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“Um compromisso com normas comuns é um ingrediente necessário para qualquer coalizão inter-racial.” – Christopher Lasch

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Aproveitei a pausa do carnaval para ler dois livros interessantes. Um deles, The Revolt of the Elites and the Betrayal of Democracy, de Christopher Lasch, comento melhor em outra oportunidade, aproveitando apenas alguns trechos sobre o tema desse texto. O outro, “White Girl Bleed A Lot”: The Return of Racial Violence to America and How the Media Ignore It, de Colin Flaherty, será o foco aqui.

O autor sustenta a tese de que há uma epidemia de crimes raciais praticados por negros nos Estados Unidos que a mídia prefere simplesmente ignorar. Ele não tenta explicar o fenômeno, apresentar causas, muito menos soluções. Ele apresenta os fatos, após investigar mais de 500 episódios em 3 anos, e deixa o leitor tirar suas próprias conclusões.

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O livro recebeu crítica favorável de ninguém menos que Thomas Sowell, respeitado pensador americano da atualidade, e que é negro, vale notar. Ele disse que os dados expostos vão ao encontro de suas próprias pesquisas pessoais, mas que não tinha ideia de que a situação estava tão ruim. Por outro lado, o livro foi alvo de ataques raivosos e histéricos da esquerda “progressista”, como no caso da revista “Salon”, uma espécie de “Carta Capital” ou “Caros Amigos” daqui.

Há inúmeras menções raciais na imprensa ou fora dela, definindo movimentos com base na “raça” negra. Uma rápida busca na internet revela a grande quantidade de festas, organizações não-governamentais, eventos, canais de rádio, jornais e tudo mais com o “Black” na frente. Só não se pode falar, pelo visto, do “Black crime”. Quando o assunto é violência, confusão, ou até mesmo estupros e assassinatos, o fator racial precisa desaparecer, perde relevância. Ai de quem falar em uma onda de crimes praticados por negros: será automaticamente acusado de racista.

Como foi, claro, o autor do livro, um repórter que já ajudou a tirar um negro da prisão no passado, acusado de um crime não cometera, e que já foi “ghostwriter” de uma comissão de direitos civis para negros. A principal reação de muitos foi a de que o enfoque dado apenas incita a violência e o racismo. Mas se há mesmo um problema ocorrendo na comunidade “afrodescendente”, será que a melhor resposta é fechar os olhos e fingir que ele não existe? Será que tratar o assunto como tabu é o melhor a fazer?

São mais de 90 cidades analisadas nesse período, com vários casos chocantes de “knockout”, uma “brincadeira” estúpida em que jovens negros batem em brancos até apagá-los, de “flash mobs” (os nossos “rolezinhos”) ou crimes pesados em que o fator racial fica claro como motivador. E o que mais impressionou o autor foi o silêncio da mídia, sua deliberada cara de paisagem sobre o que está acontecendo, e até mesmo a intimidação aos que ousam tocar no assunto.

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O livro contém diversos links para vídeos do YouTube, o canal que torna possível verificar o que se passa, já que a grande imprensa se cala. Muitos compartilham as mesmas características: socos, gente roubando telefones celulares, rindo das vítimas, o envio de mensagens de texto em telefones roubados, lutas e agressão aos policiais. Centenas, milhares de pessoas praticando atos de vandalismo, de violência gratuita. Invariavelmente são jovens negros, mas a imprensa destaca somente a primeira parte, culpando a juventude por tudo. Mas não são jovens brancos ou asiáticos nas imagens. São jovens negros.

O livro fica até repetitivo uma hora, pois são relatos e mais relatos de casos em diferentes cidades americanas, mas todos com esse mesmo denominador comum. E as estatísticas oficiais corroboram, apesar de a maioria dos crimes violentos não entrar nas estatísticas pois não são reportadas pelas vítimas por medo de retaliação: os negros representam menos de 16% dos jovens de 15 a 19 anos, enquanto os brancos são dois terços do total, mas, segundo o FBI, os jovens negros (por prisões abaixo de 18 anos) representaram mais da metade dos casos de assassinato, um terço dos estupros, e quase 70% dos assaltos em 2012.

A “negação da realidade” é o mais espantoso, fruto de nossa era politicamente correta. Por exemplo: o famoso programa “Law and Order” retratou um dos episódios do livro, de uma gangue que sequestrou, torturou e matou um trabalhador asiático de um restaurante em Nova York. Só que com um pequeno detalhe: no drama, os atores que interpretaram os criminosos eram todos brancos. Na vida real eram todos negros. Eis o grau de “sensibilidade” em que a coisa chegou.

O autor não tenta explicar. Diz que isso está acima de sua capacidade. Prefere apenas mostrar os fatos que ninguém quer ver. Um deles está nos recorrentes problemas ocorridos em festividades do 4 de julho, Dia da Independência. A retórica de muitos líderes da comunidade negra em nada ajuda. O comediante Chris Rock, por exemplo, chegou a tuitar: “Feliz Dia da Independência das pessoas brancas. Os escravos não eram livres, mas estou certo de que curtiram os fogos de artifício”. Esse tipo de mensagem vingativa ou rancorosa, que encontra eco em boa parte da elite branca culpada, espalha-se pelo país, e sem dúvida é lenha na fogueira. Basta ler algumas letras dos raps mais famosos para verificar o tom odiento da coisa.

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Em Miami Beach, paraíso turístico que goza de relativa ordem e segurança durante quase o ano todo, ocorre a famosa Black Beach Week na época do “Memorial Day”. É um evento voltado para a comunidade negra, anunciado em rádios e jornais direcionados ao público negro. Mais de 300 mil pessoas, predominantemente negras, passam pela praia nesse período, com vários relatos de tiros, assaltos, agressões a policiais, toneladas de lixo e danos a propriedades que merecem a definição de “caos anárquico”.

Moradores e proprietários de estabelecimentos cansaram de reclamar, mas ninguém faz nada de efetivo para impedir o transtorno. Não se pode ofender as “minorias”. Todos temem ser acusados de “racista” se criticarem demais esses dias de estrago em sua cidade. Até que, finalmente, em 2012, dez anos após a primeira festa, a polícia de Miami se preparou e transformou as ruas num “campo armado”, inclusive checando cada carro que chegava. Centenas foram presos, e os participantes reclamaram, naturalmente. Mas a farra continuou: muitos consumiam drogas na frente dos policiais. No ano seguinte, mais de 400 foram presos. A festa não pode parar. Ao menos não se você tiver a cor certa…

O padrão de resposta dos jornalistas, quase todos de esquerda, costuma ser o seguinte: negar a existência do problema, depois justificá-lo transferindo a responsabilidade para as vítimas, não para os criminosos. Ignore as vítimas verdadeiras e humanize os predadores que lhes atacam, eis a tática. E depois cada um se elogia por sua sensibilidade moral superior. Fim de papo.

É o mesmo processo que vemos quando o assunto é o terrorismo islâmico. A esquerda sempre tenta separar a religião do fenômeno, e se recusa a sequer falar em terrorismo ligado ao Islã. O presidente Obama chega a afirmar que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Mas os terroristas não são judeus ou cristãos, tampouco budistas: eis o fato incômodo.

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Ninguém está dizendo que todo muçulmano é um terrorista, muito menos que todo negro é marginal. Seria absurdo. Isso é um espantalho criado pela esquerda para fugir do problema. Agindo assim, os maiores prejudicados são os próprios muçulmanos que desejam reformar sua religião e se livrar dos radicais e fundamentalistas, e os negros que pretendem mudar a subcultura de gueto que pode estar por trás desses problemas.

O vitimismo, alimentado pela esquerda, em nada ajuda. Os jovens negros aprendem que não são responsáveis por seus atos, pois são vítimas do racismo branco e vivem numa nação racista sob a supremacia da raça branca. Além de isso fomentar um ressentimento e um ódio desnecessários, também exime o jovem de responsabilidade: sua violência está moralmente justificada, é apenas um ato de vingança, ou pior, de “justiça”. Como esperar algo muito diferente?

Outro fator que pode explicar boa parte do problema é a imensa quantidade de filhos que nascem fora do casamento, sem um pai presente. Entre os negros, essa proporção chega a impressionantes 72%, contra menos de 30% nos brancos. Eis um resultado explosivo de uma mistura de feminismo com cultura racial, mas que poucos comentam. Esses filhos não encontram uma figura masculina para lhes impor limites ou servir como boa referência, e o estado de bem-estar social jamais será um bom substituto para a família, como querem os esquerdistas.

Christopher Lasch, no livro já citado, analisa a questão racial em Nova York e conclui que a subcultura de gueto acaba impedindo o avanço de muitos jovens negros. Os militantes de movimentos raciais encorajaram a polarização da sociedade com base na “raça”, e fizeram pior: insistiram que os estudantes negros não poderiam ser julgados com base nos mesmos padrões dos brancos. Afinal, esses padrões já seriam racistas, ainda que de forma velada, disseminada pelo “sistema” de poder (obrigado, Foucault).

A esquerda romântica ajudou nisso ao idealizar a cultura afrodescendente como uma libertação das restrições burguesas que seriam hipócritas, principalmente do ponto de vista sexual, colaborando assim para o ataque a um único padrão de conduta. Os movimentos dos direitos civis começaram tentando justamente acabar com o duplo padrão, com Martin Luther King Jr. demandando que todos fossem julgados pelo caráter, não pela cor da pele. E hoje os movimentos raciais voltaram com o duplo padrão.

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Os alunos negros que se destacam dentro do “sistema” acabam acusados de “agir como brancos”. Os que fracassam são consolados com base na rejeição dos padrões “eurocêntricos”. O vitimismo impera, o que dificulta muito o respeito próprio. Sem autoestima, esses jovens passam a confundir respeito com intimidação por medo. A subcultura do crime surge então como uma forma de restaurar esse respeito próprio perdido, “por todos os meios necessários”. Diz Lasch:

A canonização retrospectiva de Malcolm X pode ser entendida como uma versão politizada dessa preocupação deslocada com violência, intimidação e auto-respeito. Graças a Spike Lee, Malcolm é agora visto como um líder que prometeu, com efeito, restaurar a autoestima de seu povo “por quaisquer meios necessários”, isto é, por meio de intimidação racial.

Em resumo, Colin Flaherty apresenta muitos dados, que parecem indicar, realmente, uma epidemia de crimes raciais. O elefante está na sala, mas a mídia prefere ignorá-lo. Primeiro nega sua existência, depois justifica o fenômeno transferindo responsabilidade do criminoso para a vítima. Flaherty não procura explicar suas origens, tampouco apresentar soluções.

Diante dos fatos, a esquerda prefere encontrar desculpas, como as condições “sociais”, leia-se financeiras, já que tudo parece se resumir ao dinheiro para os esquerdistas. E sua receita é sempre mais do mesmo: mais ações afirmativas, mais estado de bem-estar social, mais vitimismo, o que acaba reforçando o problema. Os ataques morais à família tradicional e à religião, principalmente a cristã, jogaram mais lenha na fogueira, ao criar ambiente mais fértil para uma juventude sem freios e limites. É só hedonismo, só “aqui e agora”, só dar vazão aos desejos mais instintivos, “autênticos”.

E ai de quem tentar debater isso tudo de forma séria: será logo acusado de racista. O mais triste é que são os próprios jovens negros que mais perdem com isso tudo, além de suas vítimas, naturalmente. E todos seguem de olhos fechados, para não ver cor quando ela não interessa à narrativa de vitimização.

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Rodrigo Constantino