O presidente Bolsonaro deveria seguir o conselho de Michel Temer e parar de vez com essas suas saidinhas. Ele pode se sentir injustiçado pela mídia, faz parte. Pode desejar rebater, normal. Mas faz isso da pior forma possível, perdendo a calma, a razão, e atacando jornalistas de maneira inaceitável.
"Cala a boca! Cala a boca, não te perguntei nada!" Essa grosseria pode levar a claque ao delírio, mas só afasta os moderados, gera a percepção de que o presidente perdeu o equilíbrio. Ele tinha que deixar outros rebaterem em seu lugar. Assim é só mancada!
Entendo que parte do seu eleitorado vibra com essa postura: "votei nele para isso mesmo", repetem. Adoram o conflito permanente, os ataques aos inimigos, reais ou imaginários. Mas, como disse, fora da bolha isso significa perda de apoio. É tóxico.
Claro que o povo em geral cansou do político estilo engomadinho, com fala mansa ensaiada e falsa. A espontaneidade de Bolsonaro é parte de seu trunfo. Mas pode ser seu calcanhar de Aquiles também, se exagerada.
O ataque à imprensa tradicional é parte do fenômeno Bolsonaro, assim como no caso de Trump aqui nos Estados Unidos. O presidente americano também vive denunciando as fábricas de Fake News, as distorções, mentiras, exageros da CNN e companhia. Mas não o vejo exaltado ao ponto de mandar um repórter calar a boca dessa maneira.
Bolsonaro precisa calibrar melhor o tom, para não soar destemperado. Mesmo assumindo a premissa de que ele tem razão no conteúdo, de que as manchetes sobre as trocas na Polícia Federal não lhe fazem justiça, sua forma de reagir só reacende a luz de alerta. Parece o ato de alguém desesperado.
É importante e saudável denunciar a torcida do contra feita por boa parte da mídia, expor seu viés ideológico. Faço isso desde sempre, e desde dentro da mídia, em todos os veículos por onde já passei. Mas faço isso com o intuito de melhorar a imprensa, não destruí-la ou substituí-la por sites obscuros e chapa-branca.
Vejam, por exemplo, o que fiz com uma famosa jornalista: expus por vários dias suas mensagens, apontando o viés escancarado, a torcida contra o governo, a seletividade e o silêncio ensurdecedor quando as suspeitas recaíam sobre tucanos. Ela foi tão exposta que resolveu entrar na Justiça para me calar!
Apontar o viés partidário da nossa imprensa é fundamental para protege-la, para torna-la mais transparente e plural. Mas há formas e formas de se fazer isso. Falta ao presidente inteligência emocional para lidar com a mídia.
Sua claque repete que isso é frescura de gente "prudente e sofisticada". Não é! É o mínimo de bom senso para entender que essa raiva toda trai ou uma preocupação real com o papel do jornalismo, por ter algo a esconder, ou um desejo autoritário de controlar a mídia.
O presidente deveria definitivamente acatar o conselho de Temer - e de tantos outros que querem que seu governo dê certo!
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião