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O bilionário Michael Bloomberg oficializou sua pré-candidatura pelo Partido Democrata, e deve ter prejudicado um pouco a qualidade do sono do presidente Trump. Trata-se, afinal, de um nome forte para disputar com o republicano as eleições de 2020.

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Trump tem um bom legado para mostrar, mas sua personalidade afasta muita gente, em especial as "mães dos subúrbios". Por conta desse estilo um tanto tóxico, vários analistas sempre foram da opinião de que o principal ativo democrata contra Trump seria a moderação.

A arma democrata é mostrar que Trump é instável e imoral; a arma de Trump é mostrar os resultados econômicos e a loucura "progressista". Por isso o sonho de Trump é disputar com Bernie Sanders ou Elizabeth Warren, ambos radicais em suas propostas quase socialistas (no caso de Sanders totalmente socialistas).

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Joe Biden, o ex-vice de Obama, já representaria um obstáculo maior, por ser visto como moderado. Mas Biden não tem energia, e Trump é mestre em tocar na ferida do adversário com seus apelidos jocosos. O "sleepy Biden" captura esse cansaço, a velhice do oponente, que apesar de ter idade próxima ao próprio Trump, parece muito mais velho.

Fora isso, o caso com a Ucrânia, que os democratas tentam usar para impeachment de Trump, reacendeu o escândalo de corrupção de Biden, ao usar sua influência de vice-presidente para proteger seu filho. Ou seja, o tiro que os democratas deram para matar Trump vai no máximo machuca-lo, mas pode ter liquidado de vez Joe Biden.

É nesse contexto que entra Michael Bloomberg. Ele tem experiência administrativa como gestor, não só com enorme sucesso em sua empresa, mas no setor público, como prefeito de Nova York. Ele tem "deep pockets", ou seja, fundos inesgotáveis para bancar sua campanha, sem precisar pedir dinheiro a ninguém, com uma fortuna estimada em $ 50 bilhões. E ele é moderado, tanto que foi prefeito como republicano.

O risco para os democratas é Bloomberg se sentir tentado a acender velas demais para a base militante do partido, cada vez mais radical em seu esquerdismo. O magnata já mudou de opinião sobre sua política de "stop-and-frisk", por exemplo, que dava mais autonomia para as autoridades pararem suspeitos, o que ajudou a reduzir a criminalidade, mas os "progressistas" alegam que era uma medida "racista", pois focava na população negra e hispânica.

Bobagem, claro, e Bloomberg sabe disso. Oferecer mais ordem beneficia justamente os negros e hispânicos mais pobres que são vítimas em comunidades dominadas pelo crime. Mas Bloomberg, para jogar para a plateia identitária, já admitiu que a política era sim preconceituosa. Se ele seguir nesse caminho, tornando-se mais e mais radical para agradar figuras como Alexandria Ocasio-Cortez, vai sacrificar sua imagem de moderado.

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Mas é inegável que ele representa uma ameaça concreta para a reeleição de Trump - a maior até aqui, em minha opinião. Era justamente o que os democratas precisavam fazer para ter chances. E Bloomberg vai contar com o apoio da mídia, claro, a começar por sua própria empresa, que decidiu não investigar os democratas, só os republicanos. Eis a "imparcialidade" da imprensa...

Bloomberg ainda tem um longo caminho pela frente, precisa convencer os delegados democratas para vencer as primárias, e depois precisa derrotar Trump, um candidato poderoso, disputando sua reeleição em meio ao bom momento econômico do país. Ele já teria gasto algo como $100 milhões em propagandas contra o atual governo, e vai se vender como o salvador da Pátria, lutando contra um perigo para a sobrevivência da democracia americana.

Uma mensagem que ecoa nas elites "progressistas", mas se comunica pouco com o povo. Se será suficiente para sua vitória, o tempo dirá. Mas o fato é que Trump deve ter sentido o calor da concorrência de peso, e os republicanos cometeriam um grave erro se adotassem a postura arrogante do "já ganhou".