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Rodrigo Constantino

Rodrigo Constantino

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

Bolsonaro não sabe construir pontes

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A agenda vencedora nas urnas, que levou Bolsonaro ao poder, é uma agenda virtuosa: reformas liberais na economia, guinada conservadora nos costumes. É o que o Brasil precisa. Claro que não é fácil passar pelo filtro parlamentar, ainda mais sem mensalão ou presidencialismo de coalizão, com divisão feudal dos ministérios. Mas Bolsonaro tentou.

Após vários erros, veio uma pandemia do nada e colocou quase tudo a perder. O software liberal da economia teve de ser desligado e o estado passou a distribuir vales, injetar liquidez nos mercados, garantir salários e estancar as privatizações. Medidas temporárias e emergenciais, compreende-se. O risco são os chacais oportunistas usarem o clima para uma mudança de paradigma.

A presença de Paulo Guedes no governo, resiliente, é o selo de garantia de que aventuras desenvolvimentistas serão descartadas. Mas por conta das confusões geradas com a saída de Sergio Moro e o risco crescente de impeachment, Bolsonaro procurou guarida no centrão fisiológico do baixo clero, e a dentada nas reformas será inevitável.

Até aqui, vida que segue. Quem torce pelo Brasil entende que não há perfeição em política, que os inimigos do governo são oportunistas perigosos, e que é necessário realismo para escolher o menos pior. Mas Bolsonaro não ajuda. A típica mentalidade binária militar, que enxerga apenas aliados plenamente fiéis ou inimigos mortais, faz com que o clima em torno do presidente seja cada vez pior.

A saída de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde não foi o fim do mundo, a "exoneração da ciência", como ele mesmo colocou de forma extremamente arrogante. Ninguém fala em nome da ciência em meio a tanto desconhecimento com o novo vírus, e há divergências legítimas entre os especialistas. Até porque os especialistas de saúde olham somente uma árvore, enquanto a complexidade da coisa se alastra por toda a floresta. O impacto econômico, por exemplo.

Mas a forma com a qual Bolsonaro se livra de seus até então aliados em nada ajuda. Todos viram basicamente inimigos. E a forma importa! Governar, afinal, é tentar atrair uma base de apoio em torno de uma agenda, é contemporizar, ceder, focar no prioritário, unir e persuadir. Não pode ser clima de guerra permanente, tratando como traidor todo aquele que diverge pontualmente.

Chegamos, então, a exoneração de Nelson Teich. Duas trocas no Ministério da Saúde em meio a uma pandemia? Não, isso não pode ser considerado razoável por ninguém! Na melhor das hipóteses, temos um presidente incapaz de acertar na escolha dos seus ministros. E isso gera instabilidade enorme, desconfiança geral, clima horrível. Quem quer trabalhar num ambiente desses? A rotatividade intensa é sempre um problema.

É legítimo o presidente condenar o isolamento radical, como é legítimo ele achar que o uso da hidroxicloroquina deve se dar antes, ainda em fase ambulatorial. Mas não é aceitável ele exigir que todos pensem exatamente como ele! Isso é totalitário, típico de quem demanda um pensamento único e hegemônico.

Não faz qualquer sentido achar que existe uma mega conspiração global contra você, o que é paranoia pura. Autoridades do mundo todo estão batendo cabeça sobre o que fazer, muitos tentando acertar, e ninguém tem a resposta. Por isso mesmo é o momento de maior humildade, de diálogo, de debates maduros e adultos, não de implodir tantas pontes e sacrificar tantos bodes expiatórios em praça pública, para o regozijo da plateia radical.

A quantidade incrível de antigos aliados que se tornaram desafetos ou adversários de Bolsonaro deveria levar os defensores do presidente a uma pausa para refletir, ao menos: será que todos são mesmo uns traidores, vendidos e comunistas, que Bolsonaro não foi capaz de perceber antes, ou será que essa postura do confronto permanente e da lealdade canina levam a uma impossibilidade de agregar em torno de si um time com divergências naturais e até saudáveis?

Cada vez mais isolado, Bolsonaro será mais e mais dependente do que há de pior no Congresso, para sobreviver. E o custo será bem alto para o Brasil: o sacrifício de nossas reformas!

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