Por Vivian Vicentini, publicado pelo Instituto liberal
Há dias que ando incomodada com uma propaganda no canal GNT, do grupo Globo, sobre o dia internacional da mulher. É o tal “Compromisso eles por elas”, defendendo a igualdade de gênero, seguido por todo aquele “blá-blá-blá” de sempre. A ironia dá o tom do comercial, que termina dizendo que feliz será o dia que não haverá desigualdade salarial, que a divisão de tarefas será justa e não haverá mais violência dentro ou fora de casa e nem assédio, configurado pela cantada de pedreiro ou o “fiu-fiu”. Só achei curioso que na parte da divisão de tarefas o homem está com o aspirador em uma mão e o bebê na outra, enquanto a mulher segura apenas o espanador de pó. Seria justo?!
A rede Globo também está com uma campanha onde aparecem as “mulheres olímpicas” falando sobre igualdade salarial; “ter voz e ser ouvida”; ser a primeira mulher da família a se formar na faculdade; ser dona da própria vida; ser mãe, esposa, amiga e trabalhadora; suar a camisa todos os dias e fazer valer os seus direitos; pois estes são os sonhos de todas as mulheres.
Acho que esses discursos que começam a pipocar mais intensamente no início de todo mês de março têm maior relação com certo ódio aos homens do que com “empoderamento” das mulheres. É sempre o mesmo discurso: Mulheres ganham menos do que os homens, não podem levar uma cantada na rua, têm jornada dupla e por aí vai.
Vamos falar primeiro dessa questão de salário. Se mulheres realmente ganhassem menos em comparação com os homens, será que todas as empresas, visando diminuição de custos, não passariam a contratar apenas as mulheres? Essa frase feita – salário menor na mesma função – não faz o menor sentido. Exemplifico. O cargo de engenheiro júnior em uma empresa contempla desde o recém-formado até aquele com vários anos de trabalho, prestes a ser promovido a engenheiro pleno. Eles estão na mesma função? Sim. Afinal, os dois ocupam o cargo de engenheiro júnior. Eles têm o mesmo salário? Claro que não! Todo mundo sabe que para uma mesma função existem diferentes faixas salariais, dependendo de seu desempenho e/ou da sua experiência.
No ano passado, a Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul[1] concluiu que apenas 7% das diferenças salariais entre homens e mulheres não poderiam ser explicadas pela diferença de produtividade. Os economistas Guilherme Stein e Vanessa Sulzbach analisaram 100 mil salários e apontam que “a diferença de rendimentos que se deve às características distintas observáveis entre os indivíduos não pode ser atribuída a um possível preconceito que o empregador tenha em relação a uma determinada característica individual. Por exemplo, anos de experiência é um fator que justifica um salário maior. Tudo o mais constante, se as mulheres têm, em média, menos anos de experiência que os homens, não se pode afirmar que os contratantes estão discriminando as mulheres ao pagar, em média, um salário proporcionalmente menor do que o que os homens recebem em função do diferencial médio de experiência”.
Estes resultados estão na mesma linha dos encontrados pela economista Claudia Goldin[2], de Harvard, uma grande especialista em diferença salarial. Nos Estados Unidos, esta porcentagem que não é explicada pela produtividade é um pouco menor (5%). A economista ainda aponta os salários não, necessariamente, têm uma relação linear com as horas de trabalho. Um horário flexível de trabalho, uma opção para mulheres especialmente depois do nascimento dos filhos, é uma opção viável, mas ele cobra o seu preço especialmente no mundo corporativo, financeiro e jurídico.
Além dessas questões salariais, a bandeira sempre levantada é de que as mulheres são menos favorecidas no mundo do que os homens. Mas alguém já considerou que em 90% das ações judiciais que requerem a guarda de filhos, esta é concedida às mulheres? Em cada 11 mortes por violência, 10 são homens. Os homens já não são maioria nas universidades, são apenas 40%. E isso sem contar que áreas tradicionalmente ocupadas por homens como a engenharia vêm atraindo cada vez mais mulheres.
Os homens não têm um dia internacional ou hospitais e delegacias especializados em atendê-los. Muito menos leis que os beneficiem pelo fato de serem homens. O câncer de próstata, proporcionalmente, mata o mesmo que o câncer de mama, mas a esmagadora maioria dos recursos é gasta com a prevenção e campanhas para o câncer de mama. Apenas recentemente, começou uma campanha do “novembro azul” alertando para o problema do câncer de próstata.
Dos moradores de ruas, 80% são homens. O serviço militar é obrigatório apenas para os homens. Quando um filho nasce, a licença maternidade é de 120[3] dias e a paternidade, de apenas 5 dias. Os homens têm que trabalhar 5 anos a mais para se aposentar e morrem, em média, 8 anos antes das mulheres.
Lembra do Titanic? Quando ele afundou, 80% dos homens morreram e 80% das mulheres sobreviveram. O feminismo diz que existem apenas 5% de mulheres nas empresas, mas ninguém está bradando por aí que são os homens que ocupam 95% dos cargos de lixeiros, pedreiros e nas minas de carvão. Em geral, ninguém diz nada quando a mulher vive “às custas do marido”. Mas, se o homem não trabalhar fora ele é vagabundo e preguiçoso.
É claro que não estou defendendo o estupro ou que eu ache a cantada no meio da rua, muitas vezes com palavras de baixo calão, uma coisa legal. Todavia, acredito que antes dessa “luta de classes” ou “guerra dos sexos” (ou gênero, para ser mais politicamente correto), o que deve predominar é o respeito ao outro. Não é possível continuar com esse discurso de que homens e mulheres devem ser iguais, quando são fisiologicamente diferentes. São cromossomos, hormônios, estruturas musculares, tudo diferente. Mulheres podem conceber, homens não. O que não significa que não tenham que ajudar em casa e com os filhos. Caro leitor, já deve ter ouvido em vários lugares que algumas empresas preferem contratar mulheres porque elas são mais detalhistas e acabam desempenhado algumas funções melhor do que os homens. Não ouvi nenhum homem reclamando disso.
Sou umas das defensoras de que mulheres trabalharem fora, que as tarefas em casa sejam divididas e que todos, homens ou mulheres, enquanto indivíduos encontrem o seu lugar ao sol. Então, antes de ficar com esse vitimismo de “ai como nós somos coitadinhas” porque ganhamos menos e temos jornada dupla, vá à luta e mostre com resultados a que veio. O mundo está mudando, sim. A realidade hoje é diferente da que muitas de nós ou dos homens da nossa geração foram criados. E temos, sim, todas as condições de lutarmos pelo que acreditamos e pela vida que desejamos ter. Apenas temos que ser responsáveis por desempenhar um bom trabalho e preparar as futuras gerações para um mundo onde homens e mulheres trabalhem lado a lado, seja em casa ou dentro da empresa.
Se existe preconceito? Óbvio. Preconceito é inerente ao ser humano e baseia-se nas experiências que cada um teve ou deixou de ter. Ao passo que ninguém, absolutamente ninguém, pode ou tem o direito de controlar as suas opiniões. Claro que há homens que pensam que mulheres são inferiores, assim como há mulheres que consideram os homens dessa mesma forma. Mas o erro não está se é homem ou mulher, homossexual ou heterossexual. O erro está em considerar o outro ser humano inferior a você. Todos são dignos de respeito.
E, só para terminar, ainda falando em ‘empoderar’ as mulheres, que tal chamar as amigas, o marido ou namorado, filhos ou quem mais quiser, e ir para rua no domingo para tirar a incompetente do poder? Ou acha que ela tinha que estar lá só porque é mulher? Por fim, então, feliz “dia da mulher” para você que, assim como eu, está preocupada com o futuro da nação ao invés de só querer saber de você mesma.
[1] http://www.fee.rs.gov.br/wp-content/uploads/2015/04/20150504relatorio-sobre-o-mercado-de-trabalho-do-rio-grande-do-sul-2001-13.pdf
[2] http://scholar.harvard.edu/goldin/publications/grand-gender-convergence-its-last-chapter
[3] Pela Consolidação das Leis do Trabalho no Brasil, a licença-maternidade é de 120 dias. Empresas que aderem ao programa ‘Empresa Cidadã’ concedem 180 dias de licença maternidade, abatendo do imposto de renda os valores dos dois salários extras. A regra só vale para as empresas que têm tributação sobre lucro real. Empresas que declaram pelo lucro presumido ou estão integradas no Simples Nacional podem aderir, mas não terão direito à dedução.
* Vivian Vicentini é Engenheira Química pela UFSM e Doutora em Ciências pela UFRJ.
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