Em seu editorial de hoje, o Estadão resumo a “viagem lisérgica” do PT de Lula, expressão que o próprio “companheiro traído” Ciro Gomes usou. O caso é tão esdrúxulo que tem gente brincando nas redes sociais que a chapa PT-PCdoB deveria se chamar “Triplex”, em homenagem ao trio de candidatos – e ao apartamento que colocou Lula na prisão. Segue um trecho do editorial:
O Partido dos Trabalhadores (PT), dirigido da cadeia por seu chefão, tem e não tem candidato à Presidência. Ou melhor, tem dois candidatos – e uma candidata a vice-presidente que é sem ser. Se o leitor não entendeu, não se preocupe. Ninguém entendeu. É a “viagem lisérgica” de que falou o candidato Ciro Gomes a respeito da estratégia petista.
A oficialização da candidatura de Lula da Silva à Presidência, no sábado passado, torna o PT, na prática, um partido sem candidato, pois o demiurgo de Garanhuns é inelegível, de acordo com a Lei da Ficha Limpa. A ideia, claro, é desafiar a Justiça a impugnar a candidatura do messiânico líder petista – que, à moda dos velhos caudilhos de antanho, considera que somente a História e as urnas são capazes de julgá-lo, pois ele está acima dessa formalidade chamada “lei”.
Esse tem sido o comportamento de Lula desde que foi flagrado em debochado contubérnio com empreiteiros, à custa de bons contratos de obras públicas e outros benefícios. Condenado a mais de 12 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro – isso apenas no primeiro dos processos aos quais responde -, Lula não se preocupa mais em se defender nos tribunais, posto que a presunção de inocência há muito deixou de existir, e passou a usar seu bom desempenho nas pesquisas de intenção de voto como argumento para qualificar a condenação como “perseguição política”. Conforme essa linha de “defesa”, todo o Judiciário, a imprensa, a CIA e os “grandes grupos estrangeiros” colocaram-no na cadeia “sem provas” somente para impedi-lo de voltar à Presidência.
Como fez ao longo de toda a sua trajetória política, Lula só está pensando em si mesmo. Usa a campanha presidencial e todo o aparato do PT com o objetivo de intimidar magistrados, provocar a desordem institucional e, assim, gerar um impasse no Judiciário a respeito de sua candidatura. Pouco importa se essa estratégia causa enorme confusão no País e se reduz o PT, outrora vistoso partido, à condição de mero leão de chácara de seu mandachuva.
E reduz, diga-se de passagem, Manuela do PCdoB em feminista obediente que atende aos anseios do “painho”. O jornalista José Casado também escreveu em sua coluna de hoje sobre a “implosão” da esquerda causada pelos devaneios ególatras de Lula, o chefe que comanda a quadrilha de dentro da prisão:
É longa a lista dos supostos humilhados por Lula, mas nenhum pode se queixar. Todos aceitaram um papel nessa tragicomédia centrada na onipotência de um velho líder, incapaz de reconhecer seu lugar na sociedade de classe média poderosa e ansiosa pela conexão com a modernidade capitalista. Nos arquivos do PT há uma coletânea de pesquisas sobre tais contradições.
Lula segue com o seu plano de cativeiro — suicida, para muitos. A essência está registrada em documentos do partido. Eis as etapas: 1) cultua-se a imagem de “vítima” de um sistema judicial manipulado pela “elite”; 2) questiona-se a legalidade da disputa sem a sua participação (“Eleição sem Lula é fraude”); 3) estimula-se o “voto de protesto” em candidato-laranja; 4) se derrotado nas urnas, contesta-se a legitimidade do presidente escolhido em eleição “fraudada” pelo veto a uma “ideia” chamada Lula.
A derrota fica mais próxima, mas Lula não se importa, desde que possa investir em sua narrativa, usando a tudo e todos como peões em seu tabuleiro de xadrez. É o fim trágico, porém coerente, desse que sempre se mostrou um oportunista egoísta. Álvaro Dias, em entrevista ao Globo, disse sobre o condenado mais famoso do país:
Vai soltar Lula, como Ciro Gomes defendeu?
Se cometeu crime, o lugar dele é na cadeia. Não há outra alternativa. A ideia fundamental da refundação da República é que todos devemos nos submeter às leis.
Como avalia a liderança de Lula nas pesquisas?
Contesto essa liderança. Como alguém lidera as pesquisas com 50% de rejeição? O presidiário (em referência a Lula) está inelegível. Uma minoria insignificante o apoia. Temos de olhar o Brasil decente. Isso é uma afronta ao Brasil. É como se o PCC se transformasse em partido e o Marcola (líder) fosse candidato à Presidência. Esse é o Brasil que queremos?
Lula tem méritos?
Claro. Mas o que vale é o conjunto da obra. E ele foi perverso, destruiu sonhos e esperanças. Não apenas empregos e salários.
No “conjunto da obra”, Lula é apenas isso mesmo: um criminoso esperto, com traços claramente psicopatas, que não se importa em mentir e usar os outros de olho apenas em seus próprios interesses, e que fez sua carreira política com demagogia, sensacionalismo e exploração da miséria alheia, e que agora, preso, não se importa em tocar o caos e avacalhar com a democracia se for para bancar a vítima, o perseguido político.
Na viagem alucinada dos seus seguidores alienados, esse sujeito é um herói injustiçado que luta contra as elites perversas. A esquerda vai levar uma merecida surra nas urnas, tanto pelo rastro de destruição que deixou após sua longa passagem pelo poder, como pela postura inaceitável de ditador de republiqueta do seu líder máximo, que cospe em nossas instituições republicanas.
Rodrigo Constantino