As vendas de veículos no País continuam ladeira a baixo. As montadoras instaladas aqui comercializaram 1,106 milhão de unidades de janeiro a maio deste ano, um volume 20,93% menor que o mesmo período de 2014. Já em maio, as vendas chegaram a 212.713, queda de 27,49% no comparativo com maio do ano passado, 219.371. Os dados foram divulgados nesta tarde pela Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos Automotores (Fenabrave).
O segmento de veículos pesados, caminhões e ônibus, foi o mais afetado nos cinco meses. A queda foi de 38,77%, passando de 67.330 nos cinco meses de 2014, para 41.224.
— A pior medida que o governo pode fazer agora é conceder benefícios como no passado. A indústria vive de concorrência e cada empresa que faça o seu melhor. Na hora que as montadoras recebem ajuda, as empresas se acomodam e não se preparam para atender o consumidor — disse o consultor do Centro de Estudos Automotivos e ex-presidente da Ford, Luiz Carlos Mello.
De acordo com os dados da Fenabrave, os licenciamentos de automóveis e comerciais leves no acumulado do ano chegaram a 1,065 milhão de unidades, queda de 20,02% em relação ao mesmo período de 2014, quando foram comercializados 1,331 milhão de carros. No mês de maio, as vendas foram de 204.978 ante 277.886, declínio de 26,24%.
O consultor está coberto de razão: o governo precisa parar de “ajudar” a indústria automotiva brasileira. A menos que queira fazer de seus centros automotivos o que a esquerda americana fez com Detroit ao longo de meio século, destruindo a cidade. Esse é um setor competitivo, extremamente competitivo, e as empresas precisam, para sobreviver e prosperar, serem extremamente eficientes e produtivas.
Quando o governo tenta compensar o Custo Brasil ou as crises que ele mesmo causou com novos privilégios, isso apenas torna o setor mais acomodado. Uma vez escutei meu ex-professor Rogério Werneck brincar que a indústria automotiva brasileira era o infante mais velho que ele conhecia. Afinal, o argumento para a proteção do setor sempre foi o de que era importante, na fase de sua infância, dar um empurrão até que pudesse competir em pé de igualdade com o resto do mundo.
Resultado: temos os carros mais caros do planeta e uma ótima margem de lucro para as empresas do setor em geral. Falha do mercado? Nem a pau! Falha do governo, que sempre criou barreiras para a entrada de novos players, como sabe a JAC chinesa. Tente o leitor importar diretamente um carro para ver o que acontece. E depois vamos culpar os empresários pelos preços abusivos, em vez de o próprio governo?
Como muitos sabem, vim morar na “roça”, aqui em Weston, perto do pântano de Everglades e a quase 50 minutos de Miami. Sem carro você não compra nem pão no Publix. Não faz nada! Logo, tive que comprar de cara dois carros, um para mim e outro para a esposa. Não tenho acesso ao mercado de leasing ainda, por não ter histórico de crédito no país. Por isso não pude aproveitar as reduzidas taxas de juro. Tive que pagar tudo à vista, portanto. Dói no bolso. Mas ao menos tive um consolo: doeria em dobro se fosse no Brasil!
Com o valor que paguei pelo meu carro, por exemplo, eu não poderia comprar nem a metade de um equivalente no Brasil. Em alguns casos a diferença chega a três vezes, ou seja, nossos “ricos” brasileiros se dão ao luxo de pagar quase o triplo do que pagam os “pobres” americanos pelo mesmo carro! E isso mesmo com o dólar acima de R$ 3,00. Alguém acha realmente que a ganância da Toyota ou da Hyundai muda quando atravessam nossa fronteira? Será que é o clima mais tropical? Será que é o carnaval?
Ora bolas, sejamos racionais! O problema não é a ganância das empresas, o capitalismo, o lucro, o mercado, e sim as barreiras criadas pelo governo. Nosso protecionismo comercial criou esse monstrengo, e era ainda pior antes de Collor abrir mais nossas fronteiras. Comprávamos verdadeiras carroças pelo preço de Ferraris. Hoje melhorou: pagamos o preço de Ferraris para comprar carros médios para o padrão americano. Será que um dia poderemos pagar o preço justo?
Só se o governo parar de “ajudar” a indústria, ou seja, deixar o livre mercado funcionar. Que a crise no setor não sirva novamente de pretexto para se proteger a indústria “infante”, que já completou 70 anos de vida e continua fabricando carros ridiculamente caros!
Rodrigo Constantino