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Você acredita na mão invisível do mercado?

Por Lucas Pagani, publicado pelo Instituto Liberal

Não existe tal coisa como a “mão invisível do mercado”. O mercado não é uma entidade e tampouco uma instituição. O mercado é um processo. Isso mesmo, um processo entre agentes econômicos. A configuração do mercado é dada pelos indivíduos, os quais realizam trocas voluntárias de forma dinâmica.

O economista Ubiratan Jorge Iório dissertou que o papel do mercado “é o de servir como um processo, mediante o qual, por tentativas e erros, tanto o conhecimento como as expectativas dos diferentes membros da sociedade vão se tornando paulatinamente mais compatíveis no decorrer do tempo.”

É sem sentido dizer que o mercado, um processo, poder-se-ia agir para “corrigir” as falhas de “mercado”. Apenas indivíduos agem. Apenas pessoas podem atribuir valor e agir.

Carl Menger afirma que:

O principio que leva as pessoas à troca é simplesmente o que as conduz em toda atividade econômica, ou seja, o empenho em atender plenamente, se possível, às suas necessidades. O prazer que as pessoas sentem na troca econômica de bens é aquele sentimento geral de satisfação que costumam sentir quando percebem que, fazendo isso ou aquilo, conseguem atender melhor às suas necessidades que não o fazendo”.

O mercado é um fenômeno e uma estrutura social. Menger, ao discorrer sobre fenômenos sociais, explicita que o processo inicia de modo descoordenado, espontâneo e orgânico, ou seja, uma ordem espontânea. […]fenômenos sociais são o resultado não intencional de atividades que visam a fins essencialmente individuais.” Afirma Menger.

Se o mercado é um processo derivado da ação de cada um dos indivíduos, com fins diferentes, valorações diferentes, descoordenados entre si, como eles se coordenam? Pelo processo. O homem é limitado pela sua natureza e a sua limitação está relacionada ao seu conhecimento imperfeito. Todas as valorizações do indivíduo pautam-se nas informações que recebem através do mercado. Hayek, no seu artigo “O uso do conhecimento na sociedade” disserta que:

O caráter peculiar do problema de uma ordem econômica racional se caracteriza justamente pelo fato de que o conhecimento das circunstâncias sob as quais temos de agir nunca existe de forma concentrada e integrada, mas apenas como pedaços dispersos de conhecimento incompleto e frequentemente contraditório, distribuídos por diversos indivíduos independentes. O problema econômico da sociedade, portanto, não é meramente um problema de como alocar “determinados” recursos — se por “determinados” entendermos algo que esteja disponível a uma única mente que possa deliberadamente resolver o problema com base nessas informações.”

O agente vive em situação de extrema incerteza, com objetivos e valorizações diferentes dos demais. O agente deve prestar atenção nos termômetros econômicos que o processo de mercado fornece. Esse termômetro é exatamente a formação dos preços.

O sistema de preços indica onde o indivíduo pode apostar, numa espécie de tentativa e erro,  como poderá alcançar seus fins com os meios que ele dispõe. Somente o processo pode indicar uma tendência de equilíbrio, visto que os agentes estão realizando trocas e alterando, constantemente e indefinidamente, o sistema de preços.

Quando os liberais falam sobre a mão invisível do mercado, na realidade, eles querem demonstrar que o processo de mercado é o grande responsável pela solução de inúmeros problemas ao longo do tempo. Intervenções dirigidas apenas atrapalham a formação dos preços, quebrando, assim, o termômetro do processo.

Na prática, podemos analisar o famoso caso Taxi versus Uber. Enquanto os taxistas detinham o monopólio dos serviços de carona, os preços eram altos e a qualidade do serviço quase sempre insatisfatória. Os usuários precisavam de uma alternativa mais eficiente: eis que surgiu o Uber.

Com a invenção do Uber, as corridas transformaram-se completamente. Os preços abaixaram, as pessoas começaram a usar o “termômetro” dos preços Uberísticos e a demandar, cada vez mais, corridas via Uber.

Algo semelhante ocorreu a partir da invenção do WhatsApp, Facebook, Twitter, E-mail e inúmeras tecnologias que fazem parte do processo de mercado. Cabe ao papel empreendedor do indivíduo buscar soluções para os problemas de coordenação de mercado, onde ele oferte soluções para os outros agentes de maneira espontânea e não regulada.

Não é a mão invisível do mercado que coordena as relações econômicas, mas sim os seus próprios agentes participantes do processo de mercado. Não é um burocrata ou um agente governamental quem corrige o mercado. São os próprios agentes econômicos que fornecem soluções para os “problemas de mercado”.

“A curiosa tarefa da economia é demonstrar aos homens o quão pouco eles realmente sabem sobre o que imaginam que podem projetar.” – F. A. Hayek

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