Por João Luiz Mauad, publicado pelo Instituto Liberal
Escrevi ontem um texto sobre o discurso da menina Greta Thumberg na ONU, o qual o Instituto Liberal republicou em sua página. Logo no primeiro comentário, um leitor do IL escreveu o seguinte, em defesa de Greta: “A grande questão é que ainda não compreendemos que a terra é um organismo vivo e que nós seres humanos estamos causando o colapso desse organismo em nome de uma pretensa melhoria na qualidade de vida… Em pleno século XXI não cabe mais pensar em ações que não estejam em comunhão com o desenvolvimento sustentável e o legado ambiental que deixaremos para as futuras gerações. Neste ponto concordo com a ativista Greta! Cada um deve fazer a sua parte, pois assim contribuiremos para a preservação da nossa única casa.”
É um bom resumo do mantra preservacionista, segundo o qual, por vivermos num mundo com cada vez menos recursos naturais, precisamos mudar gradualmente a maneira como vivemos, adaptando nossa economia e nossos estilos de vida a uma nova realidade de escassez, a fim de que as próximas gerações tenham garantida a sua cota de recursos finitos que a natureza disponibiliza.
No início do Século XIX, quando a Terra era habitada por apenas 1 bilhão de pessoas, Thomas Malthus previu que a população mundial cresceria em proporções geométricas e que a produção de alimentos e outros recursos não conseguiria acompanhá-la. “A morte prematura visitará a humanidade em breve, que sucumbirá em face da escassez de alimentos, das epidemias, das pestes e de outras pragas”, dizia ele.
Atualmente, vivem no mundo sete vezes mais seres humanos que na época do Reverendo Malthus. Depois da Revolução Industrial e do advento do capitalismo, a humanidade progrediu de maneira excepcional, aprendeu a explorar os recursos naturais de forma muito mais eficiente, a produzir alimentos e distribuí-los como nunca antes na História. E, ao contrário do que sustentam os modernos “malthusianos”, mesmo com todo o progresso econômico havido nos últimos duzentos anos – e graças ao extraordinário avanço tecnológico -, as reservas provadas da grande maioria dos recursos minerais, como petróleo, minério de ferro, carvão e muitos outros só fizeram aumentar.
Apesar de todas as evidências em contrário, entretanto, os discípulos de Malthus não esmorecem. Em 1968, quando a população mundial era de 3,5 bilhões, o afamado ecologista Paul Ehrlich, um emérito colecionador de prêmios e comendas científicas, escreveu um livro (The Population Bomb) onde previu que, como resultado da superpopulação, centenas de milhões de pessoas morreriam de fome nas próximas décadas. No primeiro Earth Day, em 1970, ele diagnosticou que “em dez anos, toda a vida animal marinha estará extinta. Grandes áreas costeiras terão que ser evacuadas por causa do mau cheiro dos peixes mortos.” Em um discurso de 1971, ele previu que “até o ano de 2000 o Reino Unido será simplesmente um pequeno grupo de ilhas empobrecidas, habitadas por cerca de 70 milhões de famintos.”
De lá para cá, a população mundial quase dobrou, e, embora ainda haja problemas sociais graves a resolver, principalmente ligados à pobreza, as previsões alarmistas de Ehrlich jamais se concretizaram. Pelo contrário, a proporção de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza tem diminuído bastante, desde 1970.
Aliás, por falar em Paul Ehrlich, ficou famosa uma aposta feita entre este famoso ambientalista e o economista Julian Simon. Ehrlich alardeava que, num mundo finito e de população crescente, os recursos seriam cada vez mais escassos e, consequentemente, seus preços cada vez maiores. Em 1980, Simon propôs a Ehrlich a seguinte aposta: Ehrlich escolheria cinco quaisquer produtos naturais para que tivessem seus preços acompanhados por 10 anos. Caso, no final deste período, os preços fossem maiores que em 1980 (corrigidos pela inflação), Ehrlich venceria, caso fossem menores, a vitória seria de Simon.
Ehrlich escolheu cinco metais: cromo, cobre, níquel, estanho e tungstênio. Apostaram então $200 em cada um dos metais, num total de $1.000, usando os preços de 29 de setembro de 1980 como referência. Durante a década de 80, o crescimento populacional do mundo foi de aproximadamente 800 milhões de pessoas – o maior aumento nominal em uma só década da História. Apesar disso, em setembro de 1990, os preços de todos os metais escolhidos por Ehrlich, sem exceção alguma, haviam caído, em alguns casos significativamente. O estanho, por exemplo, era cotado a $8,72 por onça em 1980, contra $3,70 em 1990.
Em janeiro de 2011, mais um “malthusiano” perdeu uma aposta. Cinco anos antes, John Tierney leu um artigo de Matthew R. Simmons na The New York Times Magazine onde este vaticinava que o preço do barril de petróleo, então na casa dos $65, triplicaria nos cinco anos seguintes e passaria dos $200 durante o ano de 2010. Tierney apostou no contrário – e faturou uma grana fácil.
Por que os malthusianos perdem suas apostas? Porque enxergam o mundo e a economia de forma estática, desconsideram a criatividade humana e o progresso tecnológico.
Embora a teoria da insustentabilidade tenha lá seu sopro de lógica, ela está muito longe da realidade. O economista George Reisman refuta categoricamente a tese em seu livro “Capitalism”, concluindo que, de fato, o mundo nunca esteve tão abarrotado de recursos naturais como agora, malgrado o crescimento exponencial do consumo humano nos últimos duzentos anos. Parece um paradoxo? Vejamos.
A massa da Terra é feita de elementos químicos. Seu núcleo, por exemplo, é formado basicamente de milhões de metros cúbicos de ferro e níquel. Os oceanos e a atmosfera são compostos de incalculáveis quantidades de oxigênio, hidrogênio, nitrogênio e carbono, além de menores quantidades de outros elementos, cada um trazendo consigo inúmeras utilidades, algumas já conhecidas e outras que a ciência irá algum dia descobrir. O petróleo, para começar pelo exemplo mais óbvio, está sob os nossos pés há milhões de anos, mas seu aproveitamento econômico teve início somente durante a segunda metade do Século XIX. O alumínio, o rádio e o urânio, por seu turno, só tiveram serventia ao ser humano de cem anos para cá. Já o emprego industrial das fibras de carbono e do silício aconteceu apenas nas últimas décadas.
O problema não é de escassez intrínseca. Tecnicamente a oferta de recursos pode ser descrita como finita, mas, para todos os efeitos práticos, é infinita, não constituindo qualquer obstáculo para a atividade econômica. O que precisamos é conhecer quais diferentes elementos e combinações de elementos nos são úteis, chegar até eles e empregá-los para a satisfação das nossas necessidades. Em resumo, os únicos limites efetivos para a obtenção das substâncias economicamente utilizáveis são o desenvolvimento científico e tecnológico, bem como a quantidade e qualidade dos equipamentos (capital) disponíveis para esse fim.
A sustentabilidade está vinculada não só ao descobrimento de utilidades para elementos que previamente não possuíam qualquer aplicação prática, ou de novas serventias para aqueles que já possuíam usos conhecidos. Ela se dá também, senão principalmente, pelos avanços que facilitam o nosso acesso a estes elementos. Graças a tais progressos, a quantidade de recursos naturais economicamente aproveitáveis é, hoje em dia, incomparavelmente maior do que era no início da Revolução Industrial.
Praticamente não existem limites para os avanços futuros. O hidrogênio, elemento mais abundante na natureza, pode converter-se, brevemente, em fonte de energia economicamente viável e limpa. Além disso, a energia atômica, os raios laser e os sistemas de detecção por satélites, entre outras tecnologias de ponta, abrem novas e ilimitadas possibilidades de incrementar a oferta de recursos naturais. O que precisamos é descobrir como utilizá-los e reduzir os custos de sua extração, sempre evitando ao máximo agredir o meio ambiente em volta.
Entretanto, se por um lado a natureza coloca à nossa disposição um volume utilizável de matéria e energia que, para todos os efeitos práticos, pode ser considerado infinito, por outro ela disponibiliza pouquíssimos desses elementos na forma de riqueza. O que transforma em bem de uso a maior parte daquilo que a natureza oferece são o trabalho, a inteligência e a razão humanos, os recursos econômicos mais importantes que a natureza colocou à nossa disposição.
A solução, portanto, não está em restringir o consumo, mas em motivar as pessoas para o trabalho e o desenvolvimento tecnológico, algo só possível em sociedades onde prevalecem a liberdade econômica e, fundamentalmente, o direito de propriedade. Tudo de que precisamos é mais capitalismo, único modelo em que as pessoas criativas, engenhosas e diligentes tendem a dedicar-se com afinco à ciência, à pesquisa e aos negócios, pois sabem que o resultado de seus esforços e investimentos reverterá em seu próprio benefício.