O Estadão trouxe uma reportagem neste domingo sobre o atrito crescente entre partidos e movimentos de renovação na política. "Grupos surgidos nos últimos anos com o objetivo de renovar ou “qualificar” a política se tornaram influentes a ponto de manter e orientar uma verdadeira “bancada” no Congresso e possuir orçamento superior ao de partidos tradicionais", começa a matéria. "A ascensão desses movimentos ocorreu em meio ao desgaste da classe política e das siglas partidárias. Essa atividade, porém, entrou na mira de líderes na Câmara, que planejam aprovar uma lei que limite doações e combata a infidelidade partidária", continua.
Com diferentes perfis e bandeiras, movimentos como RenovaBR, Agora!, Acredito, Livres, MBL e Raps ajudaram a eleger 54 políticos em 2018, sendo 30 no Congresso. Entre eles, deputados que hoje pedem aval da Justiça para deixar os partidos. Juntos, informam ter orçamento de R$ 29,6 milhões, superando os repasses anuais do Fundo Partidário a partidos como PSOL, Podemos, SD e Novo. O MBL não divulgou seus dados.
Minhas fontes, porém, alegam que seu orçamento é o menor de todos, o que chama a atenção, uma vez que a produtividade do MBL parece bem maior, com um alcance orgânico e atuação parlamentar bem mais visíveis. A mídia tenta alavancar o que pode nomes como o de Tabata Amaral, mas Kim Kataguiri, por exemplo, costuma fazer muito mais na prática.
O MBL atribui essa preferência por outros movimentos ao "progressismo" da elite culpada, que banca por meio de ricaços esses demais grupos, ou então oportunismo mesmo, pois empresários grandes dificilmente são capitalistas defensores do livre mercado. O MBL atrai a classe média, enquanto movimentos "progressistas" falam ao andar de cima, na Faria Lima ou no Leblon.
Presidente do Solidariedade, o deputado Paulinho da Força considera que os movimentos de renovação política promovem uma cortina de fumaça para burlar a lei eleitoral e incentivar a infidelidade partidária. “Agem como partidos paralelos. Pregam a destruição dos partidos”, afirmou.
Talvez fosse o caso de perguntar porque representam essa ameaça. É verdade que, em parte, esses movimentos surgiram para driblar o fim do financiamento privado de campanha. Empresários investem em candidatos por meio de cursos, de forma indireta. Mas o grosso dos movimentos apareceu para tentar melhorar a qualidade da política mesmo, e isso é totalmente legítimo. Não adianta quebrar o termômetro, pois a febre não vai desaparecer. A população está um tanto cansada de partidos que mais parecem siglas de aluguel, negócios privados bancados por recursos públicos, sem qualquer coerência programática e dominados por caciques da velha política. E isso precisa mudar.
Acho importante para a democracia representativa contar com partidos sólidos. Não 30, claro! Mas uns 3 a 5, que representem efetivamente distintas visões de mundo, faria todo sentido. É perigoso o discurso da antipolítica, que demoniza os partidos, pois isso abre espaço não só para grupos ideológicos, mas também para messias salvadores da Pátria, num culto personalista e populista.
Que essa concorrência com os movimentos sirva para fortalecer e melhorar os nossos partidos, portanto. Seria um bom efeito dessa renovação.