O bilionário Chamath Palihapitiya, um dos donos do time Golden State Warriors da NBA, disse numa entrevista esta semana que ninguém liga de fato para a situação dos uigures na China. Trata-se de uma minoria muçulmana que foi confinada em campos de concentração pelo Partido Comunista Chinês, mais de um milhão de pessoas que vivem sob a condição de escravos em pleno século 21.
Chamath Palihapitiya fez os comentários em um episódio de seu podcast “All-In” que foi lançado no sábado. Durante o podcast, o co-apresentador de Palihapitiya, Jason Calacanis, um empresário de tecnologia, elogiou as políticas do presidente Biden na China, incluindo o apoio de seu governo aos uigures, mas observou que as políticas não o ajudaram nas pesquisas. Palihapitiya respondeu: “Ninguém se importa com o que está acontecendo com os uigures, ok. Você fala sobre isso porque realmente se importa, e acho legal que você se importe – o resto de nós não se importa”.
Em seguida, o bilionário disse que isso está abaixo de sua linha de corte sobre prioridades, e mencionou, entre as coisas com as quais ele realmente se importa, a questão das mudanças climáticas. Eis a típica mentalidade "progressista": abraça - da boca para fora - uma causa abstrata, como o "aquecimento global", enquanto despreza o indivíduo de carne e osso sendo massacrado ao lado.
Palihapitiya ainda adotou a linha tradicional de narrativa da esquerda, cuspindo na América que o enriqueceu, alegando que não é correto sair condenando outras nações com moralismo enquanto há tanto problema doméstico. Ou seja, já que os Estados Unidos não são perfeitos, então não é adequado um americano apontar o dedo para outros, nem mesmo quando se trata de um regime tirânico opressor como o chinês.
No fundo, isso vai ao encontro da típica postura democrata, de desprezar o legado americano e passar pano para regimes realmente nefastos pelo mundo. Especialmente quando se trata de um regime que ajuda a enriquecer a elite americana! Não é trivial o relacionamento com a China, uma vez que a dependência é cada vez maior. Mas o pragmatismo deveria ter limites, e a clareza moral para denunciar absurdos jamais pode ser perdida.
Houve um tempo em que a causa para sinalizar falsa virtude era "salvar as baleias", depois virou "salvar o Tibete". Hoje é o "aquecimento global". Bilionários com uma pegada de carbono enorme e seus jatinhos particulares se sentem as melhores almas do planeta só por falar em "mudanças climáticas", ignorando inclusive o papel de vilão da própria China nisso. Mas quanto às minorias transformadas em escravos na China, silêncio. Não podemos incomodar nossos "aliados".
Ainda mais na NBA, que está de olho num mercado multibilionário chinês. Alguns jogadores chegaram a elogiar abertamente a China, enquanto outros sofreram pressão para interromper suas críticas ao regime e a defesa da liberdade em Hong Kong. A NBA não quer atrair o tipo de reação que recebeu em 2019, quando Daryl Morey, então gerente geral do Houston Rockets, tuitou em apoio aos manifestantes de Hong Kong. A China removeu jogos da NBA de canais de mídia estatais. LeBron James, talvez a maior estrela da liga, enfrentou uma reação generalizada quando pareceu ficar do lado da China, dizendo que Morey "não estava informado sobre a situação em questão" em Hong Kong.
A China parece ter sequestrado intelectualmente a elite americana. São bilhões de motivos para efetivamente não ligar para o destino dos uigures, ou do povo de Hong Kong, ou do Tibete, ou de Taiwan. Melhor concentrar esforços só na causa climática mesmo - e sem mencionar que a China é o maior responsável pela emissão de CO2 na atmosfera. É o pragmatismo imoral dos bilionários, que precisam amealhar mais alguns bilhões já que ninguém é de ferro...
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