Por Pedro Henrique Alves, publicado pelo Instituto Liberal
Em questões políticas, a direita brasileira precisa aprender muito ainda. Poucas pessoas parecem entender que a situação, neste momento, não permite saudosismos ou egos inflados. Lavar as mãos, agora, significa apenas apoiar o mal maior. Como há poucos dias bem observou o meu colega de escrita política, Rodrigo Constantino, é simplesmente surreal que alguns indivíduos achem mais prudente votar no PT, ou abster-se de seus votos, por qualquer desapreço ou despreparo de Bolsonaro, legando ao vácuo político a chance de o PT voltar ao comando do país. Como se o PT e o Haddad, aliás, já não tivessem mostrado em 4 anos de prefeitura de São Paulo e 13 anos de governo federal suas inaptidões administrativas; saindo dos respectivos cargos com os bustos ornamentados com as medalhas de vergonha nacional.
Uma das principais críticas apresentadas à esquerda é que ela se encerra em bolhas políticas, isolando-se deliberadamente dos fatos, abstendo-se de uma interpretação da realidade que tenha por objeto a própria realidade. No entanto, alguns liberais parecem estar labutando para construir a sua própria bolha. Creio até que não seja aquilo que geralmente chamaríamos de “maioria”, mas com certeza é boa parte. Esses preferem morrer abraçados aos seus candidatos e siglas que, obviamente, não passarão nem na esquina do segundo turno. O que não significa que tal fato também não ocorra com os ditos bolsominions; aliás, ocorre e muito, afirmemos isso categoricamente. Essa é justamente a minha crítica, a qual já até transformei em ensaio para a Gazeta do Povo.
Não obstante, aquilo que costumeiramente chamamos de “voto útil”, hoje, há menos de uma semana das eleições, passa a ser muito mais honrado do que parece. Assim como a covardia e o auto sacrifício são separados por uma simples disposição moral, um filete de atuação que oscila entre o medo e a doação da própria existência por um bem maior; da mesma forma, no dia 7, votar utilmente pode esconder um martírio honroso da própria vontade, um ato consciente contra um mal muito maior que se arroga contra as muralhas do bom senso e da sanidade política nacional.
É simplesmente pacóvio manter um clubismo que já perdeu o sentido, quando temos o PT se erguendo em seu leviatanismo de sempre, caçando o cume do vilarejo para de novo derramar suas desgraças e, quiçá, a julgar por seu recorrentes endossos políticos à ditadura venezuelana, ir muito além das más administrações e corrupções de sempre; ou vocês realmente pensam que se trata de conspiração as admoestações que afirmam que o PT quer efetivamente venezuelar o Brasil? Não precisa ser nenhum gênio da análise política para observar o óbvio, nem uma mente brilhante para entender que quem ama tiranias não se renderá por muito tempo à democracia.
Deus é testemunha de como eu me afasto de ativismos, o quanto eu busco me apartar de qualquer coisa que se assemelhe a militâncias; como admirador de Russell Kirk, bem sei que qualquer ativismo tende a cercear um bom julgamento filosófico. Mas um bom conservador e liberal também mantêm o bom senso de proporcionalidade, e aqui jaz a questão: a prudência, a capacidade de abstração e de observar a política para além das pendências ideológicas permite que olhemos o macro, a situação que pode ocorrer numa possível volta da esquerda ao poder.
É insano pensar que — neste momento ímpar de mudança de polaridade política — iremos nos esconder em torcidas partidárias. O senso de auto sacrifício e o necessário rompimento momentâneo com nossas certezas, em busca de um mal menor, é necessário. Eu assumi reservadamente, há meses, que meu voto era de Amoêdo, os mais próximos não me deixariam mentir, mas hoje o voto no candidato do NOVO é estrategicamente nulo ao país. Não porque Bolsonaro é mais capaz, mas porque o PT é uma ameaça real e pulsante em nosso horizonte político, e hoje o único que pode impedi-los é o candidato do PSL.
Não é a hora de abraçar a síndrome de Pilatos, que por medo de se comprometer com o certo, ou assumir de peito aberto o errado, resolveu lavar as mãos diante da multidão, deixando que o errado prosperasse na esperança falha de que sua isenção aplacaria — ou ao menos suavizaria — a sua culpa frente a vitória do mal.
Só eu sei o quanto é duro e penoso ter que escrever este texto, mas definitivamente não lavarei minhas mãos, isentando-me de minhas responsabilidades enquanto filho desta pátria; não sairei da última trincheira para que, num funesto porvir, eu tenha que olhar para os olhos de meus filhos e assumir que minha covardia e egocentrismo adubaram o terreno da desgraça nacional!
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