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A verdade sobre o comunismo: a ignorância encoberta pela propaganda

Por João Luiz Mauad, publicado pelo Instituto Liberal

Dias atrás, um “amigo” no Facebook postou um vídeo comemorativo dos 100 anos da Revolução Bolchevique, de outubro de 1917, que estabeleceu o comunismo na Rússia e, depois, em toda a chamada Cortina de Ferro. Confesso que tais manifestações me causam um misto de asco e depressão, principalmente porque tenho a nítida impressão de que são manifestações de gente que pouco conhece a história real da Revolução comunista.

Para se ter uma ideia da ignorância em torno do que foi o comunismo, principalmente entre os mais jovens, enquanto Hitler é, com justíssima razão, o homem mais odiado da história da humanidade, o pai do comunismo foi eleito, numa pesquisa da Rádio BBC, anos atrás, “o maior filósofo de todos os tempos”, à frente de Aristóteles, Hume, Kant e tantos outros.

O que provavelmente contou mais a favor de Marx naquela “eleição” foi o pretenso caráter humanitário do comunismo, imposto a golpes inesgotáveis de propaganda enganosa através dos tempos. É razoável intuir, também, que a maioria dos que responderam à pesquisa jamais tenha passado das primeiras linhas do Manifesto Comunista.

Até porque Marx não era um filósofo. Era sim, como bem definiu o economista cubano Carlos Alberto Montaner, um agitador ou, no máximo, “profeta iluminado”, que vaticinou a suprema tolice segundo a qual, ao se alterar o regime de propriedade (a estrutura), se modificariam a mentalidade social e as instituições (a superestrutura), dando lugar à aparição de um novo homem, uma virtuosa e solidária criatura que construiria o paraíso sobre a terra.

Esse novo éden, no entanto, jamais se materializou, malgrado os esforços de uma penca de desmiolados, desde Lênin até Castro. Ao contrário do previsto, a utopia sempre cedeu lugar à tirania.

Como frisou certa vez o filósofo Samuel Gregg, o mais preocupante no resultado dessa enquête da BBC foi constatar a magnificência alcançada pelo pai de uma ideologia em cujo âmago está a legitimação do crime e da barbárie. Ironicamente, enquanto milhões de pessoas hoje em dia têm consciência e deploram os indizíveis crimes nazistas, muito poucos sabem das atrocidades cometidas por Lênin, Stalin, Castro, Mao, Pol Pot e outros marxistas.  É como se houvesse um misterioso pacto para que não se discutam tais crimes.

Enquanto o Muro de Berlim esteve de pé, a censura feroz sobre o que acontecia por trás da Cortina de Ferro, a eficiente propaganda comunista e o engajamento de intelectuais ocidentais na defesa do sistema foram armas eficazes na manutenção da sua imagem imaculada. Mas depois da queda do Muro, é inconcebível que a ignorância continue encoberta por uma espessa cortina de propaganda.

Pouca gente já ouviu falar, por exemplo, do polonês Kolakowsky, um ex-marxista regenerado que acabou expulso da Polônia e, posteriormente, desde o exílio no Ocidente, foi um dos mentores do Sindicato Solidariedade. Não conhecem tampouco seu mais conhecido e influente trabalho: os três volumes do “Main Currents of Marxism”, Its Rise, Growth and Dissolution (1976-78).

Este foi, e permanece, a mais lúcida e compreensível narrativa sobre a origem, estrutura e desenvolvimento do pavoroso e dominante sistema de pensamento do Século XX. Aquela foi também uma obra profética, escrita num tempo em que o marxismo ainda fornecia a cola ideológica para o, até então, sistema comunista soviético. Ele descreveu com objetividade e clareza as principais ideias e diversas correntes do pensamento marxista, “que começou num prometido humanismo e culminou na monstruosa tirania de Stalin”. Não sem razão, Kolakowski não considerava o stalinismo uma aberração, mas, ao contrário, o produto lógico do marxismo.

Segundo o polonês, o socialismo podia ser descrito como “uma sociedade na qual um homem está encrencado por dizer o que pensa, enquanto outro obtém privilégios por não dizer o que tem em mente; uma sociedade na qual se vive melhor quando não se tem idéias próprias; um Estado que tem mais espiões do que enfermeiras e mais pessoas nas prisões do que nos hospitais; um Estado onde filósofos e escritores sempre dizem as mesmas coisas que os generais e os ministros – mas sempre depois que estes últimos já se pronunciaram”.

Outro grande intelectual que ousou nadar contra a maré da época, especialmente dentro de seu próprio país, foi o francês Jean-François Revel. A repressão em campos de concentração ou em cárceres diversos, os processos sumários e fraudulentos, os expurgos assassinos, as ondas de fome provocadas por programas estupidamente planejados e pavorosamente executados acompanharam todos os regimes socialistas, sem exceção, ao longo da história. “Seria fortuita esta associação?” – questiona o velho Revel. “Será que a verdadeira essência do comunismo reside no que jamais foi, ou nunca produziu. Que sistema é esse, que dizem ser o melhor, porém dotado dessa propriedade sobrenatural de nunca conseguir colocar em prática senão o contrário do que prega? Que linda cerejeira será essa, na qual, por um acaso incompreensível, só brotam cogumelos venenosos?”

Para Revel, é inútil tentar descobrir qual dos regimes totalitários do século XX foi o mais bárbaro, porque ambos impuseram a tirania, o pensamento unificado e deixaram como herança uma montanha de cadáveres. O parentesco do comunismo com o nazismo é, para a esquerda em geral, um tema sempre delicado e, como qualquer tabu, sabiamente escamoteado. Por exemplo, quando um genocida marxista, como Stalin, se comporta como um carrasco nazista, a explicação é simples: a culpa é do personagem e de seu caráter perverso, nunca do sistema.

A ignorância sobre as ignomínias do comunismo manifesta-se claramente quando observamos as milhares de bandeiras vermelhas, ornadas com a foice e o martelo, tremulando orgulhosamente em manifestações públicas mundo afora. Será que os ingênuos porta-estandartes permaneceriam empunhando essas bandeiras se soubessem o que elas representam para aqueles que foram escravizados e mortos pelos regimes marxistas?

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