Hoje muitos estão decepcionados com Barack Hussein Obama, outros nem tanto. Entendo. A força que a grande imprensa tem em moldar opiniões ainda é relevante, apesar de ter se mostrado claramente insuficiente para vitórias eleitorais. Por isso persiste uma simpatia injustificada pelo homem. Mas os números não mentem: o legado de Obama foi mesmo medíocre, para dizer o mínimo. E seus defensores, mais na torcida do que qualquer outra coisa, ainda tentam salvar a pele do presidente que conseguiu afundar de vez com o Partido Democrata.
“Detesto” dizer isso, mas eu avisei. Já sabia que o governo Obama seria ruim desde o primeiro dia, quando todos estavam eufóricos, realmente encantados, chorando de tanta emoção com sua vitória. Não quero dizer que Obama é igual a Lula, apesar de reconhecer que as maiores diferenças estão nas instituições de cada país, mas fenômeno parecido ocorreu no Brasil com o PT. Muitos se encantaram, e eu estava lá, alertando desde o começo que ia “dar ruim”. Não deu outra.
Sobre Obama, Guilherme Fiuza escreveu um artigo espetacular neste sábado no GLOBO, monstrando como todos escolheram fechar os olhos para os fatos, pois já tinham definido que “o cara” era um sucesso. Fiuza expõe essa paixão que o presidente despertava antes mesmo de fazer qualquer coisa. É a turma da esquerda caviar, a “beautiful people” que vive na bolha, que troca fatos por ilusões, que habita o universo da estética, da imagem, da sensação em vez de resultados concretos. Diz Fiuza:
A lenda de Obama começa com um final feliz. Coisa de gênio, sem precedentes. No que pôs os pés na Casa Branca, o presidente foi agraciado com o Nobel da Paz — o primeiro Nobel pré-datado da história. Quem haveria de contestar a escolha, diante do sorriso largo, da elegância e do alto astral do primeiro presidente negro dos EUA, exorcizando a carranca do Bush?
O problema de uma história que começa com final feliz é você ter que assistir ao resto de olhos fechados, para não estragar. Foi o que fez a claque mundial de Barack Obama nos oito anos que faltavam.
Os críticos dizem que foi um governo desastroso. Inocentes — não sabem o que é uma temporada com o Partido dos Trabalhadores. O Partido Democrata fez um governo medíocre, recostado à sombra do mito. E para corresponder à mitologia, aumentou alegremente as taxações e a dívida pública (100%), porque é assim que faz um Robin Hood. A diferença é que na vida real há uma floresta de burocratas no caminho, engordando com o dinheiro dos pobres. Uma Sherwood estatal.
Esse populismo perdulário, de verniz progressista, ancorado num líder identificado com os menos favorecidos — receita conhecida dos brasileiros — costuma ser muito saudável para quem está no poder. O problema é o bolso do eleitor, que não se comove com presidente fanfarrão, canastrão ou chorão. As caras e bocas de Obama devem ter enchido os olhos de Meryl Streep — mas, quando esvaziam o bolso do contribuinte, não tem jeito. A economia americana engasgou com as prendas estatais do presidente bonzinho, e as urnas mandaram a conta.
E que conta! A derrota foi humilhante e a imprensa está tentando compreender ou justificar até agora. Mas eu escrevi, em um dos meus primeiros artigos para o GLOBO, ainda em janeiro de 2009, um artigo contra Obama, argumentando que a esperança de muitos seria em vão. Eis o texto:
A Era da Esperança
“Não há erro pior na liderança pública do que alimentar falsas esperanças que logo serão frustradas.” (Winston Churchill)
A euforia que tomou conta do mundo durante a posse de Obama foi um espetáculo preocupante. O bordão “a esperança venceu o medo” resume a retórica do momento, abraçada por milhões de pessoas apavoradas com a crise econômica. Elas depositam toda a sua esperança no presidente, visto como um “messias salvador”. O governo passou a ser o Deus moderno.
Talvez ciente do alerta feito por Churchill, o discurso de Obama foi mais sóbrio que o esperado, pregando uma nova era de responsabilidade. O curioso é que Obama defende as políticas expansionistas do governo como solução para a crise. O governo americano já possui uma enorme dívida e um déficit fiscal crescente. Soa no mínimo estranho o presidente que defende pacotes bilionários falar em responsabilidade. Sêneca disse: “longo é o caminho ensinado pela teoria; curto e eficaz é o do exemplo”. Se Obama leva a sério seu recado, poderia começar com mais responsabilidade fiscal no próprio governo.
Os pilares ideológicos dos “pais fundadores” estão cada vez mais abandonados. O próprio culto à presidência demonstra como o país se afastou dos valores de seus fundadores, que enxergavam com enorme desconfiança o governo. A República americana acabou se transformando numa espécie de “ditadura da maioria”, onde as liberdades individuais ficam totalmente ameaçadas. O Estado, como já havia previsto Bastiat, virou “a ficção através da qual todo mundo se esforça para viver à custa de todo mundo”.
No seu livro sobre as multidões, Gustave Le Bon afirma que as massas não estão preparadas para admitir que algo possa ficar entre seu desejo e a realização deste desejo. Para ele, o indivíduo sob a psicologia das massas é um bárbaro, isto é, uma criatura agindo por instinto. Nelson Rodrigues resumiu: “a unanimidade é burra”. O filósofo Ortega y Gasset descreveu o “homem massa” como uma típica criança mimada que quer impor seus desejos. São como bóias à deriva, dispostos a depositar poder em quem promete atender tais anseios imediatos.
A esperança não venceu o medo: ela foi criada por ele. Os americanos preferiram sonhar a enfrentar a dura realidade. Esperam do governo milagres. Repetem que Obama vai resolver a crise. Obama é o super-homem! Esquecem que a economia anda bem quando a “mão invisível” pode funcionar sem tantas amarras. O dirigismo estatal é o caminho da ineficiência e da servidão. A história está repleta de exemplos para ilustrar isso. Nenhum ser humano seria capaz de absorver o conhecimento pulverizado na população toda. Obama e seus aliados são apenas seres humanos. Não são oniscientes, tampouco santos dispostos a sacrificar seus interesses particulares em prol do bem-comum.
Mas as multidões não querem saber disso. Elas estão com medo, e precisam abraçar cegamente a esperança de que Obama irá solucionar todos os problemas. Vivemos na era da esperança, e como disse Baltazar Gracian, “a esperança é a grande falsária da verdade”.
E eis aí o segredo da minha análise acertada, tanto no caso de Obama quanto do PT de Lula no Brasil: não me deixo levar pela esperança, pela retórica, pelas promessas, pelos discursos bonitinhos, pois não vivo no mundo da estética, e sim no mundo da verdade, dos fatos.
E revelo aos leitores um segredo ainda maior das minha análises: se o sujeito for de esquerda, basta apostar contra. Até hoje essa tática se mostrou infalível, pois a esquerda é, por excelência, aquela que vive no mundo das palavras bonitas, monopolizando as boas intenções, mas nunca consegue entregar bons resultados. O estatismo não funciona!
Fiuza fala dos “gigolôs da bondade” no “império dos oprimidos”, e é exatamente isso. Sempre que alguém surgir bancando o representante dos pobres e oprimidos contra as elites ricas, e sugerindo mais estado para salvar as tais “minorias”, desconfie. Você estará certo de se mostrar cético em 100 de cada 100 vezes. Não tem erro!
Se é de esquerda, fala coisas belas sobre os pobres e as minorias, e defende mais estado como instrumento, pode ter certeza de que fará um péssimo governo e deixará como legado mais pobreza ou prejudicará as próprias minorias.
Pronto, o leitor agora está de posse do meu grande segredo. Eu sempre vou contra a esquerda. E até hoje isso nunca falhou…
Rodrigo Constantino
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