Por Lucas Berlanza, publicado pelo Instituto Liberal
Sustentamos semana passada que o Brasil deveria assumir uma posição ativa na questão venezuelana, procurando fazer intenso lobby em favor de uma pressão internacional contra o regime de Nicolas Maduro, apoiando formalmente a saída do ditador, e, em um ponto extremo, reivindicando tratativas para uma possível ação militar de uma coalizão internacional para pôr fim à tirania.
Sabíamos, quando escrevemos aquela manifestação, que era um posicionamento muito grave, que naturalmente suscitaria questionamentos, mesmo razoáveis. Alguns apontaram a fragilidade das nossas Forças Armadas, outros os dramas da nossa economia doméstica; aos primeiros, respondemos que a intenção não é que o Brasil invada a Venezuela amanhã, mas que tome posição dianteira na mobilização da comunidade internacional, com firmeza, cumprindo todas as etapas e reflexões estratégicas necessárias para esse enfrentamento.
Aos segundos, que nossa situação permanece delicadíssima, mas não apenas no campo econômico; precisamos nos reabilitar perante o mundo, figurando do lado certo – para variar um pouco – e aceitando a responsabilidade das posições que assumimos como nação. Não é preciso mais sustentar a ligação direta do Brasil lulopetista, via Foro de São Paulo, com a tragédia venezuelana; do ponto de vista meramente utilitário, acrescentaríamos que pode vir a se formar na Venezuela uma espécie de Síria ao nosso lado, com os números de refugiados no nosso país estando apenas a aumentar.
Depois que publicamos nosso comentário, o Peru expulsou a embaixada venezuelana. O presidente dos EUA, Donald Trump, alheio ao tradicional esperneio dos que enxergam “imperialismo americano” em cada esquina, depois de chamar Maduro pelo que ele é – ditador, repetimos com gosto -, já falou da seriedade com que encara a crise no país ao sul e que é possível cogitar até “uma opção militar” como solução. Fez mais: recusou-se a dialogar com Maduro enquanto a Venezuela não reestabelecer sua normalidade democrática.
Os leitores podem ver que não estamos alucinando sozinhos ao falar na adoção de medidas mais extremas. O continente americano sofre os reflexos do bolivarianismo metastático na Venezuela e não pode se dar ao luxo de tolerá-los. Como potência regional, ou ao menos é esse o discurso que sempre quisemos ressaltar sobre nós mesmos, nosso país está muito aquém do que seria a postura obrigatória de um líder.
O governo Temer tem, à testa do Ministério das Relações Exteriores, o ministro Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), conhecido por ter sido motorista do guerrilheiro comunista Marighella. Que disse Aloysio? Como membro do Mercosul, através de sua representação, o governo brasileiro “instou” o regime venezuelano a “retomar a normalidade democrática” (sem esclarecer exatamente quando é que, sob Maduro, ela existiu) e apoiou a suspensão por tempo indeterminado do país do bloco. Muito pouco, insistimos em sustentar.
Tão pouco que essa diplomacia brasileira tucana de bico frouxo de Aloysio decidiu estampar a nossa mediocridade e a nossa pequenez em letras garrafais. Diante das dezenas de mortos pela repressão governamental e da truculência do governo chavista, em quem Sua Excelência tucana decidiu passar um pito? Isso mesmo, no “terrível fascista” presidente americano.
“Não apoiamos intervenção militar”, afirmou Nunes. “O tempo do big stick já passou. Nosso caminho é o da diplomacia, da política, da negociação”. Nunes quis ser muito “macho” com o presidente dos Estados Unidos, uma autêntica República, uma verdadeira nação democrática. Referiu-se à declaração dura de Trump como se fosse um ente civilizado olhando de cima para um bárbaro troglodita; no entanto, para o – esse sim – grotesco Maduro cabe apenas a “negociação”, enquanto o sangue venezuelano é derramado e a pátria vizinha derrete a olhos vistos.
Curiosamente, em nota, o Itamaraty declarou que, desde a suspensão da Venezuela, “aumentaram a repressão, as detenções arbitrárias e o cerceamento das liberdades individuais” e as medidas do governo de Maduro “reduzem ainda mais o espaço para o debate político e para a negociação”. Em um mundo real e concreto, longe de abstrações “infantiloides”, cara pálida, se não houver mais espaço para negociação alguma, que outra solução há a não ser a força? Como dissemos, não estamos avançando em que deve haver uma invasão amanhã; mas o Brasil vai mesmo se limitar a apoiar “suspensões temporárias”? Vai mesmo se limitar a “pedir” e “instar”? Por que ainda não seguimos o exemplo do Peru e expulsamos a embaixada venezuelana? Por que não promovemos uma campanha mais ostensiva de mobilização internacional? Por que não cumprimos o nosso papel geopolítico? Estaremos definitivamente acostumados à inércia e à insignificância?
Aloysio Nunes foi além na sua demonstração de mentalidade subdesenvolvida. Ele padece da doença comum ao “afrescalhado” tucanismo, que é a de não entender (ou querer entender) o que está acontecendo e fazer sempre os mais covardes e coniventes diagnósticos. O típico tucano ilustre nunca combate o verdadeiro inimigo, nunca ataca os problemas na raiz. Seu hábito é transparecer seu bom mocismo e sua superioridade refinada de quem não resolve coisa alguma, se para tanto precisar abandonar completamente a dependência estética crônica dos sonhos de juventude.
Nosso ilustre ministro disse, vejam só, que o grande erro do PT foi que os petistas “não diferenciam o chavismo – corrente política que se explica dentro da história da Venezuela – da escalada ditatorial de Maduro”. Francamente… A idiotice tem limites. Considera Aloysio que Maduro é, por acaso, alguma espécie de “acidente” autoritário? Por que as esquerdas estão sempre tentando separar as obras de seus criadores? Claro está que, para eles, o socialismo implantado, quer no século XX, quer no XXI, nunca é real, é sempre uma falha, da próxima vez será diferente, melhor, “mais fiel à teoria”. Do mesmo modo, Nunes parece crer que, por ser possível dizer que o chavismo “se explica dentro da história da Venezuela”, é lícito estabelecer uma separação entre Hugo Chávez, um cúmplice do Foro de São Paulo, um pupilo de Fidel Castro e Lula, e o ogro que deixou como filhote de sua ambição insensível.
Ora, Aloysio Nunes, podemos “explicar” muita coisa dentro da história de um país. É possível “explicar” o varguismo no Brasil. É possível “explicar” o nazismo na Alemanha, ou o fascismo na Itália. É possível “explicar” o chavismo na Venezuela; explicá-lo o isenta de seu caráter populista, de sua investida nomeadamente revolucionária contra a imprensa, da gradual instrumentalização de Forças Armadas e milícias para construir o caminho institucional à perpetuação violenta no poder?
O Brasil, que já teve um Rio Branco e um Osvaldo Aranha competentemente à testa de sua diplomacia, tentando sair do ciclo em que mais se apequenou em toda a sua história, encontra no setor apenas os homens errados, no tempo errado. Enquanto a insígnia covarde desses velhos líderes do PSDB estiver no controle dessa área crucial à determinação da nossa dignidade no concerto das nações, precisaremos nos conformar em que de pouco mais seremos capazes do que o vexame.
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