Importante a mensagem essencial do presidente Bolsonaro em entrevista concedida ao Estadão, em que afirma que está 100% com Paulo Guedes e não há "plano B" para a economia. Eis um trecho:
A tendência natural do ser humano é o poder. Alguns têm obsessão. Tem grupos aqui, acolá, que se preparam já para 2022 e ficam torcendo para o quanto pior, melhor. Só que o pior tem um limite. O próprio Paulo Guedes (ministro da Economia) diz que a gente não vai ter segunda chance. Com uma dívida de R$ 4 trilhões que consome, segundo ele, um Plano Marshall por ano (o plano de ajuda econômica dos Estados Unidos a países europeus no pós-guerra). Estamos conseguindo reconquistar a confiança do mundo nessas questões. O Tarcísio (Freitas, ministro da Infraestrutura) está viajando há 15 dias para os Estados Unidos e a Europa, buscando investidores. A Tereza Cristina (Agricultura) fez um périplo pela Ásia. Não dá pra dar um cavalo de pau na economia. A economia é um transatlântico.
[...] A Caixa está dando boas notícias, diminuindo os juros do cheque especial, sem interferência minha. Eu poderia interferir na Caixa. Eu não posso interferir é no Banco do Brasil, porque não pode, teoricamente né? Posso interferir trocando o presidente (risos), mas longe disso aí... A Dilma interferiu em 2012 e baixou os juros na marra. Essas instituições ganharam clientes, mas perderam lucro. Não sou economista, mas acho que os lucros deles vão aumentar. Então, o quadro está aí. Não tem plano B. A economia é 100% com o Guedes. Não discuto. É 100% com o Guedes. Dou sugestões às vezes, de vez em quando eu tenho razão, ele diz que vai tomar providência. O que eu transmito a ele é o anseio popular. Não pego na rua mais, não posso estar na rua, mas pego nas mídias sociais.
Isso é música para os ouvidos de economistas sérios, liberais, que entendem que qualquer guinada heterodoxa seria um desastre.
Entende-se a angústia do governo, a pressão da classe política, em busca de resultados econômicos mais rápidos. Mas certas coisas levam tempo mesmo, e o governo segue no rumo correto, com reformas estruturais.
É preciso levar em conta também o esforço de consertar o enorme estrago deixado pelo petismo. Para endireitar as estatais, e desfazer as lambanças do BNDES, o governo atual tem adotado uma política anticíclica, que prejudica o PIB no curto prazo.
Mas planta as sementes para um crescimento mais sustentável à frente, com pilares mais sólidos. Não é mais voo de galinha, de baixo alcance e atabalhoado, mas sim um crescimento sustentável. E para preparar o terreno para isso é preciso ter paciência.
O editorial do Estadão também defendeu essa linha, rejeitando as soluções "mágicas" dos heterodoxos, os "terraplanistas" da economia:
A demora do Brasil em reencontrar o caminho do crescimento econômico e da geração de empregos tem estimulado a retomada de um debate que, para o bem do País, já deveria estar morto e enterrado. Acadêmicos e políticos vêm se sentindo à vontade para sugerir que o problema do esquálido desempenho da economia se deve à austeridade fiscal – ou seja, bastaria abrir as burras do Tesouro para o Brasil retomar o crescimento.
Esse tipo de pensamento mágico dominou a era lulopetista, marcada pelo bordão “gasto é vida”, que definiu de forma indelével a passagem de Dilma Rousseff pela Presidência. Dois anos de recessão causados pelo desvario daquele governo deveriam ter servido para desmoralizar de vez qualquer um que ousasse receitar o veneno da gastança como remédio para as dores do baixo crescimento brasileiro.
Infelizmente, a angústia causada pela lentidão da retomada da economia está sendo usada como pretexto pelos doutores do gasto público para legitimar o argumento segundo o qual o Estado tem o dever de imprimir dinheiro para cumprir o papel de propulsor do desenvolvimento. Não por acaso, muitos dos que se alinham a esse pensamento acusam o governo de inventar o déficit da Previdência para justificar uma reforma que, em sua visão, destitui os pobres do direito à aposentadoria. O pacote da irresponsabilidade é completo: o Estado não deve ter limite de gastos – e, diante do inevitável estouro das contas, é só dizer que esse negócio de déficit simplesmente não existe.
Não há diferença substancial entre esse pensamento e aquele que advoga que a Terra pode ser plana. Em ambos os casos, os discursos são uma tentativa de desacreditar a ciência e os fatos, com o objetivo de autenticar narrativas “alternativas”.
Não há mágica em economia, e é uma falsa dicotomia esse papo de ter um pouco mais de inflação para permitir maior crescimento. É crucial apostar na agenda reformista liberal do ministro, e que bom que o presidente parece disposto a isso. Não dá para dar um cavalo de pau mesmo. É preciso ter persistência no caminho certo.
A pressa é inimiga da perfeição, ou mesmo do resultado sustentável, duradouro. Temos que evitar as trilhas para o sucesso, que costumam ser perigosas e levar ao abismo. Na democracia, infelizmente as mudanças levam tempo mesmo, mas a alternativa é temerária. Ou alguém acha mesmo que o modelo chinês é bom? Querem trocar a lenta evolução democrática por um "déspota esclarecido", que amanhã poderá se voltar contra o bom senso?
A pressão não deve recair sobre o ministro ou o presidente, para que relaxe o teto dos gastos e abandone a ortodoxia liberal. A pressão deve ser no Congresso, para que aprovem as reformas propostas pelo governo. Não há caminho saudável fora da disciplina fiscal.
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