
A figura abaixo faz uma comparação da produtividade no Brasil com a de países de renda média alta, grupo de países a que pertencemos de acordo com a classificação do Banco mundial. Repare que apenas Tailândia e China são menos produtivas que o Brasil. Com uma produtividade tão baixa, não há como oferecer condições de trabalho, saúde, educação e uma rede de proteção social semelhante À de países de primeiro mundo. Não tem combate à corrupção nem congelamento de preços que mude isso.
Fica pior. A figura abaixo mostra o crescimento da produtividade no mesmo grupo de países da figura anterior. Lembra da China que estava em último lugar? Lá a produtividade é baixa, mas está crescendo bem; aqui nem isso. Temos a terceira produtividade mais baixa e só ficamos à frente da África do Sul em crescimento, no caso encolhimento, da produtividade. O assunto é relevante. Em 2013, a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, na época sob o comando do Marcelo Neri, fez uma pesquisa chamada “Determinantes da produtividade do trabalho para a estratégia sobre sustentabilidade e promoção da classe média” (link aqui). A equipe foi coordenada pelo Ricardo Paes Barros e eu tive a boa sorte de participar. A avaliação era que sem uma mudança na trajetória da produtividade a nova classe média estava em risco. Em 2014 foi a vez de o IPEA colocar a questão da produtividade no centro das atenções em dois volumes intitulados “Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes” (link aqui). Também participei desse trabalho. Novamente aparecia a necessidade de mudar a trajetória da produtividade no Brasil. Em 2018 foi a vez de o Banco Mundial lançar o documento “Emprego e crescimento: a agenda da produtividade” (link aqui). Novamente a necessidade de ganhos de produtividade entra em cena. Sem resolver a questão da produtividade, não vamos ter renda suficiente para entregar o que foi prometido nesta e em outras campanhas.
Se hoje é relativamente fácil concordar em que nosso maior problema é a produtividade, não há nada parecido com um consenso quando o assunto é como aumentar a produtividade. Edward Prescott, Nobel de economia em 2004, diz que boa parte do baixo desempenho da produtividade pode ser explicada pela resistência à adoção de novas tecnologias e uso eficiente das tecnologias existentes e que essa resistência está relacionada às políticas empregadas por uma sociedade. Se Prescott está certo, e eu acredito que está, nossa baixa produtividade está relacionada às nossas políticas. O lado bom é que pode ser o caso de uma mudança de políticas levar a uma rápida mudança no quadro de estagnação, o lado ruim é que essa mudança de políticas não é fácil. De fato, acredito que tais mudanças não estão no horizonte, pelo menos não com a intensidade necessária.
A baixa taxa de investimento traz um dos maiores perigos para o nosso futuro. A tentação de usar de estímulos para aumentar o investimento sempre ronda os palácios de governo. O que pode dar errado? O estímulo ao investimento em tempos de crise gera emprego, produção e impostos, que acabam pagando parte do custo do estímulo. O que parece perfeito à primeira vista muitas vezes resulta em crises ainda maiores no futuro. Tratando desse assunto, os economistas Timothy Kehoe e Gonzalo Córdoba alertaram que usar estímulos para elevar investimento e emprego durante uma crise, se causar distorções suficientes, pode levar um país a uma depressão. Eu concordo com eles. Vou além, acredito que boa parte da grande crise que começou em 2014 foi consequência das distorções causadas pelos estímulos ao investimento entre 2009 e 2014
Sei que alguns citam países como Espanha e Japão para dizer que dívidas de cem por cento ou mais do PIB não são um grande problema. Considero essa abordagem um erro grave. Países ricos conseguem se financiar a taxas de juros baixas, bem próxima de zero ou zero; não é o caso do Brasil. A figura abaixo mostra a dívida bruta como proporção do PIB para os países emergentes conforme a classificação do FMI. Apenas a Ucrânia tem uma dívida bruta acima de 80% do PIB. Apenas Ucrânia e Sri Lanka têm dívidas brutas como proporção do PIB maiores que a do Brasil. Mantida a trajetória prevista pelo FMI, podemos nos tornar o país emergente com a maior bruta como proporção do PIB. Sei que nos achamos especiais, que Deus é brasileiro e coisas do tipo, mas temo que os financiadores de nossa dívida não pensem o mesmo e comecem a procurar outros lugares para colocar o dinheiro. Não faltam opções.
A solução para o problema fiscal passa por redução de gastos, aumento de impostos ou, mais provável, alguma combinação das duas coisas. Eu sou contra aumento de impostos. Para minha sorte eu não estou (nem pretendo estar) no governo. Um ajuste apenas por meio de gastos seria longo e exigiria uma reforma da previdência o mais rápido possível, não me parece crível que tamanho ajuste tenha um caminho fácil no Congresso. É verdade que o teto de gastos em tese nos deu vinte anos para fazer o ajuste, mas para que isso funcione é necessário mandar os sinais corretos. Sem a reforma da previdência aprovada no próximo ano creio que poucos terão a coragem de nos dar vinte anos de crédito. Um ajuste por impostos poderia ser feito em um prazo menor. As propostas teriam de ser enviadas ao Congresso no começo do próximo ano, tão logo quanto possível, de forma que até o fim do ano alguns impostos já tivessem em vigor. Uma versão da CPMF podia aliviar o problema fiscal, mas se isso acontecer o lado que perder as eleições de domingo vai ter todo direito de acusar estelionato eleitoral do lado vencedor. Depois não adianta acusar de golpista quem for as ruas reclamar que foi enganado. Se o plano é elevação geral de impostos e trazer de volta a CPMF, os candidatos tinham obrigação de ter anunciado na campanha. É melhor perder uma eleição que ganhar enganando o eleitor. Quem acompanhou os eventos políticos de 2015 e 2016 deve saber disso.