento da monarquia constitucional britânica. Nasceu nas ilhas britânicas a ideia de que a lei existe para promover justiça entre as partes individuais, e não para impor um sistema uniforme de ordens. É aí que tem origem a Common Law, que é um sistema legal em permanente expansão por ser baseado nos costumes concretizados ao longo do tempo por seus cidadãos e que, por conta disso, tem casos de jurisprudência que datam do século XIII, fazendo do país e do seu sistema jurídico casos únicos na Europa e incorporados na sua identidade nacional e popular.

Nosso exemplo trata apenas do Reino Unido, mas podíamos estar falando de qualquer país da União Europeia, visto que cada um tem as suas particularidades únicas como povo e nação e um profundo legado para com o ocidente. E são essas particularidades únicas que a União Europeia deseja expressamente destruir. Vale ressaltar, que é neste contexto de particularidades únicas de cada País que nasce a ideia de fronteiras. Os tecnocratas europeus, em seu desejo de unificar a Europa sob um governo de iluminados, argumentam que fronteiras nada mais são do que linhas imaginárias decididas por conta de interesses meramente geográficos ou mercantis , argumento usado também por socialista quando, na verdade, as fronteiras surgem com o aparecimento das identidades nacionais que, tendo em vista a experiência histórica, são a causa primária da união de um povo. Abolir as fronteiras, também significa abolir a identificação que o indivíduo sente pela sua pátria e pelo o que o seu País representa, sobretudo em um cenário de imigração islâmica descontrolada. A civilização depende da existência de fronteiras.

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A legislação europeia foi mordaz em ter retirado a soberania sobre as fronteiras das nações sob a sua jurisdição e isso ocasionou um fluxo gigantesco de imigrantes muçulmanos que, por questão de princípios, não se adaptam a cultura do lugar para ondem imigram, mas tentam molda-la com base na sua cultura. Roger Scruton argumenta que pelo fato de o Islam colocar a religião acima da nacionalidade como teste de filiação, ele representa uma ameaça à ordem política e é incompatível com a civilização ocidental baseada na virtude judaico-cristã da aceitação da diversidade e é justamente isso que tem ocorrido na Europa, onde o crescimento do Islam está fora de controle e um político muçulmano já governa a maior metrópole do continente, Londres, e onde ele já tomou medidas seguindo a sua linha religiosa. O escritor francês Michel Houellebecq é um crítico da política europeia de imigração descontrolada e escreveu um romance intitulado “Submissão”, onde conta a história da França sendo governada por um regime islâmico em 2022. A leitura é fundamental para quem quiser entender o ambiente em que se inserem os europeus atualmente.

A União Europeia, que faz questão de mostrar total desprezo pela raiz fundacional do pensamento ocidental a ponto de proibir orações em público e excluir as ideias de cristianismo e de democracia da ideia de Europa no preambulo do seu ridículo projeto de constituição continental, conspira abertamente contra os valores do povo europeu e contra os dois grandes bens que caracterizam o todo do continente e que constituem a sua herança para o mundo: cristianismo e democracia.

O politicamente correto enfiado goela a baixo nas crianças do continente desde a mais tenra idade em um currículo educacional unificado é outro absurdo criado pela União, os departamentos de educação dos países não tem o mais mínimo controle sobre o conteúdo dos currículos que já vem pronto de Bruxelas, a ideologia de gênero é o carro-chefe da coisa e já é uma marca do pensamento europeu unificado advogado pela União Europeia. Recentemente, um deputado alemão fez piada do assunto no Parlamento do seu País onde se dirigiu em suas considerações iniciais aos mais de 60 gêneros reconhecidos pela lei na Alemanha. Ele demorou cerca de dois minutos para fazer a sua apresentação.

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O Brasil experimentou, nos últimos 13 anos, as consequências de um governo transnacional não eleito, e os resultados foram catastróficos. O Foro de São Paulo age da mesma forma que age a União Europeia, tomando decisões centralizadas, antidemocráticas, antinacionais e sem nenhuma transparência. Mas como a grande mídia brasileira omitiu os seus podres durante todo o governo do PT, todos ficaram pensando que ele era um cordeirinho que não fazia mal a ninguém enquanto que, por baixo dos panos, ele era o centro do projeto de revolução e unificação continental da América do Sul. A União Europeia, age de forma muito parecida com o Foro de São Paulo e, tal como seu irmão do hemisfério sul, é um lobo em pele de cordeiro.