Por Thiago Kistenmacher, publicado pelo Instituto Liberal
Embora a doutrinação de esquerda nas escolas e universidades seja evidente e, mesmo assim, sejam negados pelos doutrinadores, fortes ventos de mudança se aproximam do Brasil. Sendo otimista, ouso dizer que dentro de algum tempo as escolas e universidades terão que enfrentar uma tempestade que derrubará as mais fortes árvores plantadas pela ideologia totalitária. Além disso, livros repletos de dogmas políticos acabarão voando pelas janelas das salas de aulas junto com seus sacerdotes – no sentido figurado, claro. Mas, os livros não serão queimados ou proibidos, do mesmo modo que faziam alguns políticos “messiânicos” como Lênin ou Fidel Castro; eles somente não serão mais sacralizados e depositados nos altares acadêmicos.
Após tais mudanças, autores como Hayek, Mises e Rothbard, não serão mais vistos superficialmente como “representantes da direita” ou terão seus argumentos distorcidos por aqueles que nunca os leram. Os doutores, com sua neutralidade parcial, não conseguirão mais escarnecer da Escola Austríaca como, hoje, fazem em razão de seus alunos a desconhecerem.
Vale observar, porém, que não são todos os professores e estudantes que são lacaios da esquerda. Mas é a esses que me refiro aqui, já que os demais merecem cortesia. Dito isso, gostaria de apontar brevemente a existência de três grupos que podem ser percebidos dentro de uma universidade, pelo menos no que diz respeito às Ciências Humanas, área com a qual mais tenho intimidade.
O primeiro grupo é aquele composto pela maioria. Essa maioria é aquela composta tanto com pessoas que leem bastante, como por pessoas que não estudam nada, mas ambos repetem os mesmos slogans contra o liberalismo ou conservadorismo. Em suma, todos os membros dessa maioria se julgam econômica, política e moralmente esclarecidos. Todos são vermelhos, embora a única coisa que muda é a tonalidade da cor. Alguns deles preferem o vermelho desbotado do PT, outros preferem a cor vermelha do PSOL, PSTU ou PCO. Em outras palavras, essa maioria é composta por indivíduos que vão desde petistas a stalinistas, mas que consideram a “mais-valia” uma grande “descoberta”. De um lado há os que escrevem artigos acadêmicos que de científico só têm o nome, mas que, na verdade, estão fundamentados nas maiores e pérfidas doutrinas; por outro, aqueles que só frequentam os espaços acadêmicos para atuarem como panfletários e pichadores caricatos.
O segundo grupo é formado por pessoas mais próximas do que podemos denominar neutras e que, não se aprofundando em discussões políticas, limitam-se às suas pesquisas. Esse grupo representa com uma quantidade bastante reduzida de acadêmicos, algo que beira a nulidade. Essas são as pessoas que figuram entre aquelas que se localizam em terreno neutro e que os “esclarecidos” tentam cooptar para causas que eles não simpatizam, mas que também não desprezam. São aqueles indivíduos que não atrapalham nem a vida do acadêmico militante e aficionado por figuras revolucionárias nem os integrantes do grupo terceiro que trataremos a seguir. São aqueles que têm ouvidos para aturar tanto o militante do PT esbravejando contra os “golpistas”, quanto para escutar o brasileiro que protesta contra a máfia bolivarianista do petismo e de seus camaradas.
O terceiro grupo é o menor dos menores, composto por um sujeito aqui e acolá. Esses indivíduos são os que estão realmente conscientes da hegemonia esquerdista nas instituições de ensino e que sabem como a maquinaria das ideologias funciona por dentro, quem são seus ideólogos – ou engrenagens – e como as teorias são postas em prática. O que passa despercebido aos olhos dos integrantes do segundo grupo, o integrante do terceiro flagra instantaneamente. Esse é o sujeito atomizado, mas que sabe precisamente sobre onde estão assentados os partidos e movimentos que organizam manifestações a favor de causas que não são somente anacrônicas, mas perversas. Esse grupo é representado por aqueles acadêmicos que realmente leem os autores liberais e conservadores para além das frases curtas compartilhadas por páginas do Facebook. São aqueles que realmente compreendem o que Hayek chamou de “O Caminho da Servidão” [1] e que têm claro o que Michael Oakeshott quis dizer com “Política da Fé e Política do Ceticismo.” [2] Por fim, a despeito de serem classificados como fascistas, os integrantes desse terceiro grupo sabem que os mais próximos da doutrina de Mussolini são aqueles que repetem que “a propriedade é um roubo” relaxados no sofá do Centro Acadêmico.
Mas voltemos aos ventos de mudança. Talvez o leitor, compreensivelmente pessimista, diga que a parcela mais sensata ainda é uma ínfima minoria. Mas inverta a perspectiva e tudo fica mais claro. Note que a existência dessa parcela, ainda que minoritária, está ali exercendo um papel importante. Há dez anos, talvez menos, há cinco anos, não havia nenhum! Se existia, não ousaria se manifestar como faz hoje. Atualmente podemos notar, ainda que com numerosas limitações, que na área de Filosofia, Letras, História e Sociologia, o marxismo e suas variantes, ainda que seja a maioria, não compreendem todos os estudantes, haja vista o meu próprio caso e o de inúmeros outros. Evidente que não me refiro aos planos de ensino e referenciais concedidos pela massiva quantidade de marxistas e foucaultianos que “cortam árvores em vez de irrigar desertos” [3]. Mas sim ao advento das várias publicações liberais e conservadoras seja no Facebook, vídeos ou livros, e também aos variados movimentos políticos antagônicos à esquerda que irrompem por todo o país. Uma juventude liberal e conservadora têm crescido de forma significativa e está ocupando lugares importantes na atualidade.
Enfim haverá um dia em que os estudantes de História não mais olharão para a foto clássica de Churchill, Roosevelt e Stalin com aquela irrefletida reverência pelo último[4]. Ainda que os mais sectários queiram resistir até o último homem, a mudança é inevitável. Aliás, mais do que isso, é urgente que haja mudança, pois já existe muito jacobino com currículo Lattes.
Quem sabe, os ventos de mudança que hoje se formam num horizonte não mais tão distante assim, se convertam num tornado que arrancará do terreno das instituições de ensino aquele castelo artificial erigido pela ideologia e onde reinam corruptos, ditadores e vigaristas diplomados. Doutrinadores procurem abrigo, pois uma tempestade se aproxima!
[1] Livro O Caminho da Servidão, de Friedrich Hayek.
[2] Livro The Politics of Faith and the Politics of Scepticism, de Michael Oakeshott.
[3] Trecho do livro A Abolição do Homem, de C.S. Lewis, onde o autor afirma que “o dever do educador moderno não é o de derrubar florestas, mas o de irrigar desertos.” Margins Fontes, p.12.
[4] Foto de 1945, em Yalta, nos meses finais da Segunda Guerra Mundial.
* Thiago Kistenmacher Vieira é coordenador local do Estudantes pela Liberdade de São Lourenço (MG), gestor do Grupo de Estudos Ludwig von Mises, graduando em História na Universidade Regional de Blumenau e membro do Centro de Pesquisa em História da América (CEPHA) da Fundação Universidade Regional de Blumenau.