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Por João César de Melo, publicado pelo Instituto Liberal

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O capitalismo é frio e cruel. Nele, precisamos pagar por tudo, até por comida. Nada é de graça.

O capitalismo não tem coração. Não tem sentimentos. Não valoriza o amor das pessoas. Seus agentes só pensam em lucrar. Transforma seres humanos em monstros gananciosos.

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O capitalismo é frio e cruel, mas existe uma coisa que ele não faz: não nos obriga a fazer parte dele. Fábricas não nos obrigam a comprar seus produtos. Bancos não nos obrigam a contratar seus serviços. Sendo assim, qualquer pessoa que não concorde com ele pode simplesmente rejeitá-lo.

Em vez de morar em bairros valorizados pela especulação imobiliária, os críticos do capitalismo podem ir morar na periferia.

Em vez de participar do mercado opressor, um profissional anticapitalismo pode criar uma empresa sozinho ou em parceria com amigos para oferecer produtos bons, baratos e sustentáveis, pagando salários justos aos funcionários, concedendo-lhes todos os direitos trabalhistas e contratando prioritariamente os “excluídos pelo capitalismo”.

Em vez de serem capitalizados, os lucros podem ser convertidos em ações sociais.

Essa empresa pode não ter conta em banco, não tomar empréstimos, não pagar juros, não se submeter às armadilhas capitalistas.

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Os equipamentos e os móveis dessa empresa podem ser feitos de materiais reciclados.

Suas instalações podem ser projetadas de uma forma que a torne autossuficiente em energia, que utilize água da chuva e que trate seu próprio esgoto.

Enquanto aguarda que outros anticapitalistas desenvolvam computadores que não sejam produzidos no sistema de divisão do trabalho que explora os trabalhadores e enriquece os empresários, pode-se tocar a vida fazendo contas e armazenando dados em cadernos feitos de papel reciclado.

Em vez de fechar sua vida numa bolha individualista, o anticapitalista pode manter sua casa aberta aos sem-teto e sua dispensa disponível aos famintos. Pode, também, se alimentar apenas de produtos orgânicos, cultivados em comunidades autossustentáveis ou em seu próprio quintal.

O anticapitalista pode substituir a televisão por uma biblioteca de livros produzidos em impressoras desenvolvidas por outros anticapitalistas.

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Enquanto aguarda o desenvolvimento de roupas boas, baratas e super legais fabricadas em confecções que não visam o lucro, pode-se vestir apenas peças usadas, trocadas em brechós comunitários.

Sua casa pode ser feita inteiramente com materiais naturais. Em vez de revestimentos comprados em lojas capitalistas, suas paredes podem ser cobertas por pichações e grafismos de artistas de rua.

Nas férias, em vez de voar até a Europa em aviões produzidos e utilizados para se obter lucro, o anticapitalista pode velejar numa jangada ou remar num tradicional barco caiçara até a África, onde distribuiria sua própria renda entre as populações historicamente exploradas pelos homens brancos dos países ricos.

Em caso de doença, pode substituir os medicamentos de grandes multinacionais pela medicina tradicional dos povos das florestas.

Nada impede que os anticapitalistas construam hospitais, escolas e universidades sem fins lucrativos, fabricando eles mesmos todos os equipamentos necessários, priorizando o atendimento gratuito e de qualidade às pessoas de baixa renda.

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Tudo isso poderia ser colocado em prática com ainda mais facilidade em áreas rurais, estabelecendo parcerias com comunidades indígenas e quilombolas.

Em resumo, todas as pessoas que não concordam com o capitalismo podem oferecer a si mesmas estilos de vida independentes ou, em conjunto com outras, construir comunidades autônomas moldadas pelo amor e pelo espírito coletivo. Não há nada que as impeça de fazer isso.

Infelizmente, as pessoas que não concordam com o papel desempenhado pelo estado não têm essa liberdade. Todas são obrigadas a pagar impostos, concordando ou não com sua finalidade. Todas são obrigadas a seguir suas leis, por mais absurdas que algumas sejam.

Todas as pessoas passam a vida pagando impostos sobre tudo mas logo que morrem, o estado aparece para cobrar uma percentagem até sobre a herança que foi deixada para os filhos.

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O estado obriga cristãos a financiar grupos anticristãos, empresários a financiar grupos comunistas, fazendeiros a financiar grupos que invadem fazendas, pessoas que não gostam de futebol a financiar a construção de estádios de futebol.

O estado nos obriga a sustentar artistas dos quais não gostamos e regalias usufruídas apenas por altos funcionários do próprio estado.

Enquanto o capitalismo, com toda sua frieza e crueldade, nos permite rejeitá-lo, o estado, com toda sua sabedoria e bondade, não nos oferece sequer a liberdade para nos defender de um agressor.

Nenhuma empresa capitalista tem o poder de nos prender ou de se apossar de nossos bens porque nos recusamos a consumir seus produtos. O estado o tem. O estado o exerce.