Em um dos trechos dos diálogos de Joesley Batista e Ricardo Saud divulgados nesta terça-feira com exclusividade por VEJA, o empresário, dono do grupo JBS, fala em tom de brincadeira com seu braço-direito na companhia da dificuldade que teria para contar à esposa, a jornalista Ticiana Villas Boas, que havia assinado delação premiada e estava por trás do esquema de corrupção investigado na Lava Jato. “Eu estou aqui pensando, a Tici, que é uma mulher inteligente… Você já imaginou quando eu tiver que contar as minhas traquinagens, tipo dez minutos antes de sair no programa Jornal Nacional, da TV Globo. Vou ter que chamar e falar ‘Amor, vão falar um negócio aí no Jornal Nacional’.
Logo após, ele volta a brincar sobre o assunto com Saud. “Amor, sabe aqueles amigos nossos?, e cai na gargalhada. Saud o interrompe, rindo também: “(Inaudível) e Ricardinho, são tudo vagabundo! Você achava que era um negócio sério?”
Prevejo uma situação difícil na residência do casal, depois que o “espertalhão” riu imaginando como ia enganar a esposa com suas juras de amor e bancando o humilde, dizendo que não merece ela. Mas o mais importante aqui sem dúvida não é a trama familiar, e sim a confissão de Joesley com a pergunta que deixa no ar: você acha que era um negócio sério?!
De fato, quem pode achar que tudo aquilo envolvendo a JBS era um “negócio sério”? Bilhões e mais bilhões destinados para a empresa para que ela pudesse concentrar poder no mercado de carnes, criando uma “campeã nacional” e até mesmo se expandindo para o exterior, e isso sob um governo petista, com Lula no comando e Guido Mantega no ministério da Fazenda, além de Luciano Coutinho no BNDES: como levar a sério?
Mas pelo visto existe uma pessoa que ainda leva a sério o negócio tudo, ou melhor, a negociata toda. Não é um petista de carteirinha. Não é a Ticiana. Não é sequer um tradicional esquerdista. É o atual presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, conhecido liberal até ontem, com doutorado na Universidade de Chicago, e autor do livro O mito do governo grátis. Ou seja, a pessoa mais improvável do mundo para achar que o BNDES petista faria um negócio sério com a JBS de Joesley Batista.
Só que foi exatamente o que Paulo afirmou, rasgando sua biografia num átimo de segundo, com uma só afirmação, que manchou completamente todo o seu currículo. Paulo disse que a JBS foi “um dos negócios mais bem bolados e bem sucedidos da BNDESPar”, braço de participações do banco. A instituição de fomento tem 21,32% de participação na companhia.
Rabello de Castro citou ainda que a companhia teve projeção mundial com a compra da Pilgrims Pride Corporation, em 2009. O negócio recebeu apoio do BNDES. “A compra da Pilgrims, em plena crise mundial, com a colaboração financeira, societária do BNDES, foi absolutamente decisiva. Ali a empresa JBS realmente ganhou a dimensão mundial”, disse, destacando que falava não como presidente do BNDES, mas sim como consultor econômico. “Foi num momento em que todos estavam vendendo ativos”, afirmou.
Ou seja, enquanto o próprio Joesley se delicia às gargalhadas imaginando a reação de sua mulher quando souber que nada daquilo era sério, que seus amigos eram todos uns “bandidos vagabundos”, eis que o economista com trajetória liberal faz cara de sério para afirmar que as ligações entre BNDES e JBS foram ótimas para o país. É tudo uma grande piada, mas só quem está rindo mesmo é o Joesley…
Rodrigo Constantino
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