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Alegria de patriota dura pouco mesmo. Ainda festejando a vitória do libertário Javier Milei na Argentina, contra todo o sistema peronista e os comunistas do Foro de SP, eis que todos fomos pegos de surpresa com a notícia triste da morte do empresário Clériston Pereira da Cunha, um dos presos do 8 de Janeiro que morreu nesta segunda-feira (20) no Complexo Penitenciário da Papuda depois de sofrer uma convulsão seguida de parada cardíaca.
Com sérios problemas de saúde, ele tinha parecer favorável do Ministério Público Federal para ser solto desde o dia 1° de setembro. A única pendência era a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para conceder a liberdade provisória.
Eduardo Girão (Novo-CE), senador responsável pela iniciativa da homenagem a Cleriston no Parlamento, destacou que o detento sequer participou dos ataques aos prédios públicos, só buscando abrigo quando as bombas de efeito moral foram lançadas. “Culpados devem ser punidos, mas com culpa identificada e individualizada. Mas todos são tratados como terroristas”, disse.
Girão expressou a sua indignação com o fato de o pedido ter ficado parado por dois meses e meio na mesa de Alexandre de Moraes, considerando-o algo “estarrecedor”. “Como é que a pessoa bota a cabeça no travesseiro e dorme depois de uma situação dessa?”, protestou. Pois é: a única explicação é total falta de empatia pelo próximo.
A advogada e fundadora da Associação dos Familiares e Vítimas do 8 de Janeiro (Asfav), Gabriela Ritter, disse que o ministro Alexandre de Moraes, demais ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e a Procuradoria-Geral da União (PGU) precisam ser responsabilizados pela morte do empresário Cleriston Pereira, ocorrida nesta segunda-feira (20) durante banho de sol na Papuda. Ela está certa.
A morte de Clériston é um homicídio culposo por omissão, sabem os juristas. É inquestionável a responsabilidade da Administração Pública. Se houvesse o devido processo legal, o caso receberia tarja de réu preso com trâmite prioritário. Juiz e promotor, no primeiro grau, respondem sempre em casos assim. Como disse um jurista conhecido meu:
Se tivesse sido observado o devido processo legal essa morte poderia ter sido evitada. Se ele tivesse morrido em casa não haveria o problema da omissão culposa. O fato é que ele morreu e enquanto estava sob guarda INDEVIDA do Poder Público.
Que o Brasil virou uma ditadura, muita gente já se deu conta. Temos parlamentares presos por crime de opinião, apesar da imunidade material e até da graça presidencial. Temos jornalistas perseguidos, censurados, com contas bancárias congeladas e até passaportes cancelados, isso sem qualquer indício de crime. Temos presos políticos, arrastados para uma "culpa coletiva" inadmissível nas leis e pela acusação esdrúxula de atentar contra o Estado de Direito e a democracia. E agora temos um morto.
Até quando, Brasil? Os principais jornais do país sequer estamparam como manchete em suas capas a notícia trágica da morte de Clériston. É como se sua vida não valesse nada para esses veículos de comunicação, que são cúmplices da ditadura, que ajudam na narrativa absurda de golpe antidemocrático para blindar ministros supremos que agem à margem das leis.
Onde estão as ONGs dos Direitos Humanos também?! O silêncio ensurdecedor dessa turma diz muito. Como Paulo Polzonoff resumiu: "O fato de a morte de Cleriston não estampar a capa de todos os jornais na manhã desta terça-feira é um sinal, mais um, da nossa degeneração moral. A vida não vale mais nada. A única coisa que vale é a ideologia". Ideologia, poder, grana. Essa gente vendeu sua alma ao Diabo!
No dia seguinte à morte do preso político, eis que a Operação Lesa Pátria entra em ação novamente e a Polícia Federal prende suspeitos de "incitar atos golpistas do 8 de janeiro". Até quando esses policiais vão agir como capangas de uma ditadura? Vão acatar as ordens mais bizarras e depois alegar que estavam apenas cumprindo ordens? Isso tem um precedente histórico vergonhoso, não?