O cineasta José Padilha tem escrito textos com várias críticas à esquerda brasileira. Isso fez com que ele fosse confundido com um anti-esquerdista por alguns. Mas, no fundo, Padilha continua sendo um esquerdista mesmo, como 99,9% dos cineastas brasileiros. Só que ele é da esquerda “fofa”, aquela que adora Marcelo Freixo do PSOL, e prega a ética acima da ideologia.
Em texto publicado hoje no GLOBO, Padilha afirma que a derrota da esquerda para um representante da “extrema-direita” se deveu ao apego a Lula, apesar de todos os escândalos de corrupção. Em suma, a esquerda abandonou a ética em nome da ideologia, e isso lhe custou caro. Diz o cineasta:
Dilma chegou em quarto para o Senado. Haddad, simulacro de Lula, perdeu para um candidato com enorme índice de rejeição. Boulos teve 0,5% dos votos. Freixo, que também colou em Lula, teve votos. Mas foi um fenômeno carioca, resultado do combate às milícias. O PSOL do Rio, anticorrupção, teve sucesso. Já o PSOL nacional sucumbiu. A Lava-Jato devolveu, fisicamente, R$ 1,5 bilhão para a Petrobras, e a Petrobras pagou US$ 2,5 bilhões aos procuradores americanos. Se não houve o petrolão, de onde veio este dinheiro? E por que o acordo na Justiça americana?
Teremos um radical de direita na Presidência porque a esquerda, acreditando que Lula era a única possibilidade de se manter no poder, optou deliberadamente em pôr a ideologia antes da ética. Alertei meus amigos marxistas sobre o erro que cometiam. Afinal, o dinheiro que o PT roubou era do mesmo eleitor que conviveu com a segurança pública e com os sistemas educacional e de saúde que o PT não consertou em 12 anos. Em outras palavras: a esquerda chamou o eleitor de otário, e colheu o preço desta afronta nas urnas. Para deixar claro que não ia levar desaforo para casa, a maioria dos brasileiros não apenas derrotou o PT, como escolheu a extrema direita para fazê-lo. O que o eleitor disse com esta escolha? Disse que coloca a ética antes de ideologia, mesmo que isto resulte em autoritarismo. Uma mensagem indigesta, mas inegável.
[…]
Para piorar, a esquerda resolveu fingir que o apoio de Lula e do PT às ditaduras de Cuba e da Venezuela era desimportante. Eu, que filmei na Venezuela e tenho amigos por lá, sei quão cínica foi esta opção… Ao insistir numa tese facilmente refutável, a esquerda abriu mão do único discurso que poderia eliminar Bolsonaro da contenda: o fato de ele ser inaceitável por conta de suas opiniões a respeito dos direitos humanos e das liberdades civis. Ciro poderia ter feito este discurso. Lula e o PT, jamais. A esquerda optou por Lula, e traiu Ciro miseravelmente.
O que a esquerda precisa fazer para resistir a um possível autoritarismo de Bolsonaro? Primeiro, abandonar de vez o PT, irremediavelmente maculado pela corrupção e pelo PMDB. Depois, pôr a honestidade antes da ideologia, assim como fez o eleitor. E, finalmente, se opor a qualquer autoritarismo, incluindo o de países socialistas. Se isto não acontecer, mais uma vez, como disse Espinosa, a esquerda lutará pela escravidão pensando que está lutando pela liberdade.
Padilha até diz coisas razoáveis, mas o que ele deseja é salvar a extrema-esquerda em vez de admitir que ela representa e sempre representou exatamente isso: um discurso hipócrita em prol dos mais pobres para garantir poder e privilégios aos seus representantes. Se a esquerda abandonar os países socialistas autoritários, o que sobra? Se a esquerda rejeitar a corrupção, qual experiência esquerdista merece crédito?
O esquerdismo radical é justamente colocar a ideologia acima de tudo, principalmente da ética. A “ética” dos socialistas sempre foi tudo pela revolução, pelo partido, pelo poder, já que seus “nobres fins” justificam quaisquer meios. Roubar, matar, adotar um governo despótico, tudo isso é aceitável para a esquerda radical em nome de um “mundo melhor”.
Se a esquerda abandonar isso, como quer Padilha, então ela deixa de ser marxista, revolucionária, esquerda radical. Seria uma esquerda tucana, que para essa turma do Padilha é considerada… direita!
E vale notar que mesmo a esquerda americana democrata tem adotado cada vez mais um discurso radical, parecendo até o PSOL. Ou seja, em vez de o PSOL que Padilha admira ficar mais parecido com o partido que já teve JFK como líder, é o Partido Democrata que se mostra mais e mais semelhante ao PSOL de Freixo. A esquerda tem se radicalizado no mundo todo, eis o lamentável fato.
Quando Padilha critica a esquerda por cerrar fileira com Lula e o PT, mas defende, em nome da ética e dos direitos humanos, alguém como Ciro Gomes, fica claro que estamos diante de um esquerdista incurável. Ele pode até bancar o “isentão”, que até critica o PT. Mas ainda não compreendeu a essência da esquerda radical. Será apenas seu inocente útil, pronto para fazer campanha para o próximo Lula…
Rodrigo Constantino
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