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Por Ricardo Bordin, publicado pelo Instituto Liberal

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Física já teve seus dias de Cristo crucificado na mão da turba “progressista”. Depois foi a vez da Matemática levar uns sopapos por sua relação intrínseca com a lógica pura – e avessa, portanto, a qualquer princípio básico da esquerda. E agora, no mais novo capítulo deste esforço concentrado para retirar do currículo escolar qualquer coisa que permita aos jovens serem úteis aos demais cidadãos e tornarem-se produtivos no mercado de trabalho, o alvo está na testa do idioma anglo-saxão: organizadores de uma conferência em Boston declararam sua pretensão de fazer a língua de Shakespeare perder relevância no mundo acadêmico. O motivo? Preocupação com a ascensão de sentimentos nacionalistas e xenófobos, dizem.

Mais especificamente, a Society for Social Studies of Science (jura? achei que era o pessoal do clube de caça e tiro do Texas) estimulou os inscritos em seu encontro anual a elaborarem seus trabalhos de pesquisa em outras línguas que não o inglês. Segundo consta do comunicado, Estados Unidos e Inglaterra, grandes responsáveis por transformar o inglês em uma linguagem universal, são países que hoje adotam políticas que “enviam uma mensagem de isolamento e provincianismo, ameaçando a importância das diversidade humana”.

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A piada pronta do evento: muito embora pretendam promover este tão bem intencionado (suposto) enriquecimento cultural, o comitê pede que as pesquisas entregues em outros idiomas venham acompanhadas de suas respectivas….versões em inglês! Ué?

Agora um pouco de vida real para adultos que não comem com talher de plástico: o inglês não foi imposto de cima para baixo como língua que deveria dominar o planeta, sob pena de multa e prisão dos descontentes. Foi a produção cultural, científica e industrial destes países que espalhou o idioma aos quatro ventos de forma totalmente espontânea. Músicas, filmes, obras literárias, descobertas em diversos campos de estudo, inovações tecnológicas: foram estes bens gerados, ofertados e trocados voluntariamente que levaram consigo a língua inglesa (no pacote) a todos os confins do mundo.

Se isso facilitou, dali em diante (especialmente a partir da segunda metade do século XX), a vida dos falantes nativos do inglês? Sem dúvida. Mérito deles – e sorte a nossa. O que o Esperanto fracassou miseravelmente em realizar, ingleses e americanos operacionalizaram (sem querer) como brinde para a humanidade: as fronteiras do conhecimento erguidas pelas diferenças linguísticas foram derrubadas pela comunicação universal oferecida pela língua inglesa.

Eis aí o cerne da questão: se hoje um grupo de empresários de Xangai reúne-se com sauditas para tratar de negócios, não se faz necessário nem que chineses arranhem no árabe nem que os sheiks arrisquem o mandarim; a língua inglesa presta-se a intermediar o negócio, eliminando custos na medida em que facilita o processo.

Se um turista Belga resolve visitar a Itália, o inglês pode perfeitamente proporcionar entendimento entre o turista e o povo local, dispensando a necessidade de contratar um tradutor ou de perder tempo e dinheiro antes da viagem aprendendo italiano – barateando o passeio em muito e ampliando o contato entre diferentes culturas.

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Se um fugitivo dos campos de trabalhos forçados da Coréia do Norte ou da ilha de escravos dos irmãos Castro no Caribe pretende, tão logo se restabeleça dos percalços da fuga, contar sua história de sofrimento ao maior número possível de pessoas, basta publicar um livro em inglês – a partir dali, ele será rapidamente traduzido para todos os demais códigos linguísticos existentes.

Ou seja, não apenas esta adoção da língua inglesa como idioma mundial tornou diversos aspectos de nossas vidas mais eficientes e menos dispendiosos, mas também pôs todos os seres humanos para conversar. Abrir mão desta ferramenta seria, aí sim, condenar as nações e seus povos ao isolamento. Como se fala incoerência em inglês mesmo?

Nas palavras de Leonardo Glass, colaborador do Instituto Liberal:

há algumas décadas, o francês e (em menor extensão) o latim eram línguas universais, ou seja, a universalidade de uma língua não tem a ver com “pagar pau pra americano”. O crescimento do inglês como idioma universal se deve principalmente ao fato de que trata-se de uma língua mais simples de aprender e de falar do que os idiomas latinos (dentre eles o próprio francês e o latim).

O inglês é uma língua mais “primitiva” do ponto de vista da sintaxe, mas funciona muito bem para expressar ideias completas e sentimentos complexos. Não fosse assim, certamente outra língua tomaria o lugar dela.

Está mesmo difícil deste pessoal das “ciências sociais”(?) digerir o Brexit e engolir o resultado da última eleição americana. Qualquer oportunidade de bater em ingleses e americanos não pode, aparentemente, ser desperdiçada – ainda que ao preço de condenar a língua inglesa, o instrumento que permite a irmanação de cidadãos de toda a Terra, ao banimento.

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Sejamos francos: aumentar o abismo intelectual entre as elites financeiras e as pessoas comuns é tudo que estes perseguidores da Física, da Matemática e do Inglês querem – enquanto as próximas iniciativas neste sentido estão sendo preparadas. Quanto mais imbeciliza-se uma população, mais fácil fica alegar que ela não reúne condições para decidir por si própria que rumos tomar, servindo como justificativa para manter poder econômico e decisório na mão de burocratas e seus apaniguados da iniciativa privada.

Os colombianos rejeitaram o famigerado “acordo de paz” com as FARC, o qual equivaleria a conceder anistia e garantir cotas no congresso nacional ao PCC? Cuánta ignorancia de este pueblo!

Os brasileiros em massa rejeitaram o desarmamento? Quanta ignorância deste povo!

Transformar o sistema previdenciário em fundos individuais? Mas o brasileiro médio é muito ignorante para poupar por si próprio.

E assim segue o ciclo: retira-se sucessivamente mais e mais importância de todas as matérias tradicionais do ensino clássico, a ponto de encher a grade curricular com aula de dança na boquinha da garrafa, oficina de lacração no Youtube, ideologia de gênero, e pronto: temos um estamento burocrático garantido e ampliado, na medida em que a mobilidade social característica do livre mercado resta deveras prejudicada pela idiotização dos indivíduos.

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