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Rodrigo Constantino

Rodrigo Constantino

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

As “Tias do Zap” e a “revolução” da terceira idade

Virou motivo de chacota o vídeo de uma patota, a maioria formada por idosos, marchando na manifestação deste domingo em direção a uma estátua da loja Havan, do bolsonarista Luciano Hang. Em outro local, velhos jogavam tomates num poster com a imagem de Gilmar Mendes e Dias Toffoli.

O youtuber bolsonarista Bernardo Kuster, porém, destacou a relevância das "tias do Zap" no movimento dessa direita populista:

Fábio, "o colecionador", ironizou em cima de um comentário do humorista Joselito Muller:

A brincadeira, porém, esconde um fenômeno mais relevante, e que merece, sim, análise: a crescente participação dos mais velhos na polarização política. Os idosos não deveriam ser os mais prudentes, por definição? Aqueles que pedem cautela, que usam toda a experiência de seus cabelos brancos para rechaçar soluções mágicas, apressadas, utópicas, revolucionárias? O que está acontecendo, então?

Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que há motivos de sobra e legítimos para estar revoltado. Após décadas de impunidade, e o fracasso retumbante do petismo, muitos encontraram novas forças para manter as esperanças com a Lava Jato e Sergio Moro. Ver as tentativas de asfixiar a mais bem-sucedida operação de combate à corrupção é algo que deveria mesmo gerar indignação, em qualquer faixa etária.

Mas não é só isso. Esta geração que tem entre 60 e 80 anos hoje era a juventude dos revolucionários anos 1960. Imersos naquela contracultura rebelde, do "é proibido proibir", da "juventude transviada", aqueles jovens envelheceram, mas o vácuo de valores, em muitos casos, permaneceu, assim como a predisposição para movimentos revolucionários.

Caetano tem 77 anos, Gil também, Chico Buarque tem 75. Quando eu era uma criança, um idoso com quase 80 anos jogava carteado com os vizinhos ou frequentava a missa. Hoje são ainda os "rebeldes sem causa", que buscam uma ideologia para viver, e contam com as redes sociais como instrumento. Para cada Chico petista, haverá um antípoda bolsonarista.

E aqui mora o cerne da questão: em muitos casos se trata da busca por um sentido para a vida. As religiões políticas nascem da transferência do natural sentimento religioso da esfera da metafísica para a esfera política. Sai Deus e entra o "nosso guia" ou o "mito". Ou seja, é quando passam a encarar a política como o campo para a redenção que surgem os problemas do fanatismo ideológico.

O enfraquecimento das religiões na era secular, assim como o papel cada vez menos relevante das avós nos cuidados dos netos - hoje quase toda classe média tem uma babá, que efetivamente cria os filhos - faz com que essas idosas se sintam desamparadas, entediadas, sem muito propósito. Os maridos normalmente encontram no futebol uma válvula de escape. Elas mergulham na política, compartilhando sites obscuros, teses conspiratórias, e tentando derrubar ministros. Adrenalina pura!

Estou generalizando, claro, e sendo injusto com muitos, não tenho dúvida. Mas toda análise sociológica é uma generalização. O ponto importante é que a presença maciça desses idosos no debate político das redes sociais tem gerado mais, não menos polarização. Justamente porque aqueles que deveriam ser os mais prudentes e calmos se mostram, muitas vezes, os mais raivosos e radicais. É a infantilização da terceira idade, talvez?

Devemos buscar alguma explicação, alguma teoria para o fenômeno. E acredito que essa fundação em pilares frágeis e fluidos de uma geração mergulhada na contracultura explica parte do fenômeno. A velhinha moderna não quer mais saber de tricotar, de levar ao padre suas fofocas do bairro ou de jogar carteado. Ela não é tão "careta" assim. Ela quer "salvar a nação", e tem o WhatsApp em mãos como arma, onde encontra inúmeras outras guerreiras similares.

Dispara a mensagem que acabou de receber de uma fonte bem questionável, com alguma manchete chamativa, e pronto: sente-se mais importante. Se for à marcha pelo impeachment, então, e lançar alguns tomates nos safados, além da interação social, alimenta a sensação de estar fazendo sua parte pela mudança do Brasil.

É compreensível e até legítimo, claro. Mas não podemos deixar de apontar para um efeito perverso disso, que é justamente o grau crescente de polarização e radicalismo nos debates políticos das redes sociais. Talvez frequentar os bingos seja uma alternativa melhor mesmo, do ponto de vista hedonista; sem falar de passar mais tempo com os netinhos e com Deus, a verdadeira solução conservadora...

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